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ENTREGA DE OBRAS
Iphan e Minc celebram restauração de igreja e casarão do séc. XVIII em Mariana (MG)
Novo Museu de Mariana e Igreja de S. Francisco de Assis: bens do séc. XVIII restaurados em Mariana/MG (Foto: Nelson Kon)
Nesta quarta-feira (04/10), quando católicos do mundo inteiro comemorarem o Dia de S. Francisco de Assis, a cidade de Mariana (MG) terá ainda mais motivos para celebrar, e não apenas religiosos. Localizada no centro histórico do município mineiro e interditada ao público há uma década, a Igreja de São Francisco de Assis vai abrigar sua primeira missa após passar por uma restauração completa. O mesmo projeto contemplou também o restauro do imóvel vizinho, conhecido como a Casa do Conde de Assumar e recém-inaugurado como o novo Museu de Mariana.
Erigidas no século XVIII, as duas edificações integram o Conjunto Arquitetônico e Urbanístico de Mariana, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1938. São dois ícones do período colonial brasileiro, especificamente do fim do Ciclo do Ouro, cujos elementos arquitetônicos e artísticos contam parte da história e da cultura de Mariana – primeira vila e capital mineira – e do País. E, ainda hoje, seguem como bens de grande valor para moradores e visitantes.
Ambas foram entregues restauradas na última quinta-feira (28/09), em cerimônia que contou com a presença da ministra da Cultura, Margareth Menezes; do Secretário de Economia Criativa e Fomento Cultural do Minc, Henilton de Menezes; e do presidente do phan, Leandro Grass; além de representantes do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do Governo do Estado de Minas Gerais e da Prefeitura de Mariana, entre outras autoridades políticas e religiosas locais.
Máximo esplendor
De propriedade da Arquidiocese de Mariana, tanto a Igreja quanto a Casa vinham em estado de deterioração nos últimos anos. Construída entre 1762 e 1794 pela Ordem Terceira Franciscana, a Igreja esteve fechada desde 2013, devido a riscos estruturais. Já a Casa do Conde de Assumar – título de nobreza concedido a D. Pedro Miguel de Almeida Portugal e Vasconcelos, que foi governador da Capitania Hereditária de São Paulo e das Minas do Ouro e o provável primeiro morador da residência, cuja construção se estima por volta de 1715 – estava ainda em pior estado.
Em 2015, projetos contratados pelo Iphan, no valor de R$ 631.366,53, deram início à revitalização desses dois bens, que ficam em frente à Casa de Câmara e Cadeia de Mariana – outro bem recém-restaurado com investimentos do Iphan e entregue em agosto deste ano. Com base naqueles projetos, as obras na Igreja e na Casa do Conde de Assumar começaram efetivamente em 2019, sendo concluídas agora, quatro anos depois. O valor total do restauro foi superior a R$ 15 milhões, com recursos do BNDES e do Instituto Cultural Vale, viabilizados pela Lei Rouanet. A execução do trabalho ficou a cargo do Instituto Pedra, organização social sem fins lucrativos, que atua no campo do Patrimônio.
Representando o Instituto Pedra durante a cerimônia do dia 28/09, a arquiteta Jurema Machado, que já presidiu o Iphan entre 2012 e 2016, afirmou tratar-se de dois exemplares “excepcionais” do Patrimônio Cultural brasileiro. Sobretudo a Igreja, que, como notou Jurema, já passou por restaurações antes, “mas nunca tão integralmente”, recuperando enfim “seu máximo esplendor”.
Retratos de uma época
De fato, “esplendor” é um termo do qual poucos discordariam para descrever a Igreja de São Francisco de Assis, historicamente uma das mais visitadas por turistas, além de mais queridas pela população local, já que sedia o altar de São Roque, santo de maior devoção dos marianenses.
Mesmo quem não é devoto encontra, ali, um cenário de encher os olhos, com a quantidade de douramento que reveste seus altares, colunas e retábulos. Ou com as pinturas do templo, cujo destaque fica para os painéis no forro de uma das sacristias, representando a agonia e morte de São Francisco – obras de Manuel Costa Athaíde, o mestre Athaíde (1782-1830), cuja importância para o barroco mineiro, na pintura, se equivale à de Aleijadinho, na escultura.
Esses e outros elementos artísticos – incluindo obras de outros nomes de relevo, como Francisco Vieira Servas (1720-1811) e Francisco Xavier Carneiro (1765-1840) – se apresentam novamente em sua exuberância original, assim como o projeto arquitetônico do mestre-de-obras José Pereira Arouca, com todos os detalhes de infraestrutura envolvidos na recuperação do bem.
Já a restauração da Casa do Conde de Assumar trouxe desafios de engenharia ainda maiores, dado seu estado de degradação. Envolvendo um trabalho rigoroso de recomposição de sua estrutura, do piso ao teto, passando por pilares e vigas, a edificação em si também revela um pouco dos costumes da época. Sobretudo o modo de vida de autoridades e representantes da elite do Brasil oitocentista. Além do governador da Capitania, a Casa também hospedou Dom Frei Manoel da Cruz, primeiro bispo de Mariana, assim como provavelmente serviu de residência para algum próspero morador, que alugaria seus cômodos do térreo, abertos para a rua, para o comércio, ficando o piso superior reservado para a família proprietária.
Vetores de educação, renda e identidade
Com a restauração, a Casa agora é transformada no novo Museu de Mariana, que tem a história da própria cidade como tema, desde seu surgimento como vila, em 1696. O Museu aborda também o Arcebispado de Mariana, por meio de réplicas de tronos, indumentários e outras peças, além de manifestações culturais mais tradicionais da cidade, como bordados, tapetes de sisal, artesanatos de pedra sabão de cachoeira e os Zé Pereiras, bonecos alegóricos usados em desfiles de Carnaval. Para o próximo ano, o Museu ainda será ampliado com a aquisição de outro imóvel que fica aos fundos e com o qual a casa já tem ligação, de propriedade da Prefeitura de Mariana. Com diversos eventos previstos em sua programação, o plano é estabelecer o Museu como um novo centro ativo da vida cultural de Mariana.
Nesse sentido, tanto a Igreja de São Francisco de Assis quanto a antiga Casa do Conde de Assumar ganham novos significados, que reforçam a vocação do patrimônio arquitetônico e artístico nacional não apenas como retratos de outros tempos, mas como lugares de fortalecimento de identidade, de geração de renda e de educação para gerações atuais e futuras. Algo que ecoa a fala do presidente do Iphan, Leandro Grass, na cerimônia de descerramento das placas das duas obras. Segundo Grass, Igreja e Museu estão sendo entregues com “uma perspectiva de formação cidadã”.
“Isso é fundamental para que esse patrimônio de Mariana – e de Minas e de todo o Brasil – seja elevado ao patamar de respeito e de conexão com a população. São espaços onde a população vai se reconhecer, e isso é muito importante”, disse Grass, que aproveitou a ocasião para assinar, ainda, um termo de compromisso do Iphan para a restauração de outra importante capela em Mariana, a Igreja de Santana, no valor de R$ 1.560.357,35, pelo novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal.
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