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ARTIGO CIENTÍFICO
Prêmio Luiz de Castro: Novas formas de fazer arqueologia no Rio Negro (AM)
Aquarela de Félix Rezende Tuyuca, situando a passagem da cobra canoa na pedra (lugarsagrado, casa de transformação) em Taracuá.
Berço de cultura ancestral construída pelos diferentes povos indígenas que ali vivem, a região do Alto do Rio Negro, no Noroeste Amazônico, é o cenário onde a pesquisadora Helena Pinto Lima desenvolve reflexões sobre a arqueologia e as formas de conhecimento. A pesquisadora propõe um novo olhar sobre a arqueologia tradicional a partir de suas experiências como professora e orientadora de estudantes indígenas.
As discussões são apresentadas no artigo “A prendizagem e pesquisa em perspectiva intercultural: reflexões de uma arqueóloga trabalhando no Rio Negro” , um dos ganhadores da categoria “Artigo Científico” na 8ª edição do Prêmio Luiz de Castro Faria, realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), por meio do Centro Nacional de Arqueologia (CNA).
Por uma nova arqueologia
No artigo, a pesquisadora Helena Pinto Lima, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), questiona o modo de pensar e construir a arqueologia, uma vez que a ciência ocidental não conseguiria abarcar a diversidade de saberes presentes no universo indígena. Um exemplo disso são os chamados “sítios arqueológicos”: para muitos pesquisadores são objetos de estudo, onde coletam informações e adentram sem maiores cuidados, chegando a danificá-los de alguma forma. No entanto, para os povos que habitam o Alto do Rio Negro, são lugares sagrados, repletos de histórias e grandes feitos ancestrais, que precisam ser respeitados e preservados.Assim, o trabalho aponta a necessidade de uma revisão do modo ocidental de fazer ciência, abrindo espaço de diálogo para outras formas de conhecimento, como o indígena. Para a arqueóloga, a ciência deve ir além da pesquisa em si: precisa considerar também os contextos sociais, a conservação dos espaços e da cultura em que ela se desenvolve. “Eu proponho uma abertura intercultural, de modo que a arqueologia se mostre sensível, engajada, que dialogue com os povos indígenas”, explica a pesquisadora.
Lugar de saberes
“A ciência pode ser mais ampla. Dentro da sociedade, a arqueologia deve ser um lugar culturalmente sensível e socialmente engajada." Helena Pinto Lima.
O artigo resulta da troca de saberes e vivências com estudantes indígenas do polo Tukano, na comunidade de Taracuá, município de São Gabriel da Cachoeira (AM), entre os anos 2015 e 2018. Nesse período, a arqueóloga lecionou no curso de Licenciatura Intercultural Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável, na Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Dentre as discussões propostas, está a preocupação de que as comunidades têm acerca da preservação dos lugares sagrados, que requerem conhecimento sobre a história e regras de comportamento por parte dos visitantes.
São Gabriel da Cachoeira é o município brasileiro que possui a maior predominância indígena: lá existem três línguas oficializadas e vivem 23 povos. A cidade integra a região do Alto do Rio Negro, uma área que abrange 45 povos indígenas e quatro países: Brasil, Colômbia, Guiana e Venezuela.
O local reúne um rico universo cultural que atravessa milênios: diferentes línguas, costumes e tradições se entrelaçam num grande mosaico multiétnico, em que as paisagens contam a história imemorial de origem desses povos. “É um lugar privilegiado para se trabalhar a arqueologia, pois apresenta histórias e informações que não se contrapõem, mas se colocam junto a outras formas de narrativa histórica, muito presentes no Rio Negro”, destaca a pesquisadora.
O artigo “ A prendizagem e pesquisa em perspectiva intercultural: reflexões de uma arqueóloga trabalhando no Rio Negro ” foi um dos vencedores do Prêmio Luiz de Castro Faria 2020 na categoria artigo científico. Realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a premiação tem como objetivo reconhecer trabalhos científicos no campo do Patrimônio Arqueológico Brasileiro. Nos dias 29 e 30 de abril, o Iphan realiza as “Rodas de conversa com os vencedores do prêmio Luiz de Castro de Faria” com transmissão online.
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