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PATRIMÔNIO EDIFICADO
Capela de Nossa Senhora da Conceição do Tamanduá (PR) recebe tombamento definitivo do Iphan
O conjunto tombado inclui a igreja, seu acervo e o bosque que a circunda.(Fotos: Iphan-PR)
Representativo do processo de ocupação da região Sul do país, o Conjunto da Capela de Nossa Senhora da Conceição do Tamanduá, em Balsa Nova, no Paraná, é definitivamente Patrimônio Cultural Brasileiro. O tombamento definitivo foi decidido por unanimidade nesta terça-feira (03/09), durante a 105ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão colegiado de decisão máxima do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Com a decisão, a edificação será inscrita no Livro do Tombo Histórico, no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico e também no Livro do Tombo de Belas Artes. O conjunto, que havia recebido tombamento provisório do Iphan em 2012, é formado pela igreja, seu acervo de bens móveis e integrados e pelo bosque que a circunda.
Situada na área rural do município de Balsa Nova, a cerca de 50 km de Curitiba, a capela foi construída entre 1727 e 1730, para abrigar a imagem de Nossa Senhora da Conceição que Antônio Tigre, fundador do então povoado de Tamanduá, mandou vir de Portugal. A edificação foi levantada no mesmo local onde antes teria existido uma capela de madeira construída pelos frades carmelitas, por volta de 1709.
Com estrutura semelhante à de outras capelas rurais, apresenta planta simples, com nave única e capela mor, além de uma sala que às vezes funciona como sacristia. O telhado possui duas águas sem distinção de volume entre nave, capela e sacristia. A edificação é feita em alvenaria de pedra, com poucos vãos, sem torres e ornamentação, contando apenas com um sino na parede ao lado da sacristia. Elementos como a pia batismal e os enquadramentos em cantaria que emolduram as portas e janelas identificam a capela como um dos últimos monumentos remanescentes dos primeiros tempos de ocupação do sertão paranaense.
As análises e o pedido de tombamento federal do conjunto se iniciaram na década de 1950, por iniciativa do diretor da Divisão do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Paraná à época, Oldemar Blasi, que encaminhou relatório e documentação fotográfica ao então diretor do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rodrigo Melo Franco de Andrade.
Na análise do processo, em 1951, o arquiteto Lúcio Costa reconheceu que a importância do bem ia além dos limites do estado do Paraná, considerando, entre outros fatores, a permanência de “elementos autênticos” ainda preservados, apesar de intervenções sofridas ao longo dos anos. O arquiteto sugeriu, ainda, que fosse incluída no tombamento a área circunvizinha da capela, para preservar a “cintura de bosque” que a cerca.
Símbolo do tropeirismo no Paraná
De acordo com o parecer técnico que recomenda o tombamento, a edificação é símbolo do movimento denominado tropeirismo e do processo de ocupação dos Campos Gerais do Paraná, na expansão da fronteira oeste da região e do Sul do país. O tropeirismo, também conhecido como colonização tropeira ou Caminho das Tropas, resultou na fundação de várias cidades, deixando um legado cultural e econômico.
“O movimento tropeiro foi fundamental na ocupação do segundo planalto, porque, muitas vezes, era preciso pernoitar em pontos do percurso esperando a chuva estiar, ou o nível dos rios abaixar, o que gerava a necessidade de estoque de alimentos, disponibilidade de ferramentas e materiais para acampamento”, explica a conselheira Tânia Verri, relatora do processo. “O fluxo constante de pessoas ao longo da rota e a presença desses acampamentos criava oportunidade para estabelecer comércio, nucleando pontos de urbanização”, complementa.
O documento detalha, ainda, que o tropeirismo se relaciona também com o período da mineração do ouro no País, quando foram descobertas as primeiras jazidas na região de Iguape e Cananéia, no século XVII, atraindo bandeirantes e originando povoações como a de Tamanduá. O povoado foi um dos principais centros de irradiação em direção ao oeste paranaense entre o fim do século XVII e o início do século XVIII, mas esvaziou-se devido às condições geográficas, longe de mananciais e com escassez de lenha. Do povoado Tamanduá, restou apenas a Capela de Nossa Senhora da Conceição, única edificação remanescente.
Segundo a conselheira Tânia Verri, a relevância da capela ultrapassa os limites do regionalismo, “consistindo em um inegável marco histórico, que se liga pelo fio dos séculos ao bandeirismo, ao ciclo do ouro no Sul e, posteriormente, ao tropeirismo, que, ao seu tempo e de forma associada, contribuíram para a gradativa expansão territorial do Brasil e o consequente estabelecimento das fronteiras nacionais para além de Tordesilhas", concluiu.
Proteção
Com o tombamento definitivo, o conjunto tem proteção federal, por meio do Iphan, contra quaisquer tipos de destruição, demolição ou mutilação. O bem também não pode sofrer qualquer tipo de restauração ou modificação sem a prévia autorização do Instituto, nos termos do Decreto-Lei nº 25 de 30 de novembro de 1937.
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