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PATRIMÔNIO MATERIAL
Iphan elabora proposta de abrigo para colônia de felinos no Campo de Santana, no Rio de Janeiro (RJ)
Parque abriga colônia de felinos e de fauna nativa. Créditos: Oscar Liberal
Palco de acontecimentos marcantes na história do Brasil, o Campo de Santana, situado na capital fluminense (RJ), é cenário de um projeto piloto que pode ser referência para outros jardins históricos do país. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia federal vinculada à Secretaria Especial da Cultura e ao Ministério do Turismo, desenvolveu um projeto de abrigo para a colônia de gatos que mora no local.
Desmontáveis, laváveis, de baixa altura e de cor não contrastante com a vegetação, os abrigos conciliam duas reivindicações do cidadão: a preservação do Patrimônio Cultural e a defesa do bem estar dos animais.
Cuidada por protetores dos animais, uma colônia de gatos convive há pelo menos trinta anos com cotias, galinhas-d'angola, patos e pavões no Campo de Santana. Com frequência, a população carioca reivindica melhorias nas condições de vidas dos felinos que moram no parque.
Acionado pela sociedade civil, o Instituto iniciou uma série de ações no bem cultural a fim de investigar a questão. Tradicionalmente, o Iphan se manifestava contrário ao conceito de instalação de abrigos felinos no monumento. A realização de trabalho de campo pioneiro, porém, constatou que é possível impulsionar mudanças na postura da Autarquia.
O projeto contemplou pesquisas, uma série de vistorias e reuniões com a sociedade civil. Como resultado desses esforços, o Iphan constatou que os gatos que ali habitam não destroem a fauna nativa e não representam perigo à fruição do bem tombado como anteriormente alegado.
Com isso em vista, o corpo técnico da Superintendência do Iphan no Rio de Janeiro desenvolveu um protótipo de abrigo, planejado para harmonizar com o patrimônio histórico e paisagístico do monumento. A proposta foi enviada para a Prefeitura do Rio de Janeiro e para o Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), que também tombou o Campo de Santana.
A presença de gatos em monumentos históricos encontra precedentes no cenário internacional. Um exemplo é o largo da Torre Argentina de Roma, sítio arqueológico da Itália. No conjunto existe um santuário para felinos que remonta às escavações do sítio. Trata-se de uma estrutura subterrânea que começou a ser utilizada pelos animais.
Em vez de entender a questão como um problema, o governo local incorporou os gatos como parte da fauna urbana: disponibilizou recursos e uma rede de acompanhamento que possibilitam a convivência harmônica dos felinos com o patrimônio arqueológico.
Para que isso ocorra, contudo, é preciso que seja elaborado e executado um plano de manejo dos animais, que contemple castração, identificação, vacinação e outras medidas. Além disso, é essencial conscientizar a população sobre os danos causados pelo abandono de animais domésticos em locais públicos e os perigos de oferecer alimentos não adequados para os felinos.
Por sua importância histórica e pela centralidade que exerce no cotidiano carioca, o Campo de Santana oferece o cenário ideal para impulsionar um projeto multidisciplinar que alie patrimônio cultural com o patrimônio ambiental. Nessa perspectiva, a colônia de felinos é mais um dos elementos que dão sentido ao bem cultural, forjando vínculos afetivos da população para com o parque.
“O desenvolvimento do modelo de abrigo consiste apenas no pontapé inicial para fortalecer esse novo olhar sobre o Campo de Santana, que considera tanto a preservação do bem tombado como o bem estar dos animais”, analisa o superintendente do Iphan no Rio de Janeiro, Olav Schrader. “Esperamos que essa iniciativa seja abraçada por distintas esferas da sociedade e possa ter prosseguimento, de modo a valorizar ainda mais esse bem singular para a história do Brasil”, complementa.
A história do Campo de Santana
Quem imaginaria durante o período colonial que uma área alagada, de charcos e brejos, se tornaria um dos parques mais icônicos da cidade? Essa transformação deu os primeiros passos na primeira metade do século XVIII, quando o então Campo da Cidade começou a ser aterrado. Em 1753, uma capela em homenagem Sant’Ana foi erguida no local. Mais adiante, em 1815, D. João VI ordenou a construção de um jardim. Neste cenário, D. Pedro I foi aclamado Imperador do Brasil em 1822.
A pedido de D. Pedro II, o paisagista francês Auguste Glaziou idealizou, em 1873, o traçado do parque, que foi inaugurado pelo próprio imperador em 1880. Concebido com 155.000 m² de área, apresentava todos as características do jardim paisagista moderno: cursos d’água, pontes, pedras artificiais, ilhas, conjunto de gruta e cascata, assim como elementos decorativos em ferro fundido.
Também foi no Campo de Santana que se proclamou a República em 1889. Já em 1938, a Comissão do Plano da Cidade elaborou o projeto da Avenida Presidente Vargas, aprovado na época pelo presidente da república. No mesmo ano, o parque foi tombado pelo Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), antigo nome do Iphan.
Cinco anos mais tarde, em 1943, o tombamento foi cancelado para reduzir a área do parque, tendo em vista a abertura da nova avenida. Realizada em 1941, a redução eliminou cerca de 20% da área total. Apesar disso, o Campo de Santana nunca perdeu sua função de importante parque urbano, mantendo seus principais atributos históricos, artísticos e paisagísticos.
Em 2016, o Campo de Santana foi novamente declarado Bem Tombado Nacional, inscrito em três Livros do Tombo do Iphan: o Histórico, o de Belas Artes e o Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico.
Crédito das imagens
1: Oscar Liberal
2 e 3: Acervo Iphan
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