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RECONHECIMENTO
Comitê Gestor do Cais do Valongo recebe homenagem da Câmara do Rio de Janeiro
(Foto: Oscar Liberal)
No dia Mundial da África, celebrado todo 25 de maio, uma homenagem histórica: a Câmara Municipal do Rio de Janeiro (RJ) concedeu o Conjunto de Medalhas de Mérito Pedro Ernesto ao Comitê Gestor do Sítio Arqueológico Cais do Valongo. Gracy Mary Moreira recebeu, em nome do comitê, a honraria, o maior reconhecimento oferecido pela casa legislativa. Além de gestora e pesquisadora, Gracy é bisneta da Tia Ciata, uma das maiores influências para a criação do samba carioca. Permeada por discursos potentes e emocionados, a solenidade foi realizada na última quinta-feira, no Palácio Pedro Ernesto.
“Não se trata do que nós queremos, mas sim do que nossos antepassados querem. O Comitê Gestor vai atuar para preservar esse sítio arqueológico”, pontuou Gracy, que é uma das representantes da sociedade civil no comitê.
Para a diretora do Departamento de Cooperação e Fomento do Iphan, Desiree Tozi, a entrega da honraria ao Comitê Gestor representa o reconhecimento da contribuição da população negra na manutenção e preservação do sítio Patrimônio Mundial. “Receber esse reconhecimento no Dia da África é lembrar que essas pessoas descendem de outras pessoas que estiveram traçando no território brasileiro, novas relações familiares, novas relações sociais, apesar do contexto da desumanização que a escravidão foi”, destaca a diretora.
Outras figuras da cultura negra também receberam medalhas, como o médico e comunicador Fred Nicácio e a instituição The African Pride. A apresentação do grupo de afoxé Filhos de Gandhi-RJ embalou o evento. As homenagens foram uma iniciativa da vereadora Thais Ferreira.
Gestão compartilhada
Extinto em 2019, o Comitê Gestor do Cais do Valongo foi recomposto por meio da Portaria nº 88, de 20 de março de 2023. O comitê é direcionado para a gestão compartilhada e participativa do sítio, reconhecido como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
O grupo é composto por 15 instituições representativas da sociedade civil e 16 governamentais nas esferas federal, estadual e municipal, contando com 31 membros titulares, cada um com um suplente. Entre as instituições integrantes estão o Ministério da Cultura (Minc), o Ministério da Igualdade Racial, a Fundação Palmares e o Instituto Brasileiro de Museus. O Iphan coordena os trabalhos do comitê.
O comitê deve elaborar um plano de gestão para o bem, o que inclui a implantação de um Centro de Interpretação/Museu da Herança Afro-brasileira no entorno do Cais. Nesta semana, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou que vai mobilizar R$20 milhões de recursos do banco e de parceiros para as duas primeiras etapas da Iniciativa Valongo, com foco nas instituições que já atuam no território e na conceituação do futuro museu, além da estruturação de projetos na região.
Histórico
Construído em 1811, o Cais do Valongo, no Rio de Janeiro (RJ), foi o principal ponto de desembarque e comércio de pessoas negras escravizadas nas Américas. Funcionou até 1831, quando se proibiu o tráfico transatlântico de africanos escravizados. A norma foi ignorada e recebeu a denominação irônica de “lei para inglês ver”. Da construção à proibição do tráfico, no local desembarcaram entre 500 mil e um milhão de escravos de diversas nações africanas. O monumento integra o circuito conhecido como Pequena África, onde se encontram edificações que testemunharam a história afro-brasileira.
Os vestígios do antigo Cais foram revelados em 2011, como desdobramento das escavações arqueológicas desenvolvidas para a implementação do projeto Porto Maravilha. O Iphan acompanhou todo o processo. Em 2017, a Unesco incluiu o Cais do Valongo na lista de Patrimônio Cultural Mundial, como sítio de memória sensível. Outros bens reconhecidos nessa categoria são o Campo de Concentração de Auschwitz, na Alemanha, e a cidade de Hiroshima, no Japão. Trata-se de locais de memória e sofrimento da humanidade.
A memória afro-brasileira associada ao sítio passou por tentativas de apagamento em dois momentos. Em 1843, o Cais foi ampliado e reparado para a chegada da futura imperatriz Tereza Cristina, que vinha para casar com D. Pedro II. Tornou-se conhecido, então, como Cais da Imperatriz. Já na república, em 1911, foi aterrado para dar lugar à Praça do Comércio. Entre os vestígios arqueológicos expostos atualmente no sítio encontram-se também elementos do Cais da Imperatriz.
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