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Bens culturais fortalecem conexão e diálogo do povo brasileiro durante o Carnaval
Frevo. Foto: Andrea Rego Barros
A Política de Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) engloba ações que visam promover e difundir a sustentabilidade dos bens culturais, como parte da vida das comunidades detentoras. Alguns dos 52 bens registrados pelo Instituto são evidenciados na festividade mais popular do Brasil, o Carnaval. A festa abrange diferentes classes sociais do País, sendo sinônimo da diversidade cultural brasileira.
Visando reconhecer a importância desses bens culturais, que têm expressiva influência nos desfiles, alegorias, blocos de rua e trios elétricos, o Iphan atua na salvaguarda do Frevo, do Cavalo-Marinho, do Tambor de Crioula, do Caboclinho, do Maracatu Nação e Maracatu de Baque Solto, das Matrizes do Samba e do Samba de Roda do Recôncavo Baiano.
Cada uma dessas formas de expressão estão vinculadas ao calendário do Carnaval, embora aconteçam durante todo o ano nas comunidades detentoras. Além de expressarem uma herança cultural, esses bens registrados são elementos de conexão e diálogo e, também, um importante ativo econômico e social.
Tradição
Uma das características do patrimônio cultural imaterial são suas dinâmicas de transformação. São manifestações culturais vivas e que se difundem a partir das relações comunitárias, familiares, religiosas, dos fluxos migratórios do País e outras tantas formas. Nesse contexto, ocorrem trocas ao longo dos anos, fazendo com que a dança e a musicalidade do Frevo tradicional de Olinda e Recife, por exemplo, possam ser vistas nas festividades de outras localidades Essa é uma das características desses patrimônios, que se reproduzem de forma dinâmica pelo Brasil.
Religiosidade
Muitos dos bens registrados relacionados ao carnaval guardam uma relação com a religiosidade, como o catolicismo popular, as religiões de matriz africana e indígena.
Várias dessas expressões religiosas são recriadas nas brincadeiras a partir da criatividade e da tradição. Os instrumentos, as vestimentas e os apetrechos são alguns exemplos, que expressam a presença ancestral nas diferentes manifestações culturais.
“É em função de todo um processo de diáspora, por exemplo, que o carnaval brasileiro se constituiu como uma festa de sambas, batuques e maracatus”, relata o Diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial (DPI), Deyvesson Gusmão. “Cada uma dessas expressões, para o Iphan, são importantes tanto nas festividades como nas comunidades, são referências culturais para o país”, completa.
Frevo
O Frevo se constituiu, principalmente, por ser um protesto político em forma de música, dança e poesia que surgiu no final do século XIX. Denominada inicialmente de “Marcha Carnavalesca Pernambucana”, a expressão se configurou, sobretudo, pelas classes populares, as bandas e suas rivalidades, os escravos recém-libertados e os capoeiristas.
Manifestação densamente enraizada em Recife e Olinda, no estado de Pernambuco, em 2007 foi inscrita no Livro de Registro das Formas de Expressão como Patrimônio Imaterial Brasileiro. Em 2021, foi reconhecida pela Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
Com uma mescla de estilos musicais, o gênero se evidenciou por sua riqueza melódica e deu origem a outras modalidades, como o frevo de rua, o frevo de bloco e o frevo canção. Também resultou numa dança improvisada e contagiante tipicamente do frevo.
Cavalo-Marinho
O folguedo pernambucano, conhecido como Cavalo-Marinho, envolve dança, música, canto e a participação de figuras humanas, animais e fantásticas. O Cavalo-Marinho é uma brincadeira popular, que envolve performances dramáticas, musicais e coreográficas. Foi inscrita no Livro de Registro das Formas de Expressão, pelo Iphan, em dezembro de 2014. A manifestação cultural é realizada durante o ciclo natalino e seus brincantes são, em geral, trabalhadores da zona rural, concentrados principalmente na Zona da Mata do norte de Pernambuco e no sul da Paraíba.
Tambor de Crioula do Maranhão
De matriz afro-brasileira, o Tambor de Crioula do Maranhão pode ser praticado com ou sem finalidade religiosa. É uma forma de expressão de matriz afro-brasileira que envolve dança circular, canto e percussão de tambores. Seja ao ar livre, nas praças, no interior de terreiros, ou associado a outros eventos e manifestações, é realizado sem local específico ou calendário pré-fixado e praticado especialmente em louvor a São Benedito.
Essa manifestação afro-brasileira ocorre na maioria dos municípios do Maranhão, envolvendo uma dança circular feminina, canto e percussão de tambores. Dela participam as coreiras ou dançadeiras, conduzidas pelo ritmo intenso dos tambores e pelo influxo das toadas evocadas por tocadores e cantadores, culminando na punga ou umbigada – gesto característico, entendido como saudação e convite.
Caboclinho
O Caboclinho foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil em 24 de novembro de 2016 e inscrito no Livro do Registro das Formas de Expressão. A manifestação cultural dos grupos de Caboclos, ou Caboclinhos, recebeu o título de bem cultural imaterial por suas atividades no carnaval pernambucano desde o final do século XIX. Simboliza a memória do encontro cultural e da resistência, sobretudo das populações indígenas e também dos povos africanos escravizados, que reverberam profundamente na história do nordeste rural brasileiro.
Maracatu Nação
O Maracatu Nação – também conhecido como Maracatu Baque Virado – como expressão cultural cumpre uma função essencial para a formação da identidade afro-brasileira. Composto por um conjunto musical percussivo, o espetáculo apresentado durante o Carnaval é destacado pela harmonia estética e pela musicalidade.
Além de carregar inúmeras simbologias voltadas ao culto religioso, os grupos também remontam às antigas coroações de reis e rainhas congo. Em dezembro de 2014, o Maracatu Nação foi inscrito no Livro de Registro das Formas de Expressão como Patrimônio Imaterial Brasileiro.
Maracatu de Baque Solto
Criado em engenhos por trabalhadores rurais e do canavial, na Zona da Mata do Norte de Pernambuco, o Maracatu de Baque Solto é uma herança símbolo da resistência e da convivência com as adversidades existentes no final do século XIX. Conhecido também como Maracatu Rural, a expressão é marcada por sua musicalidade que transmite um tipo de batuque ou baque solto que nomeia a manifestação.
Esse Maracatu também é diferenciado por se tratar de uma brincadeira popular que se funde à música, dança e encenações dramáticas, provenientes de outras manifestações populares. Desse modo, em dezembro de 2014, a brincadeira foi inscrita como Patrimônio Imaterial Brasileiro no Livro de Registro das Formas de Expressão.
Matrizes do Samba – Partido-Alto, Samba de Terreiro e Samba-Enredo
Mais do que um gênero musical, o samba é uma prática sociocultural que se originou, em meados do século XX, nos terreiros. Esses espaços serviam como ponto de encontro para as comunidades, principalmente das áreas populares da cidade do Rio de Janeiro, que se reuniam para cantar as experiências da vida, o amor, as festas e a própria exaltação das escolas e da música.
Com influências nas expressões afro-brasileiras, a manifestação se consolidou em três novas formas de samba: o partido-alto, marcado pela disputa de partideiros em que os participantes se propõem a criar soluções poéticas a um determinado tema; o samba de terreiro, faz referência aos espaços de encontro e celebração dos sambistas, que ali dançam um samba livre com as marcas de sua ancestralidade; e o samba-enredo, composto de maneira melódica e narrativa para desfiles carnavalescos.
Inicialmente perseguido e marginalizado pela sociedade, hoje o samba é consagrado como uma das referências culturais brasileiras. Em 2007, inclusive, as Matrizes do Samba do Rio de Janeiro foram inscritas no Livro de Registro de Formas de Expressão. O Registro desse saber visa não somente preservar a tradição, mas também resgatar a espontaneidade e a improvisação dos sambas de raiz - como o partido-alto e o samba de terreiro.
Samba de Roda do Recôncavo Baiano
Os primeiros registros do Samba de Roda do Recôncavo Baiano datam dos anos 1860, com o culto aos orixás e caboclos. É uma expressão musical, coreográfica, poética e festiva das mais importantes e significativas da cultura brasileira. Exerceu influência no samba carioca e, até hoje, é uma das referências do samba nacional.
O Samba de Roda no Recôncavo Baiano foi inscrito no Livro de Registro das Formas de Expressão em 2004. Está presente em todo o estado da Bahia e é especialmente forte e mais conhecido na região do Recôncavo, a faixa de terra que se estende em torno da Baía de Todos os Santos. Em 2005, a Unesco reconheceu esse bem como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, o que motivou o Centro Cultural Cartola a analisar os variados estilos de samba no Rio de Janeiro, originários das reuniões musicais em casa de Tia Ciata, no Estácio, nas escolas de samba, blocos, morros, ruas e quintais.
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