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OBRAS IPHAN
Fundo de Defesa de Direitos Difusos visita obras da sede do Iphan-RJ
Construído para sediar a Companhia Docas de Santos, prédio é decorado com temática marítima. Créditos: Daniela Reis
Na última quart a-feira ( 14 ), uma comitiva do Fundo de Defesa d e Direitos Difusos (FDD) , coordenado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) , visit ou as obras do Edifício Docas de Santos . A edificação abriga a superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Rio de Janeiro (RJ) . Desde dezembro de 2019, o edifício , também conhecido como RB46 , passa pela maior restauração de seus 11 5 anos de história. O FDD investe cerca de R$ 13 milhões nas intervenções , que são executadas pelo Instituto .
“É gratificante ver a materialização do investimento do Ministério da Justiça para o que acontece com a vida real de quem mora na cidade e de quem cuida do patrimônio. Esse movimento dialoga com a história e a memória do Brasil, especialmente aqui no Rio de Janeiro, que já foi capital da República”, celebra Tomaz Miranda, diretor do Departamento de Projetos e de Políticas de Direitos Coletivos e Difusos do MJSP . “O Brasil precisa olhar com mais carinho para a conservação do patrimônio”, reforça .
A visita p ossibilitou a apreciação das pinturas artísticas e decorativas do prédio , atribuídas aos artistas Del Bosco e Benno Traidler . Encobertas por camadas de tinta branca desde a década de 1960, as obras de arte foram reveladas após decapagem e reintegração cromática.
Conservadora e restauradora de b ens c ulturais do Iphan , Cláudia Nunes adi anta a próxima etapa , que promete encantar os admiradores do Patrimônio Cultural: o douramento de frisos dos forros no hall . A dot ando a técnica milenar inventada no antigo Egito, folhas de ouro serão aplicadas s obre os objetos para dar aparência de ouro maciço .
Outr a melhoria é a conservação da fachada, já concluída. Foi resgatado o tom ocre da edificação e feita a limpeza e consolidação das pedras, há décadas deterioradas e escurecidas por fuligem e sujidades" Arquiteta do Iphan e especialista em pedras, Catherine Gallois explica: “O projeto da fachada foi bastante detalhado e muito bem documentado. É uma obra de arte que se deteriora rápido, então precisa de monitoramento contínuo. T udo foi feito com fundamento científico: houve uma simbiose entre Iphan e o Laboratório de Conservação e Alterabilidade de Materiais de Construção (Lacon) do C entro de Tecnologia Mineral ( Cetem ) ” . O Centro é uma unidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovaç ão .
A s intervenções incluem o restauro dos bens móveis integrados, da cobertura e de esquadrias, pisos e paredes. Contemplam ainda as adaptações para tornar os ambientes acessíveis , renovar a rede elétric a e implementar um sistema de segurança com circuito fechado de TV.
" Destaca-se n essa obra também o reforço estrutural da laje do 2º pavimento, nas áreas destinadas à biblioteca e ao arquivo. Composta por perfis metálicos, lajotas cerâmicas e revestimento de tabuado, a laje foi reforçada com concreto armado, o que garantiu maior rigidez ” , explica o engenheiro civil Gustavo Tavares, servidor do Instituto. “ Essa intervenção foi importante pois, além dos arquivos convencionais e estantes de livros, instalaremos no pavimento quatro arquivos deslizantes, fundamentais para abarcar o acervo do I phan " , complementa.
A história do prédio
Quando o edifício começou a ser construído, os carros eram raros na avenida e os pedestres caminhavam pela via vestidos a rigor: homens portavam fraque e cartola, enquanto as mulheres trajavam chapéus e vestidos longos. Mais de um século depois, a moda se transformou e o fluxo de carros aumentou em grande medida. Atualmente, o RB46 testemunha a agitação urbana contemporânea e ecoa o apito do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) que, com regularidade, atravessa o trecho da rua em frente ao monumento.
Inaugurado em 1908 n a então Avenida Central, atual Rio Branco, é um dos poucos remanescentes da abertura da avenida, no início do século XX, e o último dos imóveis comerciais de porte leve. Grande parte dos materiais que dão forma às paredes, escadarias, maçanetas e aos corrimãos do imóvel partiram da Europa e atravessaram o Oceano Atlântico antes de desembarcar na costa carioca. De estilo eclético, foi projetado pelo engenheiro paulista Ramos de Azevedo e construído pela empr esa A nt onio Januzzi , Filho & Companhia.
Foi edificad o para ser a sede da Companhia Docas de Santos, empresa que administrava o Porto de Santos. O prédio, com pisos e balcões em mármore de Carrara, é decorado é decorado com temática marítima: referência à vocação naval da companhia de propriedade d os Guinle , uma das mais abastadas famílias da época .
Os salões e os adornos a todo o momento trazem o mar para dentro da edificação. Na fachada, em cantaria e argamassa pigmentada, podem ser notadas proas de navios e gárgulas decora m os andares superiores. O minucioso trabalho de entalhe de madeira nas portas também remete às navegações. As alegorias míticas evocadas por esses elementos resgatam o período em que o comércio marítimo conduzia a exportação do café brasileiro para o mundo.
O imóvel dispõe de duas lojas no térreo dotadas de vitrines em cristal. Internamente, a estrutura é de ferro fundido, inclusive a escada que perpassa os cinco pisos e que contorna o elevador da época da inauguração. Um dos primeiros a ser instalado no Rio de Janeiro, o elevador ainda funciona e foi restaurado .
O tombamento da edificação ocorreu em 1978, com a inscrição em dois Livros do Tom b o do Iphan: o Histórico e o das Belas Artes . Oito anos depois, em 1986, tornou-se sede da Fundação Pró-Memória, que em conjunto com o então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan ) , deu origem ao Iphan. Atualmente, o Instituto é uma a utarquia f ederal vinculada ao Ministério d a Cultura .
Recursos do FDD
O
fundo
reúne recursos provenientes de condenações judiciais
e de
multas e indenizações para a reparação de danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.
Entendidos como reparação à ordem econômica e outros interesses difusos e coletivos, esses valores são destinados a projetos de órgãos públicos e entidades civis, selecionados a partir de decisão do Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa de Direitos Difusos.
A lém do Docas de Santos, no Rio , o s recursos foram destinados a outros monumentos tombados pelo Iphan, como o Museu Histórico Nacional, o Museu Nacional de Belas Artes e a Casa de Rui Barbosa .
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