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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Prêmio Luiz de Castro: vestígios que recontam o movimento de Pau de Colher
Ruínas da Residência de Romualdo. Crédito: Joaquim Neto.
O fio que entrelaça o pesquisador Marcelo Alves Ribeiro ao seu objeto de estudo, o Movimento do Pau de Colher, tem origem familiar, via tradição oral. No balanço da rede, a bisavó do arqueólogo, Ana Rosa, contava ao bisneto sobre o movimento desencadeado entre 1937 e 1938 no município de Casa Nova (BA). Ali, Ana Rosa plantava uma semente. Preservados pela memória da matriarca e repassados de uma geração para outra, os acontecimentos encontraram terreno fértil na mente do pesquisador: anos mais tarde, essas narrativas inspiraram o tema da sua dissertação, no âmbito do Mestrado em Arqueologia da Universidade Federal do Vale do São Francisco.
A pesquisa Arqueologia, paisagem e materialidades do Movimento do Pau de Colher (1937-1938) venceu o Prêmio Luiz de Castro Faria do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia federal vinculada à Secretaria Especial da Cultura e ao Ministério do Turismo. Orientado pelo professor e pesquisador Grégoire Andre Henri Marie Ghislain van Havre, o estudo foi vitorioso na Categoria II, Dissertação de Mestrado.
De acordo com a pesquisa, Pau de Colher apresenta similaridades com outros movimentos populares ocorridos entre o final do século XIX e início do século XX, como Guerra de Canudos (1893-1897), Guerra do Contestado (1912-1916) e Caldeirão (1932-1937). Motivadas por crenças do catolicismo, populações se articularam em torno de figuras de cunho messiânico, que propunham práticas e crenças coletivas a fim de almejar melhores condições de vida.O termo “Pau de Colher” identifica o povoado pertencente ao município de Casa Nova que, em 1937, recebeu seguidores do beato Senhorinho. Trata-se do mesmo nome de uma árvore muito comum na região. Utilizada na medicina popular, Pau de Colher também foi empregada como arma, que se tornou símbolo do movimento.
Diante da miséria e da carência de atuação estatal, tais movimentos messiânicos se alastraram em regiões do sertão nordestino. Alarmado, o Estado reagiu para sufocar essas manifestações. No período do governo de Getúlio Vargas conhecido como Estado Novo, Exército e forças policiais da Bahia, Piauí e Pernambuco reprimiram o Movimento do Pau de Colher. Em Casa Nova, permaneceu um rastro do embate: mortos, feridos e órfãos são consequências do ocorrido.
Os sobreviventes perderam não apenas membros da comunidade, mas também o próprio território. Ribeiro explica que Pau de Colher mudou bruscamente as relações sociais daquele período. Por medo, as pessoas abandonaram suas residências e buscaram refúgio nas caatingas. É o caso de Ana Rosa, sua bisavó. O deslocamento, contudo, não a fez esquecer suas raízes. Tanto o povoado quanto o movimento continuaram vivos na memória de sobreviventes e seus descendentes, bem como em registros bibliográficos, artísticos e documentais.
Peças de interesse arqueológico como moedas, estruturas residenciais, fragmentos de ossos e valas coletivas guiaram a pesquisa de Ribeiro para desembocar em um diagnóstico do que aconteceu no local, enquanto espaço criador de relações e tensões sociais. Ele avalia que a temática precisa se desdobrar em mais análises para dar conta do vasto cenário que compõem o fato histórico. “Sem exagero, diria que, desde que ouvi pela primeira vez a história de Pau de Colher, sempre quis saber mais a respeito”, conta o arqueólogo, que pretende dar prosseguimento ao estudo.Ribeiro enaltece a importância do Prêmio Luiz de Castro Faria para promover o reconhecimento e valorização das pesquisas científicas. “É gratificante para o pesquisador perceber que o seu trabalho poderá, em algum momento, fornecer subsídio enquanto fonte bibliográfica para outras pesquisas e não apenas ocupará espaço em um repositório institucional”, conclui.
Para mais detalhes, leia a pesquisa .
A dissertação “Arqueologia, paisagem e materialidades do Movimento do Pau de Colher (1937-1938)” foi um dos vencedores do Prêmio Luiz de Castro Faria 2020 na categoria dissertação de mestrado. Realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a premiação tem como objetivo reconhecer trabalhos científicos no campo do Patrimônio Arqueológico Brasileiro. Nos dias 29 e 30 de abril, o Iphan realiza as “Rodas de conversa com os vencedores do prêmio Luiz de Castro de Faria” com transmissão online.
*Fotos: 1) Joaquim Neto 2) Marcelo Alves 3) Joaquim Neto.
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Daniela Reis -
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