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No Pará, projeto promove documentação e disseminação de práticas e saberes indígenas
Foto: Ângela Amanakwa Kaxuyana
Preservar a cultura indígena é proteger a identidade e o modo de vida dos povos originários. Com esse propósito, a Associação Indígena Katxuyana, Tunayana e Kahyana (AIKATUK) e o Iepé - Instituto de Pesquisa e Formação Indígena, lançaram, nesta sexta-feira (08), projeto que vai inventariar a história e costumes do “txama txama”, arte plumária tradicional dos povos Kahyana e Katxuyana, do Pará, feito com penas de gavião-real ou arara.
A iniciativa é financiada pelo Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e foi apresentada durante o lançamento do programa Grande Tumucumaque, em Santarém (PA). Abrangendo três Terras Indígenas (Tumucumaque, Paru d'Este e Zo'é) e duas Unidades de Conservação (Estação Ecológica Grão Pará e Reserva Biológica do Maicuru), este programa contemplará, ao longo de quinze anos, ações que visam contribuir com o monitoramento da biodiversidade e a proteção territorial na região, onde vivem povos oficialmente reconhecidos como Tiriyó, Katxuyana, Aparai e Wayana.
O fundador e vice-presidente da Associação Kaxuyana, Tunayana e Kahyana, Juventino Pesirima Kaxuyana, destacou a importância do objeto para eles. "O txama txama para nós representa, para nós, conhecimento ancestral. O txama txama representa, para nós, resistência".
O projeto “Artes do Txama Txama: Documentando nossas práticas e saberes, fortalecendo nossas existências, salvaguardando nosso patrimônio” consiste em relacionar os conhecimentos sobre as artes plumárias e inseri-las na plataforma digital Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) do Iphan.
“Entender, valorizar, reconhecer, salvaguardar e caminhar conjuntamente com a nossa ancestralidade é a visão do projeto, que propõe a produção de um inventário txama txama, realizado a várias mãos, com transmissão de saberes de diversas gerações, o que caminha na missão do Iphan. Estaremos de mãos dadas nesse trabalho”, salientou a superintendente do Iphan no Pará, Cristina Vasconcelos.
A ação busca assegurar que esses conhecimentos sejam transmitidos entre gerações, protegendo o patrimônio e fortalecendo as tradições culturais desses povos. Atualmente, apenas três mestres-anciãos preservam o conhecimento sobre a confecção do txama txama, uma arte com importante significado cultural, espiritual e político. Até a década de 1960, essa peça era usada em cerimônias que conectavam o mundo humano ao sobrenatural.
Trata-se de uma iniciativa dos próprios indígenas, no intuito de preservar seu legado e perpetuar seu patrimônio. A antropóloga responsável pela supervisão do projeto, Luísa Girardi, destaca que essa iniciativa é fundamental para a produção de um inventário atento à perspectiva indígena: “Além dos mestres-anciãos e jovens pesquisadores, contamos com uma bióloga, uma historiadora e uma gestora dos povos Kahyana e Katxuyana, desempenhando um papel central no projeto e fortalecendo o protagonismo indígena”, relatou.
A presidente do Conselho Wayamu e representante da Coordenação das Organizações da Amazônia Indígena (COIAB), Angela Amanakwa Kaxuyana, afirmou que o txama txama é muito além de uma arte, é uma conexão com a espiritualidade. “É um item essencial e imprescindível para a cultura tradicional entre o mundo espiritual e o não espiritual", disse ela.
Multiplicar a cultura
As ações serão conduzidas por uma equipe indígena e não-indígena, que trabalhará com mestres-anciãos e jovens-aprendizes destes povos de 30 localidades nas Terras Indígenas Kaxuyana-Tunayana e Parque do Tumucumaque, no Pará. Nestas comunidades, vivem cerca de 750 pessoas.
Serão formados pesquisadores locais para produzir o inventário do “txama txama”, que incluirá levantamento de literatura etnológica historiográfica, identificação de coleções museológicas e pesquisa de campo. Além disso, devem ser realizadas entrevistas, observação participante e escuta de histórias de vida.
Também está prevista a realização de encontros e festividades para transmitir os conhecimentos para outras gerações, bem como para a documentação audiovisual das práticas, processos e significados relacionados a esta referência cultural.
Valorização
O Programa Nacional de Patrimônio Imaterial (PNPI) foi instituído pelo Decreto nº 3551, de 4 de agosto de 2000, com o objetivo de implementar uma política pública voltada para a identificação, reconhecimento, apoio e fomento ao patrimônio imaterial, tendo resultado na criação da Política de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial.
Em 2023, como parte dessa política, foi lançado edital que disponibilizou R$ 7,5 milhões para financiamento de projetos de organizações da sociedade civil e entes governamentais que promovam a identificação, reconhecimento, apoio e fomento à dimensão imaterial do Patrimônio Cultural do Brasil. O projeto “Artes do Txama Txama: Documentando nossas práticas e saberes, fortalecendo nossas existências, salvaguardando nosso patrimônio” foi um dos contemplados pelo edital.
Entre as atribuições do PNPI está a elaboração de indicadores para acompanhamento e avaliação de ações de valorização e salvaguarda do patrimônio cultural imaterial. Outros objetivos são a captação de recursos e promoção da formação de uma rede de parceiros para preservação, valorização e ampliação dos bens que compõem o Patrimônio Cultural Brasileiro, além do incentivo e apoio às iniciativas e práticas de preservação desenvolvidas pela sociedade.
Assessoria de Comunicação Iphan
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