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TESE DE DOUTORADO
Prêmio Luiz de Castro: a cerâmica Karib ao redor do mundo
Peças etnográficas de povos Karib
Tigelas e jarras com bases planas ou em pedestais, decoradas com linhas incisas ou pintadas com tintas vegetais, como o vermelho do urucu, e motivos que vão de linhas entrecruzadas, pontos circulares a linhas em ziguezague. Essas características da cerâmica Waiwai, povo indígena que habita o Brasil e a Guiana, se juntam a outros 16 povos falantes de línguas da família Karib, cujos artefatos foram analisados pela arqueóloga Meliam Viganó Gaspar durante pesquisa de doutorado. Uma pergunta foi ponto de partida para o trabalho: há como se associar um estilo cerâmico a povos que falam línguas Karib?
Com o título “Arqueologia e História de povos de línguas Karib: um estudo da tecnologia cerâmica”, a pesquisa foi concebida no Laboratório de Estudos sobre Tecnologia e Território (LINTT), do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP), sob orientação da Drª. Fabíola André Silva. Como já havia pesquisas sobre a relação entre a cerâmica e povos de língua Tupi, a ideia era procurar esse mesmo princípio, desta vez entre povos Karib, que habitam a Amazônia brasileira e de países como Suriname e Guiana Francesa.
“Como a gente sabe bem menos sobre a cerâmica e povos Karib do que Tupi, a gente definiu a partir de coleções etnográficas desses povos em vários museus, porque nenhum tem uma coleção completa." Meliam Gaspar.
Quais as relações possíveis entre cerâmica e povos Karib? Para tentar responder, a metodologia procurou estabelecer a cadeia operatória da produção cerâmica, reunindo coleções etnográficas, dados etnológicos, linguísticos e históricos. Dividindo as etapas de produção, pode-se falar em métodos, materiais e modos de decoração das vasilhas, diz a arqueóloga. “E, então, dizer como essa configuração de escolhas nessa cadeia vai indicar um determinado estilo, que vai ser passado de geração para geração”, completa Meliam, que é graduada em Ciências Sociais, possui mestrado e doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Arqueologia da USP. Ela não realizou escavações, mas analisou peças cerâmicas disponíveis em museus cujo acervo estava digitalizado.
Dos artefatos dos povos Tiriyó e Wayana disponíveis no Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) às peças dos Kari’na no British Museum; das peças Waimiri Atroari e Waiwai do Museu do Homem do Norte, em Manaus (AM), à cerâmica Kari’na, Waiwai e Wayana no Tropenmuseum, em Amsterdã, na Holanda. A família Karib foi língua franca para uma viagem que percorreu o mundo, envolvendo 16 povos e sua cultura material distribuída em 21 museus localizados no Brasil, nas Guianas e Europa.
Vasilhas Waiwai (Foto: reprodução tese de doutorado)
As peças passaram, então, à análise. Um dos critérios foi a preparação da argila, se mineral, caraipé ou cauixi. Também foram avaliadas do ponto de vista da forma, desde a base e a borda, ao lábio e à alça. O tratamento da superfície cerâmica foi observado a partir tipo de pintura e das resinas utilizadas. Por fim, além de outros critérios, os artefatos foram classificados em relação aos usos: peças para fermentar bebida, com fins rituais ou funerário, para assar, servir alimentos ou água, por exemplo. Assim, foram reunidas cerca de 880 vasilhas.Há relação entre a cerâmica e os povos Karib? “Dos 16 povos que analisei, consegui separar seis ou sete estilos que poderiam ser próximos”, afirma a pesquisadora. Para ela, é difícil associar artefatos Karib a uma tradição única. A cerâmica produzida pelo Kari’na, por exemplo, é um estilo à parte. A cerâmica dos Wai-Wai, Wayana e Aparai, por outro lado, são mais próximas entre si. “Se formos fazer trabalhos nessas terras indígenas e conseguir uma intermediária entre arqueológica e etnográfica, vamos ver que há uma origem mais em comum”, conclui Meliam.
Vasilhas Kari'na (Foto: reprodução tese de doutorado)
A tese aponta que são necessários estudos para se definir se há ou não uma relação direta entre as tradições cerâmicas de povos Karib. Mas não só isso. A pesquisadora conseguiu analisar artefatos de diferentes povos mobilizando peças disponíveis nos museus. E nesse percurso a pesquisa produziu um grande catálogo com fotos das cerâmicas, com informações, links e indicação dos locais em que estão. “É uma forma dos povos indígenas saberem onde estão esses objetos, em outros países, que talvez não lembrem mais que as peças foram pra esses lugares”, avalia Meliam.
Com o título “Arqueologia e História de povos de línguas Karib: um estudo da tecnologia cerâmica”, a tese de doutorado foi uma das vencedoras do Prêmio Luiz de Castro Faria 2020. Realizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a premiação tem como objetivo reconhecer trabalhos científicos no campo do Patrimônio Arqueológico Brasileiro. Nos dias 29 e 30 de abril, o Iphan realiza as “Rodas de conversa com os vencedores do prêmio Luiz de Castro de Faria” com transmissão online.
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