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RECONSTRUÇÃO
Nove obras do acervo danificado no 8 de janeiro já foram restauradas
Nove das 20 obras de arte que foram vandalizadas em 8 de janeiro de 2023 já estão restauradas ou na última etapa do processo de restauro. Há cerca de três meses, 22 profissionais têm se revezado no trabalho. Um laboratório foi instalado no Palácio da Alvorada exclusivamente para recuperar essas peças. A iniciativa, que conta com o apoio da Diretoria Curatorial dos Palácios Presidenciais (DCPP) da Presidência da República, é fruto de um Termo de Execução Descentralizada (TED) entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no valor aproximado de R$ 2,2 milhões. Os trabalhos devem ser concluídos em dezembro deste ano.
Nesta primeira etapa, os conservadores-restauradores se concentraram em obras feitas com diferentes materiais. É o caso da obra Galhos e Sombras, uma escultura em madeira de Frans Krajcberg. “Nesta obra, especificamente, nosso maior desafio foi estruturá-la novamente, tivemos que reforçar sua estrutura com pinos, além de fazer toda a reintegração cromática da pintura da peça e camada de proteção”, explica a conservadora-restauradora Keli Scolari. Ela tem permanecido em Brasília para acompanhar diariamente a execução dos restauros.
Já as peças em metal Vênus Apocalíptica Fragmentando-se, de Marta Minujín, e O Flautista, de Bruno Giorgi, foram completamente desamassadas, tiveram as suas estruturas consolidadas e sua pátina química recomposta. A Fachada Colonial Rosa com toalha, de José Paulo Moreira da Fonseca, está em fase de planificação. Ela já recebeu higienização e limpeza mecânica, e aguarda para receber reforço de borda, nivelamento das lacunas, reintegração pictórica e camada de proteção.
O Vaso Cerâmico já está na fase final de montagem. Primeiramente foram catalogados e numerados os 150 fragmentos cerâmicos da peça. Em seguida, os fragmentos foram sendo montados como um quebra-cabeças, localizando cada posição do fragmento e colados com fita adesiva. Só depois desses passos é que foi iniciada a colagem final e, posteriormente, a complementação das áreas faltantes, reintegração cromática e aplicação da camada de proteção.
O conjunto de cinco telas de Glênio Bianchetti, chamado de “pentíptico”, está na fase reintegração cromática, sendo a última fase a aplicação da camada de proteção. Com o término do restauro destas obras, abre-se uma nova etapa dos trabalhos, que deve se concentrar em 11 telas que compõem o acervo. Três dessas obras ainda não tiveram o autor e o título identificados, e uma parte da equipe tem se dedicado à pesquisa histórica para obter essas informações.
“É interessante notar que a maioria dessas obras, talvez por ter estado dentro do Palácio do Planalto, não foram muito divulgadas, muito expostas, reproduzidas em livros de arte, então são obras sobre as quais não se encontram informações em livros. Porém, ainda que a gente não saiba quem as fez, o projeto vai nos permitir obter mais informações sobre a história dessas obras, contribuindo para que o público conheça a memória por trás de cada uma delas. De uma certa forma, reverteremos simbolicamente o que o vandalismo fez com elas, tentando apagar a memória por meio da destruição”, explica o professor de História da Arte e Materiais e Técnicas da UFPel, Roberto Heiden. Ele está à frente desta parte de investigação da autoria das obras.
O projeto de restauração do acervo envolve oito docentes da UFPel, três técnicos, quatro bolsistas de graduação, dois bolsistas de pós-graduação e cinco profissionais contratados exclusivamente para o projeto (três conservadores-restauradores, um fotógrafo documental e uma pessoa responsável pela editoração do livro que será produzido sobre o trabalho). A execução dos trabalhos tem sido acompanhada pelo Departamento de Patrimônio Material do Iphan (Depam).