Comunidade quilombola no Paraná recebe oficina de artesanato

A comunidade da Restinga, no município da Lapa (PR), oferecerá uma oficina gratuita de artesanato quilombola, prevista para a próxima sexta-feira (19/07), às 14h. Promovida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a ação é aberta ao público, mediante inscrição por meio de formulário online. Os interessados podem se inscrever até o dia 18 de julho. 

A oficina será realizada em espaço da Associação Quilombola e Afrodescendente da Restinga e será conduzida pelas descendentes das antigas matriarcas da comunidade, Amélia e Setembrina - a professora Adriana Alexandre e as artesãs Cláudia Ferreira e Maria Aparecida Martins. Serão ensinadas técnicas de produção de cestos de palha, de milho e de bananeira; assim como de confecção de baixeiros, peças feitas com retalhos de tecidos e utilizadas abaixo das selas dos cavalos para proteger os lombos dos animais.

Os baixeiros, usados abaixo das selas dos cavalos, estão associados às atividades tropeiras. (Foto: Iphan-PR)

A oficina possibilitará uma imersão nos saberes e fazeres artesanais da comunidade remanescente de quilombo da Restinga que se relacionam com as atividades tropeiras na Lapa. Desde o século XVIII, os negócios dos tropeiros, com seu comércio de  mulas e outros animais de carga, fizeram parte do dia a dia de várias comunidades das regiões Sul e Sudeste do país.

“Serão compartilhadas, ainda, as memórias e histórias das mulheres da comunidade a respeito do trabalho com artesanato na época em que a lida com as tropas de muares foi uma importante atividade econômica da região da Lapa”, explica a superintendente do Iphan-PR, Fabiana Martins.

Durante a oficina, as etapas de produção das peças artesanais serão fotografadas e filmadas para compor a próxima exposição do Museu Casa Lacerda, em Lapa (PR), que abordará referências culturais negras do caminho das tropas na região. A mostra está prevista para setembro de 2024 e apresentará memórias e histórias sobre a participação das comunidades negras no ciclo do tropeirismo.

A ideia de realizar uma exposição a partir desses saberes e fazeres quilombolas surgiu em 2023, após roda de conversa com lideranças da comunidade sobre as histórias e memórias da Restinga no Museu Casa Lacerda, realizada durante a programação da Primavera dos Museus.

Referências culturais do tropeirismo

Os ofícios, lugares e outros elementos associados ao tropeirismo na Lapa já foram objeto de Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC)  realizado pelo Iphan, entre 2004 e 2006. O trabalho foi um desdobramento do tombamento do conjunto histórico da cidade, na década de 1990, que buscou produzir conhecimento sobre os bens imateriais locais. O levantamento teve como eixo o tropeirismo, considerando a relevância desse ciclo socioeconômico para a história da região. 

Uma das referências identificadas no trabalho foi, por exemplo, o ofício do seleiro, detentor dos saberes da produção artesanal de artigos necessários à montaria, como o baixeiro. O INRC da Lapa, entretanto, limitou-se a identificar a ocorrência do ofício na sede do município, na antiga Rua das Tropas, onde os seleiros eram e são, na maioria, homens brancos”, aponta o analista de Patrimônio Cultural do Iphan-PR, Rafael Boeing. “Com a oficina e a exposição que será construída a partir dela, estamos buscando expandir o olhar sobre esta e outras referências culturais do tropeirismo, indo além do que foi identificado pelo Inventário e focando principalmente nas comunidades negras da Lapa, com destaque para a Restinga, onde os baixeiros são produzidos por mulheres negras”, complementa.

Serviço
Oficina de artesanato quilombola - baixeiros e cestos de palha
Data: 19 de julho
Horário: 14h
Local: Associação Quilombola e Afrodescendente da Restinga – BR 476, KM 189, Restinga – Lapa (PR)
Inscrições: https://forms.gle/5uzKMDQ1ZKUk6E7EA 
Mais informações: (41) 3264-7971 | museucasalacerda@gmail.com

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