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EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
Lançamento de edital de R$ 2 milhões tem aula-passeio em escola de Brasília
Prof. Cleber Xavier apresenta patrimônios de Brasília para alunos da Escola Parque 308 Sul. (Fotos: Mariana Alves/Iphan)
Apresentar a história e o significado por trás de um monumento, uma calçada, um painel de azulejos. Fazer eles serem compreendidos como bens de grande importância para a formação da identidade do P aís, assim como centenas de outras expressões materiais e imateriais da cultura nacional. E estimular, dessa forma, que cada cidadão assuma sua parte na responsabilidade de cuidar desses tesouros coletivos. Este é o objetivo do campo da Educação Patrimonial , que inspirou o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) a lançar, na manhã d esta quinta-feira ( 10/8 ) , um edital de valor recorde para o setor. Serão R$ 2 milhões distribuídos para projetos educativos em todo o Brasil que ajudem a consolidar, nesta e nas próximas gerações, o sentimento de conexão de um povo com seus patrimônios.
Publicado ontem no Diário Oficial da União, o edital vai ser um veículo de parceria entre o Iphan, autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura, organizações da sociedade civil e entidades públicas de todas as esferas, que terão até 25 de setembro para submeter propostas no valor mínimo de R$ 200 mil e máximo de R$ 250 mil.
Segundo Leandro Grass, presidente do Iphan, a intenção é atrair propostas que reflitam a diversidade cultural do Brasil e sirvam de exemplo para toda a sociedade, iniciando um movimento que, assim ele acredita, tenha seus efeitos multiplicados no território nacional. "O edital é um chamamento para projetos de características distintas, que sejam fruto tanto de iniciativas públicas quanto da sociedade civil organizada", diz Grass. "Queremos mostrar que educação patrimonial não se dá apenas nas escolas, assim como preservar patrimônio não é tarefa exclusiva do Iphan. É de todos."
Além dos 2 milhões destinados pelo Instituto às propostas contempladas, Grass espera, ainda, que o edital inspire iniciativas semelhantes de secretarias municipais e estaduais, para capilarizar a visão de que a educação é um dos meios mais efetivos de preservar o patrimônio cultural brasileiro. "A gente só cuida do que conhece e entende como sendo algo de valor. A Educação Patrimonial cria esse vínculo de pertencimento das pessoas aos seus espaços e suas histórias compartilhadas."
Para a diretora do Departamento de Cooperação e Fomento do Iphan, Desirée Tozi , o edital foi elaborado para permitir diversas abordagens possíveis de Educação Patrimonial, que pode dialogar com outras temáticas de relevância para a sociedade, como sustentabilidade, gênero, culturas afro-diaspóricas e indígenas, grupos urbanos e rurais minorizados , entre outras. "A ideia é selecionar projetos que promovam a Educação Patrimonial articulada com o combate ao racismo e ao sexismo, com a preservação da agrobiodiversidade , com a gestão urbana e a cultura popular, refletindo agendas de transformação social”.
Grass e Tozi estavam presentes na cerimônia de lançamento do edital, que se deu na Escola Parque 308 Sul de Brasília/DF. A cerimônia contou com a participação do secretário de C ultura e de E conomia C riativa do Distrito Federal, Claudio Abrantes ; do deputado federal Marcelo Queiroz ; da deputada federal Erika Kokay ; e demais convidados, entre os quais havia representantes do Ministério da Educação, da Unesco, da Fundação Cultural Palmares, da Petrobras e da OAB ; além de professores e alunos da Escola Parque 308 Sul. Uma instituição que não poderia ser mais representativa da importância e da potência da Educação Patrimonial para a valorização da cultura nacional.
Preservarte Patrimônio
Localizada numa quadra-modelo do plano-piloto de Brasília, a Escola Parque da 308 Sul foi a primeira das escolas parques idealizadas por Anísio Teixeira para a capital , em seu projeto de educação integral, por meio da qua l a formação dos novos cidadãos se dá dentro e fora da sala de aula, em contato com o espaço urbano. Fazendo jus a essa visão, a escola promove desde 2010 o Projeto PreservartePatrimônio , com ações de Educação Patrimonial pelas quadras , nas quais elementos distintivos do projeto urbanístico da cidade patrimônio são explicados às crianças. Foi o que aconteceu na manhã de ontem, numa nova caminhada com alunos do 4o e 5o anos, que deu início à programação de lançamento do edital do Iphan.
Nas palavras do professor Cleber Cardoso Xavier, que conduz o projeto, detalhes arquitetônicos e artísticos do percurso iam revelando novos sentidos que, à primeira vista, poderiam passar despercebidos pelas crianças. Como os vãos criados pelo pilotis nos prédios de Brasília - espaços públicos de circulação desimpedida, para uma cidade pensada sob a égide do homem livre. Ou como os diversos elementos da Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima - primeiro templo católico a ser erguido em Brasília, em 1958 – contam uma história em muitas camadas, da posição de sua cruz ao painel de azulejos pintados por Athos Bulcão. "Uma pomba branca apontando para baixo e uma rosa dos ventos, em um templo católico, podem ser interpretadas como a descida do Divino Espírito Santo e a Estrela da Natividade", explicava o professor em referência aos azulejos do artista, mostrando que o significado de todas as coisas depende do contexto. E que usar esses mesmos "óculos de investigador" para as paisagens urbanas cotidianas pode revelar tesouros a pessoas de qualquer idade. Mesmo para quem já convive com elas por toda uma vida.
"Vou falar para meus pais do Francisco Galeno, que a infância dele foi muito gratificante", disse o menino Enzo Gabriel, do 5o ano, referindo-se ao artista piauiense que pintou as paredes internas da Igrejinha com imagens religiosas nas quais incorporava brinquedos de sua infância pobre - mas feliz. "Antes, quando eu vinha aqui dentro, eu achava outras coisas. Agora que o professor explicou, eu consigo ver a rabiola da pipa, o carretel de linha...", concordou seu amigo João Henrique, do 4o ano.
"Estou muito emocionado", admitiu o arquiteto João Luiz Valim Batelli , 68 anos, que acompanhou a aula-passeio não apenas por interesse profissional no assunto, mas por uma ligação bastante íntima com a escola 308 Sul: ele foi aluno da primeira turma da instituição, inaugurada em 1960. Elogiando a didática do professor Cleber para apresentar detalhes da história da Igrejinha que nem ele mesmo conhecia, Batelli aproveitou para elogiar também a iniciativa de publicação do edital do Iphan: "Pela Educação Patrimonial, conseguimos ver como são ricas as nossas obras, e conseguimos passar os valores de uma sociedade, das pessoas que nos antecederam, para as novas gerações", disse o arquiteto.
No fim da caminhada, o grupo retornou ao auditório da escola, onde as crianças ainda assistiram a uma divertida apresentação da companhia brasiliense Mamulengo Lengo Tengo , inspirada no T eatro de B onecos P opular do Nordeste - aliás, outro Patrimônio Cultural do Brasil registrado pelo Iphan desde 2015. E a programação do dia terminou com uma breve cerimônia de oficialização do lançamento do edital, com discursos do presidente do Instituto e de outras autoridades convidadas a subir ao palco.
Para detalhes sobre o edital e orientações sobre a submissão de propostas, acesse o link: https://www.gov.br/iphan/edital-ep
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Alexandre Figueira
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