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Após intervenções emergenciais, Igreja do Rosário e São Benedito (RJ) é reaberta ao público
Público compareceu à reabertura da igreja em cerimônia que celebrou o resgate da memória. Créditos: Daniela Reis
Em uma cerimônia marcada pela emoção e pelo resgate à história, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos, localizada no Centro do Rio de Janeiro (RJ), foi reaberta ao público nesta sexta-feira, 06 de agosto. Com protocolos para controlar a pandemia de Covid-19, os fiéis retornaram ao templo após meses fechado, devido às condições precárias de conservação. Para viabilizar a reabertura segura do monumento, doações custearam obras emergenciais na edificação.
Em dezembro de 2020, a Arquidiocese do Rio de Janeiro ganhou na Justiça o direito de assumir a gestão da igreja, que estava sob responsabilidade da Irmandade dos Devotos de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) acompanhou todo o processo, dando suporte técnico e tomando providências que lhe cabiam. A igreja e o seu acervo foram tombados em 1938 pelo Instituto, com a inscrição em dois Livros do Tombo: o Histórico e o das Belas Artes.
As intervenções custeadas pelos fiéis contemplaram revisão das instalações elétricas, serviços de limpeza e equipamentos de combate a incêndio, entre outros. Atualmente, está sendo elaborado um projeto executivo para uma recuperação mais ampla da igreja, visando a segurança do imóvel. Após a finalização, o documento será analisado pelo Iphan. Com a aprovação do Instituto, a Arquidiocese vai arrecadar recursos para executar a obra.
A missa para marcar a reabertura foi conduzida pelo cardeal Dom Orani João Tempesta. “Esta é a mais antiga catedral do Rio de Janeiro ainda de pé. Uma parte da história da nossa cidade, do nosso povo e do movimento negro está sendo entregue à comunidade”, comemorou Dom Orani.
“Este templo é um dos testemunhos mais representativos da luta por igualdade sob a égide da cristantade”, ressaltou o superintendente do Iphan no Rio de Janeiro, Olav Schrader, em discurso na ocasião. “Nós temos o sonho de restaurar esta edificação e de reconstituir todo o seu legado e beleza. Merecemos realizar este sonho pela nossa cidade, nosso país e por esta igreja, que é palco da longa trajetória pela liberdade de todos”, finalizou.
Histórico da Igreja
As origens do templo remetem ao ano de 1708, quando a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito recebeu o terreno na então Rua da Vala, atual Rua Uruguaiana. Em 1737, suas obras já estavam praticamente concluídas: a partir deste ano e até 1808, a igreja sediou a catedral da cidade. Neste período, batizou o padre José Maurício, homem negro que atuou como regente da Capela Real e se consagrou como um dos maiores compositores de música erudita do Brasil.
Ali também foram realizadas diversas sessões do Senado da Câmara às vésperas da Independência. Em 1822, foi redigida no local a representação popular que culminou no "Dia do Fico". Além disto, no templo repousam os restos mortais do Mestre Valentim, escultor, arquiteto e artista cuja obra deixou um legado singular para a arte brasileira. No século XIX foi um dos mais importantes cenários do movimento abolicionista, congregando figuras como José do Patrocínio, Luiz Gama, entre outros.
Em 1967, um incêndio comprometeu a decoração barroca do interior da edificação, não tendo sido recomposta desde então.
Localizada em um ponto de ampla circulação da cidade, próxima a escritórios e a vasto comércio popular da região do Saara, o monumento é um ponto de convergência na rotina de diversos cariocas que encontram nas paredes centenárias um espaço de fé, identidade e memória da defesa pela liberdade no país.
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Daniela Reis
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