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ARQUEOLOGIA
Iphan inaugura nova estrutura para visitantes do Complexo Arqueológico Nova Esperança, em Alagoas
estrutura para visitantes do Complexo Arqueológico Nova Esperança (Foto: Alexandre Figueira/Iphan)
Nas paredes de cavernas e rochas em Olho D'Água do Casado, sertão alagoano, figuras de bichos, plantas e gente contam uma história de mais de 8 mil anos, quando a sobrevivência dos antigos habitantes da região dependia da natureza e da união do grupo. Hoje, essas mesmas figuras pintadas e talhadas em pedra inspiram um projeto de turismo arqueológico e agroecológico que vem mudando a realidade dos homens, mulheres e crianças do assentamento rural Nova Esperança, cuja vida também depende, fundamentalmente, da forte ligação com a terra e de uns com os outros.
Assentados no lugar há 25 anos, eles são os guardiães do Complexo Arqueológico Nova Esperança que, na tarde des t a terça-feira ( 22/8 ) , inaugurou um novo centro receptivo e estruturas de apoio e acesso para visitantes dos 47 sítios de pinturas e gravuras rupestres encontrados ali. A cerimônia marcou a conclusão da primeira etapa de um projeto idealizado há três anos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura, que investiu mais de R$ 985 mil nas obras de conservação e gestão do complexo, além de oficinas de educação patrimonial com os moradores locais. Com isso, eles se capacitaram a atuar como guias de uma região cujas trilhas e riquezas naturais já conheciam muito bem, mas agora com um olhar também treinado para reconhecer a importância dos vestígios rupestres e apresentá-los para os turistas com o devido respeito ao valor que esse patrimônio carrega.
É o caso do Sr. Agaiton de Souza, 63 anos, assentado em Nova Esperança, que conduziu uma comitiva do Iphan e da prefeitura de Olho D'Água do Casado para conhecer a nova estrutura montada em um dos sítios arqueológicos do complexo. No caminho para o chamado Abrigo do Poldinho , placas com sinalizações, escadaria, plataforma e guarda-corpo recém-instalados permitem ao visitante ver de perto os registros deixados por antepassados. Ou, para quem mirar para o outro lado, um mundo de Caatinga de encher os olhos.
"É uma estrutura que facilita o acesso do visitante, mas também protege contra a depredação desse patrimônio, tanto pela ação humana quanto por animais como cabras e ovelhas que costumavam subir aqui", explica a arqueóloga do Iphan-AL, Rute Barbosa, uma das responsáveis pelo projeto.
Para Rute, porém, o maior crédito do projeto deve ser dado à própria comunidade, que se organizou para definir junt amente com o Iphan, desde o início, as ações que foram implantadas nesses últimos três anos. Além da educação patrimonial, o projeto incluiu também oficinas de costura, artes plásticas, agroecologia e culinária, promovidas por parceiros como Sebrae e Embrapa, por meio das quais os moradores do Nova Esperança passaram a fabricar produtos inspirados nos motivos rupestres de suas rochas, vendidos no novo centro receptivo do complexo.
Ana Paula Ferreira da Silva é uma das lideranças do assentamento que mais colaborou com o Iphan na realização do projeto. Presidente da Associação Pegadas da Caatinga, Ana Paula agradeceu à Rute e à equipe do Iphan-AL pelo cuidado com que o órgão se aproximou da comunidade com a ideia de transformar o patrimônio arqueológico local em geração de renda. "O Iphan entrou com respeito à nossa comunidade e nos mostrou que não existe turismo sem preservação, e que nós somos os guardiões dos sítios. Nós também somos patrimônio", disse a líder, ressaltando, ainda, que uma porcentagem da renda do turismo vai para os proprietários dos lotes por onde passam as trilhas que levam aos sítios arqueológicos.
Para o superintendente do Iphan em Alagoas, Maicon Marcante, trata-se de um projeto de longo prazo que não se encerra com a entrega das novas estruturas pelo Instituto, já que a visão de educação patrimonial é justamente perpetuar a consciência do valor do patrimônio pelas próximas gerações. "É bastante simbólico que o novo centro de recepção de visitantes esteja do lado de uma escola", disse o superintendente, referindo-se à escola de Ensino Fundamental D. Pedro II, que atende às crianças do Nova Esperança.
Um grupo de alunos, inclusive, brindou a plateia do evento de inauguração com uma apresentação de xaxado.
Professora de alguns desses alunos, Maria Betânia Vieira de Souza, 35, fala por experiência própria da importância desse olhar educativo do projeto. Assentada, filha do Sr. Agaiton e também ela uma das guias das trilhas do complexo arqueológico, Maria Betânia deu seu testemunho de até onde a educação pode levar as pessoas para além de sua origem. Filha de pais semianalfabetos e hoje pedagoga e mestre em Geografia, Betânia comenta como a implementação do projeto ajudou as crianças do assentamento a terem novas perspectivas sobre os rumos que podem tomar. "Antes tínhamos êxodo de alunos, hoje Já temos jovens pensando em fazer turismo, nutrição, curso de agroindústria", diz a professora.
Também presente à cerimônia, a diretora do Centro Nacional de Arqueologia, Jeanne Crespo, agradeceu à comunidade por abraçar o projeto e ajudar a preservar com zelo o patrimônio nacional descoberto nas trilhas do Nova Esperança. "Espero que mais ações como essa reverberem pelo Brasil, acho que todo mundo deveria conhecer", disse a arqueóloga.
"Patrimônio é sobre passado, sobre o nosso ancestral que viveu aqui, mas também é o que vocês estão construindo hoje aqui, com esses jovens, para o futuro", concordou o presidente do Iphan, Leandro Grass, que afirmou se empenhar para que o complexo arqueológico do Nova Esperança, em Olho D'Água do Casado, continue dando novos frutos e seja mais conhecido. "Estamos registrando o que está acontecendo aqui porque o Brasil vai ficar sabendo do que vocês estão fazendo. Nova Esperança pode ser referência para o P aís."
Fotos: Alexandre Figueira/Iphan
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