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PATRIMÔNIO IMATERIAL
Oficinas ensinam sobre manejo de espécies utilizadas em instrumentos de capoeira
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), desenvolve o projeto “Biriba é Pau, É Madeira, Biriba é pra Plantar” em comunidade quilombola de Maragogipe, no Recôncavo Baiano. Trata-se de um projeto modelo de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas, no qual é feita a implantação de sistemas agroflorestais com foco nas espécies de interesse da capoeira. A ação inclui o manejo sustentável de biribas, madeira usada na produção de instrumentos como o berimbau, nas comunidades Guerém e Giral Grande.
Celebrado a partir de um Termo de Execução Descentralizada com a UFBA e com apoio da Reserva Extrativista Marinha da Baía do Iguape do ICMBio, o projeto realizou oficinas de manejo sustentável de biribas; assim como de implantação de sistema agroflorestal com foco nas matérias-primas utilizadas na capoeira nas duas comunidades envolvidas. Também foi realizada oficina para a construção de viveiro de mudas e sementes e, por último, oficina de produção de instrumentos da capoeira, ministrada pelo mestre de Capoeira Angola e tradicional artesão Mestre Zé do Lenço, da Associação de Capoeira Angola Relíquia de Espinho Reimoso.
Para o superintendente do Iphan na Bahia, Hermano Guanais e Queiroz, a política do patrimônio imaterial contempla diversos domínios da vida social e ambiental. “Aliar a questão patrimonial às questões ambientais só fortalece as expressões da capoeira nas comunidades tradicionais e permite uma atuação transversal no cotidiano das pessoas”, ressalta o superintendente.
Segundo a historiadora do Iphan-BA, Marina Leão, a ação se enquadra no Plano de Salvaguarda da Capoeira na Bahia, que recomenda desenvolver um plano de manejo para os recursos naturais utilizados na fabricação de instrumentos da Roda de Capoeira. “A ação associa a salvaguarda da capoeira com a sustentabilidade ambiental e econômica. Garante a produção de alimentos saudáveis e a segurança alimentar de povos e comunidades tradicionais. E é também uma forma de interiorização das políticas de salvaguarda do Iphan, conectando territórios onde já se realizava a prática da capoeira, mas que não eram abarcados até então pela política institucional”, explica a historiadora.
A ideia é replicar o projeto em outras comunidades, contribuindo com o fortalecimento da Roda de Capoeira e o Ofício dos Mestres de Capoeira, bens registrados em 2008 como Patrimônio Imaterial do Brasil. Em 2024, a ação terá continuidade com novas oficinas, ampliando os sistemas agroflorestais no local.
Para a família Calheiros, moradora do Giral Grande, a implantação do projeto mudou a visão da comunidade em relação ao plantio das biribas e de valorização da capoeira para os mais jovens. “É importante ver a cultura da capoeira sendo valorizada pelos mais novos. É a cultura negra sendo passada para as próximas gerações”, ressalta Eliete Calheiros, liderança da comunidade quilombola. Para o irmão dela, o agente comunitário e agricultor Antônio Calheiros, houve uma mudança do olhar sobre a biriba, árvore comum na região. “Após as oficinas, pudemos entender como plantar e aproveitar melhor a madeira, triplicando o valor do seu uso”, afirma Antônio.
Crédito das imagens: Acervo do projeto
Assessoria de Comunicação Iphan
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Caio Cruz - caio.cruz@iphan.gov.br