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SEGMENTO V: PESSOAS FÍSICAS OU MEI
Prêmio Rodrigo: O sal da água e o Museu Casa de Quinca (CE)
A exposição permanente conta com mais de seis mil itens, dentre os quais há objetos, fotografias e documentos que ajudam a narrar o início da ocupação da região oeste da Ribeira do Curu, especialmente as cidades de São Gonçalo do Amarante e São Luís do Curu. A própria casa que abriga o acervo constitui patrimônio material da comunidade: antiga sede da Fazenda Canto Escuro, a edificação mais antiga do lugar.
Uma relação de afeto
A Casa de Quinca Moreira está localizada na comunidade Salgado dos Moreiras, zona rural do distrito de Cágado, às margens do rio Curu. Fica no município de São Gonçalo do Amarante, a cerca de 100 km da capital Fortaleza. Para grande parte da população, o museu é novidade que encanta e mobiliza cada morador, que se empenha em ampliar o acervo doando peças de suas próprias casas.
A história da comunidade está impressa em cada objeto que faz parte da exposição permanente: entrar na Casa de Quinca Moreira é viver a história e o cotidiano do povo sertanejo. Fotografias antigas apresentam os primeiros moradores da região. Também há objetos pessoais como chapéus, rosários, utensílios de cozinha, assim como documentos, cartas e muitos outros que pertenceram a pessoas que participaram da construção da comunidade.
“Todas as pessoas que fazem parte da região passam a contribuir com itens para nosso acervo. Numa entrevista com a filha de um dos primeiros vaqueiros da comunidade, ela disse que queria doar um chapéu de couro que foi de seu pai, a única lembrança que tinha dele. Disse que era uma peça muito importante para ela, mas que faria mais sentido se estivesse no museu do que guardada em casa”, lembra o diretor e principal idealizador do Museu Casa de Quinca Moreira, Roberto Moreira Chaves.
Na inauguração do museu, a população também fez questão de festejar e se juntou para fazer uma grande feijoada na casa de farinha da antiga fazenda, próxima à edificação onde funciona o projeto.
Engajamento: da escola à internet
Espaço de preservação do patrimônio histórico e cultural da região, o Museu Casa de Quinca Moreira também ajuda a promover cidadania e fortalecer a identidade local. Uma parceria com a escola pública da comunidade permite realizar oficinas de restauro e de educação patrimonial para crianças e incentivá-las a conhecer e cuidar dos bens culturais do lugar.
Inaugurado oficialmente em janeiro de 2020, o museu logo precisou suspender as visitações e atividades presenciais devido à pandemia de Covid-19. Para manter vivo o projeto e continuar próximo à comunidade, a organização da Casa de Quinca Moreira passou a realizar lives temáticas na internet para falar sobre patrimônio e cultura em seu perfil no Instagram (@museucasadequincamoreira) e no canal do Youtube .“Foi a forma que encontramos de continuar promovendo nossa história e identidade. Muitas vezes a própria comunidade não conhece seu patrimônio cultural, histórico, arqueológico e artístico, então procuramos levar essas informações”, destaca Roberto.
O museu no álbum de família
Tudo começou em 2006, quando Roberto Moreira Chaves, ainda adolescente, decidiu montar um álbum com fotografias da família. Ao ouvir os relatos das avós e reunir fotos e objetos para a Coleção Moreira Chaves – como denominou o acervo pessoal –, percebeu que a história da sua família se confundia com a trajetória de povoamento da região onde moravam.
“Ouvindo as histórias das minhas avós, Maria Oneide e Maria Augusta, aos poucos, pude perceber que colecionar esse material estava me ajudando a preservar a memória da minha região. A coleção nasceu como um projeto particular, mas senti a necessidade de ampliá-lo e, em seguida, voltá-lo para toda a região”, explica Roberto.
O jovem, então, decidiu pedir artefatos de outros moradores da vizinhança para incluir na coletânea. Em pouco tempo, conseguiu peças de diferentes famílias e, quando fez o primeiro inventário do acervo, em 2015, já contabilizava 1.700 peças, dentre fotografias, documentos e outros objetos.
Inicialmente, todo esse material era guardado no município vizinho, São Luís do Curu, em espaços cedidos pela família de Roberto, como a garagem de casa. Entre 2017 e 2018, o acervo sai de São Luís do Curu e vai para São Gonçalo do Amarante, onde ganhou lugar fixo para ser exposto à visitação: a antiga sede da Fazenda Canto Escuro. Atualmente, a coleção possui mais de seis mil peças inventariadas.
“Com o apoio que iremos receber do Iphan, iremos criar a nossa Reserva Técnica, que ainda não temos. Com ela, conseguiremos salvaguardar o nosso acervo, que é enorme e às vezes não é exposto." Roberto Moreira Chaves, diretor e um dos idealizadores do Museu Casa de Quinca Moreira.
O batismo da comunidade
A casa, que também ajuda a contar a história do lugar, foi construída na década de 1940, em taipa de mão, uma técnica que utiliza materiais como barro, madeira e cipó, e que envolve saberes tradicionais. Foi a primeira casa da região, onde eram realizados os batizados, missas e outros eventos, já que não havia igrejas ou outras construções por perto.
Em 2019, então, é criado o Museu Casa de Quinca Moreira. O nome é uma homenagem ao avô de Roberto: Joaquim Moreira, conhecido como Quinca Moreira, dono da fazenda que mais tarde originaria a comunidade Salgado dos Moreiras. O nome faz referência à água salobra que abastecia a região, por isso “Salgado”, e “dos Moreiras”, por serem terras de propriedade dessa família.
Os primeiros moradores da região fixaram-se por lá quando foram trabalhar na antiga Fazenda Canto Escuro. Receberam de Quinca Moreira pedaços de terra com uma casa de taipa para que pudessem viver, plantar e criar animais. Alguns familiares do fazendeiro também passaram a morar por lá e assim a comunidade foi se formando. O povoamento da região foi exigindo a criação de espaços coletivos como escola, praça, cemitério e igreja, que também foram construídos em terrenos cedidos por Quinca Moreira.
*Fotos: Coleção Moreira Chaves
Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade
A ação “Criação do Museu Casa de Quinca Moreira” foi vencedora do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade 2020, na categoria “Patrimônio Material”, segmento “Pessoas físicas ou MEI (Micro Empreendedor Individual)”. Realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Prêmio Rodrigo tem como objetivo valorizar e promover ações que atuam na preservação dos bens culturais do Brasil. Este ano, foram escolhidos 12 projetos vencedores. Cada iniciativa recebe uma premiação de R$ 20 mil.
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