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PATRIMÔNIO MATERIAL
Iphan entrega a Casa de Câmara e Cadeia restaurada à população de Mariana (MG)
Entrega da Casa de Câmara e Cadeia, em Mariana (MG) - Foto: André Brasil/Iphan
Um dos exemplares mais curiosos da arquitetura colonial brasileira, a Casa de Câmara e Cadeia de Mariana (MG) reabr iu suas portas ao público nesta quarta-feira (2/8) após quase três anos. A restauração minuciosa do prédio histórico, construído no século XVIII, foi possível graças a um investimento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de aproximadamente R$ 4 milhões e de recursos municipais.
"Patrimônio é aquilo que é importante para nós, é aquilo que fala sobre nós, é aquilo que nós valorizamos. E o Iphan, que é o Instituto que cuida do Patrimônio, tem esse papel, de junto das comunidades, das prefeituras e dos governos estaduais, preservar o que é importante para nós", ressalt ou o presidente do Iphan, Leandro Grass, durante o evento de entrega da obra.
Projetada por José Pereira dos Santos e concluída em 1798 pelo Mestre José Pereira Arouca, a Casa de Câmara e Cadeia foi construída com o propósito de abrigar a primeira sede do legislativo de Mariana (MG), instituído em 1711, e servir como uma Cadeia. O edifício possui dois pavimentos, com o térreo contendo três enxovias (áreas subterrâneas das prisões) e celas separadas para mulheres, homens brancos e homens negros. Já o andar superior era destinado aos serviços administrativos do Poder Legislativo, incluindo o plenário.
Durante o processo de restauração, foram realizados trabalhos estruturais, arqueológicos, elétricos, de som, sistema de proteção contra descargas elétricas, instalações sanitárias, pluviais, hidráulicas e de prevenção e combate a incêndios. O objetivo era preservar ao máximo a estrutura original do edifício, valorizando sua história e características primitivas. Para isso, acréscimos que não constavam no projeto original foram removidos, banheiros foram demolidos e uma escada que leva até o sino da construção foi recuperada.
Durante as ações de salvaguarda do patrimônio, a equipe responsável pelos trabalhos realizou descobertas surpreendentes ao remover camadas de tintas antigas. Através da arqueologia de cotas positivas, uma metodologia que utiliza de prospecções como investigação para a restauração de edifícios históricos, foram reveladas pinturas parietais, datas e assinaturas que proporcionaram uma melhor compreensão da evolução do prédio ao longo da história.
Outro aspecto fundamental do projeto de restauração foi a garantia da acessibilidade no prédio. Com a instalação de rampas e elevadores, o edifício restaurado se tornou inclusivo, permitindo que pessoas com deficiência possam participar das atividades legislativas de forma plena.
O complexo arquitetônico, localizado em um dos principais cartões postais da cidade, inclui não apenas a Casa de Câmara e Cadeia, mas também o Passo de Nosso Senhor, conhecido como Capela de São Jorge, e o antigo armazém, todos parte do conjunto artístico de Mariana.
Com a restauração concluída, o prédio histórico retoma seu papel como atrativo turístico, proporcionando aos visitantes a oportunidade de conhecer a rica história da região e contribuindo para a promoção do turismo e o desenvolvimento econômico local. Após a entrega, as atividades legislativas também retornarão ao espaço restaurado, com a primeira sessão ordinária agendada para o dia 7 de agosto. A obra contou com recursos do Programa da Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas, do Governo Federal.
Outros projetos
Em meio ao processo de restauração da Casa de Câmara e Cadeia, o município de Mariana, em Minas Gerais, destaca-se por uma série de iniciativas voltadas para a preservação do seu riquíssimo patrimônio histórico. De acordo com o presidente do Iphan , outros importantes bens culturais também estão passando por cuidadosas restaurações na região. “ O Iphan cuida de Minas Gerais. As obras, que abrangem um amplo espectro de restauro e requalificação, serão fundamentais para manter viva a memória das gerações passadas e proporcionar um futuro de valorização e encantamento através do rico patrimônio que Minas Gerais oferece ao Brasil e ao mundo” conclui Leandro Grass.
Entre os projetos em andamento, destacam-se a restauração da Casa do Conde A ssumar (futuro Museu de Mariana), da Capela Santo Antônio, com recursos do Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD) e da imponente Igreja de São Francisco de Assis, através da Lei Rouanet, evidenciando a relevância desses monumentos para o cenário cultural brasileiro.
Mariana
P rimeira cidade e primeira capital de Minas Gerais - é a única de traçado planejado entre as cidades coloniais mineiras. O seu centro histórico, tombado pelo Iphan em 1938, apresenta um acervo arquitetônico composto por nobres monumentos que marcam os anos áureos da opulência do passado marcado pela mineração de ouro.
Projetada pelo arquiteto português José Fernandes Pinto Alpoim, traçado urbano de ruas retas e praças retangulares revelam a estética barroca de influência portuguesa, pontilhadas por imponentes igrejas, Passos da Paixão e chafarizes. Os monumentos religiosos tombados, como a Catedral de Nossa Senhora da Assunção, o Seminário Maior, e as igrejas das irmandades de São Francisco de Assis e do Carmo, testemunham o esplendor de tempos passados. Mariana mantém viva sua história com seus sobrados da Rua Direita, a casa de Alphonsus Guimarães e as pinturas sacras de Manoel da Costa Athaíde, proporcionando um mergulho na essência da Minas Gerais colonial.