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ARQUEOLOGIA
Canoas encontradas em sítio arqueológico são transferidas para Museu de Arqueologia da UFPR
Foto: Pedro Albach
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) organizou, no dia 1º de novembro, a transferência de duas canoas indígenas que estavam sob a guarda do Museu Paranaese (Mupa) e agora estão sob os cuidados do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba (PR). Os bens foram resgatados durante uma ação de arqueologia colaborativa na aldeia Tekoha Nhemboetê, em 2018, na região próxima ao sítio arqueológico de Cidade Real de Guairá, no Paraná, tombado em esfera estadual.
A transferência da guarda dos bens foi necessária para o início do Termo de Execução Descentralizada (TED) firmado entre o Iphan-PR e o Museu de Arqueologia e Etnologia, que tem como objetivo elaborar um diagnóstico do estado de conservação dos bens, contendo diretrizes de medidas curativas e preventivas a serem adotadas. Além do plano de conservação, o projeto visa, ainda, ações de difusão, que incluem seminários temáticos para intercâmbio entre estudantes e formação teórico-prática de profissionais indígenas que possam atuar em projetos futuros de pesquisa e gestão do Patrimônio Arqueológico.
A ação de transferência das canoas, que contou com a participação de arqueólogos e técnicos do Iphan e do museu, bem como a presença de líderes Avá-Guarani, foi marcada por rituais simbólicos que autorizaram e testemunharam a transição e por uma roda de conversa no Iphan.
As canoas ficarão sob a guarda do MAE até que seja possível o retorno para a aldeia Tekoha Nhemboetê, seu local de origem. “O Iphan pretende viabilizar um espaço cultural próximo ao sítio arqueológico de Cidade Real, gerido de forma colaborativa com as comunidades indígenas dos municípios de Terra Roxa e Guaíra, garantindo a preservação do Patrimônio Arqueológico em diálogo com as tradições Avá-Guarani”, explica a superintendente do Iphan-PR, Fabiana Martins.
Como instituição responsável pela guarda dos objetos arqueológicos, o MAE garante a continuidade das pesquisas e também da preservação das peças. O Iphan, por sua vez, compromete-se em monitorar essas atividades, realizando fiscalizações periódicas para assegurar a integridade e preservação adequada dos bens. Com a mudança para a reserva técnica do MAE/UFPR, mantém-se unido todo o acervo, evitando a dispersão da coleção e permitindo um acompanhamento das comunidades indígenas envolvidas na pesquisa arqueológica durante os próximos anos.
Ygá-Miri
As duas canoas foram resgatadas em 2018, por meio de ação interdisciplinar, promovida pelo Iphan, com apoio técnico-científico da Coordenação do Patrimônio Cultural do Paraná.
Em 2013, os Avá-Guarani da Tehoka Nhemboetê revelaram a existência de indícios arqueológicos nas proximidades do sítio arqueológico de Cidade Real de Guairá (PR). Entre fragmentos cerâmicos e artefatos líticos, eles encontraram o remanescente de uma canoa indígena.
O local passou a ser monitorado e, durante a pesquisa arqueológica, uma segunda canoa foi encontrada e batizada de Ygá-Mirî. Esta canoa revelou-se um elo espiritual e material com o passado, e um elemento importante para a luta Avá-Guarani pelo direito ancestral de viver em seu território.
O resgate da canoa Ygá-Mirî resultou em videodocumentário disponível no canal do Iphan no Youtube, no qual lideranças indígenas ressaltam a importância do bem para a cultura local. Os povos Guarani foram fundamentais para a preservação dos vestígios da peça e demais resquícios arqueológicos até que o projeto de resgate fosse viabilizado. Eles acompanharam todo o processo e trabalharam com as equipes de campo.
“Vamos dizer que a canoa é antiga. Mas para nós, povo indígena, essa canoa é um futuro para as novas gerações, para as nossas crianças”, destaca Cacique Nazane, liderança da Tekoha Nhemboetê. “Hoje, para nós, essa canoa é um documento! Eu sempre falo isso, é um documento, mostrando para a sociedade que o povo Guarani daqui do Paraná, daqui do Brasil [existe], sim, nós somos povos indígenas: mantemos a nossa língua, mantemos a nossa cultura e mantemos a nossa crença", acrescenta.
“Primeiramente, eu quero agradecer a todas as equipes que estão respeitando a nossa cultura, principalmente no processo dessa mudança, porque não é em qualquer momento que a gente pode mexer… tem um espírito que cuida”, ressaltou Gilberto Benites, liderança Tekoha Pohã-Rendá e estudante de História. “A gente vai daqui contente, sabendo como vocês vão cuidar deles ainda aqui. Isso seria a democracia que a gente sempre fala: respeitar a cultura dos outros. Isso é o que está acontecendo! O que os rezadores pediram a gente está fazendo”, complementou.
Videodocumentário completo:
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