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MONOGRAFIA DE GRADUAÇÃO
Prêmio Luiz de Castro: as vozes da arqueologia munduruku
Vista para o rio Tapajós com barracão (Foto: Bruna Rocha)
Registrar a história do seu povo foi o que motivou o indígena Jair Boro Munduruku a cursar arqueologia na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). As vozes dos mais antigos e a cultura material dos munduruku foram as principais fontes da monografia de conclusão do curso em 2019. Intitulado “Caminhos para o passado: Oca’õ Agõkabuk e Cultura Material Munduruku”, o trabalho foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) com o Prêmio Luiz de Castro Faria no final do ano passado.
Criado em 2013, o Prêmio Luiz de Castro Faria prestigia pesquisas acadêmicas que contribuam para a preservação do patrimônio arqueológico brasileiro. Em 2020 foi a primeira vez que um indígena venceu o certame. Para Jair Boro Munduruku, a conquista traz visibilidade e reconhecimento à arqueologia indígena brasileira.
A partir de relatos dos anciãos munduruku e da pesquisa científica em campo, Jair Boro registrou como eles se relacionam com o território ao longo do tempo, costumes, objetos e locais sagrados. “As entrevistas foram realizadas na língua munduruku com os anciões que contaram sobre a nossa cultura do passado e a história antiga que estão guardadas na memória deles. Essa narrativa do meu povo trouxe vários motivos e o caminho ao passado para a arqueologia indígena”, destacou o pesquisador.
Nas conversas com os mais velhos, Jair Munduruku ouviu como eram produzidas as panelas, à base de argila. Colheu informações sobre o costume antigo de enterrar os familiares dentro da própria casa, além de fazer apontamentos sobre a variedade de materiais empregados nas construções das moradias.
Rio das Tropas
Em 2016, acompanhado do pesquisador Morgan J. Schmidt (à época, associado ao Museu Paraense Emílio Goeldi), Jair passou 12 dias na região do rio das Tropas. Na incursão entre as Terras Indígenas Munduruku e a Floresta Nacional do Crepori, no estado do Pará, divisa com Mato Grosso, o pesquisador identificou a existência de 11 sítios arqueológicos, oca’õ agõkabuk na língua munduruku.
Segundo o pesquisador, o conhecimento das pessoas que vivem sobre ou próximas aos sítios arqueológicos foi o que lhe permitiu identificar a grande quantidade de sítios e artefatos em tão pouco tempo. Cinco dos 11 sítios estão localizados na Terra Indígena Munduruku e outros seis na Floresta Nacional do Crepori (Flona Crepori). Nesses sítios foram encontrados fragmentos cerâmicos, montículos, machadinhos polidos e as colorações dos solos escuros como terra preta.
O levantamento na Flona Crepori, a princípio, não fazia parte do plano de estudo de Jair Boro. Foi incluído a partir de demandas da comunidade indígena, motivada pela necessidade de mostrar que aquele território era ocupado pelos antepassados deles e, portanto, eles precisam ser consultados para o licenciamento de projeto de infraestrutura que impacte a região. Além dos artefatos encontrados, a presença de plantas medicinais no local é mais um indício dessa ocupação.Pautado pelo respeito às tradições de seu povo, Jair Boro fez um levantamento não interventivo, ou seja, sem a coleta de material. Ele registrou e fotografou os artefatos encontrados.
“O registro arqueológico trouxe informações das ocupações antigas na região do rio das Tropas, e provas de que a Terra Munduruku e a Flona são áreas habitadas pelos munduruku há milhares de anos”, explica Boro.
Com o título “Caminhos para o passado: Oca’õ Agõkabuk e Cultura Material Munduruku”, a monografia de graduação foi uma das vencedoras do Prêmio Luiz de Castro Faria 2020. Realizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a premiação tem como objetivo reconhecer trabalhos científicos no campo do Patrimônio Arqueológico Brasileiro. Nos dias 29 e 30 de abril, o Iphan realiza as “Rodas de conversa com os vencedores do prêmio Luiz de Castro de Faria” com transmissão online.
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