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PRÊMIO RODRIGO 2021
De procissões a carreatas, o Reinado está de pé em Santo Antônio do Monte (MG)
Reinado de Nossa Senhora do Rosário (Foto: Divulgação).
“Informamos que devido à atual situação em que vivemos, a tradicional Festa do Reinado de Santo Antônio do Monte sofreu alteração em relação ao seu formato tradicional”, dizia o banner digital veiculado nas redes sociais pelos organizadores da festa no município de Santo Antônio do Monte (MG). A situação a que o comunicado se referia era a pandemia de Covid-19 que suspendeu festas, eventos e rituais em todo o Brasil. Mas a festa não parou. A programação foi toda adaptada para ser transmitida pelo Youtube. As procissões viraram carreatas. E as imagens de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia trocaram os andores pela traseira das picapes.
Manifestação afro-brasileira, o reinado ou congado, herança dos africanos escravizados no período colonial, reencena a coroação de reis e rainhas congos, perpétuos e festeiros. Tendo como ícone Nossa Senhora do Rosário, as congadas homenageiam a santa por meio de danças e cantigas. Em Santo Antônio do Monte, é a maior festa religiosa, mobilizando devotos e simpatizantes, que durante meses se engajam na organização e realização dos eventos. Os cargos de reis e rainhas são perpétuos – permanecem com eles até a morte dos devotos.Uma interrupção na festa era o maior medo da comunidade. Mesmo com registros de realização da festa que datam de mais de 200 anos, paira na memória dos santo-antonienses o período de 1945 a 1961 em que a festividade não foi aconteceu. As versões são várias, mas a lembrança não é boa. “Alguns falam que o padre que chegou não gostava da festa e a interrompeu. Outros falam que foi uma interrupção em toda a diocese das festas do congado”, diz Geraldo Aparecido da Silva, membro da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário. “Em 1961, veio um novo padre. Ele era negro e conhecia o Congado. Procurou as pessoas e propôs o resgate da festa do Reinado.” Mesmo com o temor diante da então desconhecida pandemia, a irmandade decidiu inovar.
Reinado digital
“Ficamos naquela: faz-não-faz, na esperança de que a pandemia passasse rapidamente”, conta Geraldo. “Mas o tempo foi passando e a gente percebeu que não daria pra realizar a festa em agosto”, completou. Foi aí que surgiu a ideia da live. Era o boom do modelo de eventos que foi alternativa à necessidade de distanciamento social imposta pelo coronavírus. Começou a mobilização virtual: foram realizadas reuniões, elaborados roteiros e instituído um novo formato. “Conseguimos um local aberto, controlamos a portaria. Cada apresentação podia ter apenas dez pessoas. No intervalo das apresentações, colocamos entrevistas, pessoas dando depoimentos sobre a festa”, explica Geraldo.
Tradicionalmente, no início da festa levantam-se as bandeiras dos santos que ficam hasteadas em mastros de seis metros em frente à porta do Santuário de Nossa Senhora do Rosário. E um dos grandes momentos é a celebração do descimento das bandeiras, encerrada com a procissão das congadas – que, em 2020, se transformou em carreata. Os carros enfeitados, os reis sentados nos bancos do carona; em cada veículo, uma bandeira e os reis tocando tambores nos assentos traseiros. “Foi uma carreata de seis quilômetros, com quase mil carros. Isso foi muito bom, foi um sucesso total”, comemora o organizador.A ação intitulada “Fé, pandemia e novas tecnologias: o Reinado de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia” conseguiu alcançar 24 mil pessoas com a transmissão online – quase o número da população municipal, que é de 28 mil habitantes. O projeto foi um dos 12 vencedores do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade 2021 na categoria de iniciativas de excelência na preservação e salvaguarda do Patrimônio Cultural adaptadas ao contexto da pandemia. A ideia que deu certo e cresceu. Em 2021, com a festa novamente transmitida virtualmente, o alcance ultrapassou 35 mil pessoas que nos celulares e computadores deram vivas aos santos pretos.
Realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Prêmio Rodrigo tem como objetivo valorizar e promover ações que atuam na preservação dos bens culturais do Brasil. Este ano, foram escolhidos 12 projetos vencedores. Dez delas são contempladas com R$ 20 mil, e duas são reconhecidas com menção honrosa. A cerimônia de entrega dos prêmios será realizada nesta quarta-feira, 13, a partir das 15h, com transmissão online.
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