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ARQUEOLOGIA
Pesquisa arqueológica busca resgate do Largo do Rosário em Belo Horizonte (MG)
Largo do Rosário no extinto Arraial do Curral Del Rey, atual cidade de Belo Horizonte
Na última semana, nos dias 19 e 20, a equipe do Projeto NegriCidade - projeto que busca resgatar os Territórios Negros do extinto Arraial do Curral Del Rey, atual cidade de Belo Horizonte - iniciou a busca pela localização exata do Largo do Rosário, entre as ruas dos Timbiras e dos Guajajaras, no bairro Lourdes. Utilizando tecnologia de ponta, o projeto visa não apenas a pesquisa arqueológica, mas também destacar o simbolismo e a importância histórica da comunidade negra na formação da cidade.
Composto pela Capela Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, um cemitério adjacente e uma comunidade unida pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos do Arraial do Curral Del Rey, o Largo do Rosário é considerado Patrimônio Cultural Imaterial do município e representa parte da história que foi soterrada pela construção da capital mineira.
Utilizando um Georadar (GPR), a equipe explorou uma área de 1.400m² na rua da Bahia, onde foi colocada uma placa indicativa de Patrimônio Cultural Imaterial. O arqueólogo responsável, Fernando Costa, explicou que a escolha do Georadar se deve à complexidade de realizar escavações no centro de Belo Horizonte, optando por um levantamento inicial para identificar possíveis vestígios da capela ou do cemitério do Largo do Rosário. O GPR é um dispositivo que emite uma onda que, ao atingir elementos no subsolo, gera um gráfico. Esse gráfico é posteriormente interpretado por especialistas geofísicos.De acordo com Fernando, a primeira etapa, já realizada, foi a “Identificação e Mapeamento Geofísico Não-Interventivo do Cemitério e da Capela do Rosário dos Homens Pretos do Curral Del-Rei com utilização do GPR”. A segunda será a escavação, propriamente dita, dos locais com maior potencial arqueológico, identificados na primeira etapa. “A expectativa é que ainda restem evidências da c apela, como alicerces, telhas, materiais associados à sua demolição, entre outros. Também há a expectativa, apesar das dificuldades, de que sejam identificados os locais de sepultamento”, afirma o arqueólogo.
Os dados coletados foram encaminhados para análise geofísica aprofundada e, se identificados os vestígios na região do Largo do Rosário, a equipe procederá com as solicitações ao Iphan de permissão para escavação. A pesquisa também visa contribuir para o estudo arqueológico de Belo Horizonte como um todo, explorando áreas com potencial histórico, como a região onde hoje se encontram o Teatro da Cidade e um estacionamento. O trabalho com o uso do Georadar é considerado inédito em Belo Horizonte e também o mais importante já realizado na capital mineira.
O coordenador do Projeto NegriCidade, Padre Mauro Luiz da Silva, enfatiza a importância simbólica desta iniciativa, resgatando parte do legado histórico da cidade construído pela Irmandade dos Homens Pretos, antes do planejamento urbano de Aarão Reis, destacando que a história apagada pela branquitude precisa ser finalmente contada. Ele ressalta a necessidade de reparar a ausência da narrativa negra na formação da cidade, proporcionando uma visão mais diversa e tolerante para as gerações futuras.
Comitê de Salvaguarda do Largo do Rosário
Na última segunda-feira (26) foi realizada a primeira reunião do Comitê de Salvaguarda do Largo do Rosário. Nesse encontro, os membros iniciaram levantamentos de informações para a construção do Plano de Salvaguarda, cujos resultados serão apresentados ao Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte em novembro, contribuindo para a definição de ações de curto, médio e longo prazos que assegurem a preservação e valorização do Largo do Rosário.
No dia 24 de janeiro, foi publicada no Diário Oficial do Município uma portaria conjunta, estabelecendo o Comitê de Salvaguarda do Largo do Rosário, composto por 18 membros representando diversas instituições do poder público, entre elas a Fundação Municipal de Cultura e o Iphan, além de representantes da sociedade civil e lideranças sociais e religiosas, como a Rainha Belinha e a Makota Kizandembu. O comitê, com mandato até 2025, tem como principal responsabilidade elaborar, em um prazo de 12 meses, o Plano de Salvaguarda do Largo do Rosário. Entre as atribuições do Comitê estão o planejamento, proposição, orientação e avaliação de ações para a proteção, divulgação e salvaguarda do local, bem como o apoio a atividades educativas e de difusão.