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SEGMENTO V: COOPERATIVAS, ASSOCIAÇÕES FORMALIZADAS OU REDES E COLETIVOS NÃO FORMALIZADOS
Prêmio Rodrigo: A volta do anzol, do arpão e do curral
Projeto revaloriza conhecimentos tradicionais sobre a pesca(Foto: Divulgação).
O peixe preferido de Priscila Karipuna é o tucunaré, assado ou cozido, que ela pesca no igarapé Juminã, na aldeia Kunanã. Há cinco anos, porém, esse e outros peixes, antes abundantes na Terra Índigena Juminã, localizada no Baixo Oiapoque, norte do Amapá, estavam escassos.
A diminuição de recursos pesqueiros era resultado de vários fatores. A pesca industrial por não indígenas que adentravam esse território, fronteira com a Guiana Francesa, era um deles. Junto a isso, a venda para fora da comunidade contribuiu. E, por fim, o emprego, por alguns indígenas, de técnicas agressivas como a rede de malha, que retira dos rios e lagos, inclusive, peixes ainda muito pequenos, completava o problema.
Depois de participar da pesquisa colaborativa “Peixes, Pesca e Conhecimentos entre os Povos Indígenas do Baixo Oiapoque”, realizada pelo Museu Indígena Kuahí em parceria com o Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé), Priscila se empenhou em conscientizar a população indígena da Terra Juminã. Ela destacava a importância do ciclo ecológico dos peixes, o valor de práticas tradicionais e a importância da pesca sustentável para garantir recursos para gerações futuras.
O esforço resultou em um acordo, entre as aldeias da Terra Juminã, que incluiu a proibição de venda externa de recursos aquáticos e o uso de malhadeiras e tarrafas. Foi definido que, cada família, poderia capturar no máximo cinco quilos de pescado por dia. E, no caso da venda interna, poderiam ser capturados até dez quilos, desde que usados apetrechos de pesca tradicionais, como , arco e flecha, arpão e armadilhas como o curral. O acordo foi firmado com a participação de representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
“Minha bisavó contava que aqui na região tinha muito jejú, tucunaré, tamacá, kuahí. Durante a pesquisa ‘Peixes e Pescas’ para o museu Kuahí, percebemos que esses peixes estavam escassos. Contudo, como pesquisadora, eu não podia interferir. Mas, como indígena, após conclusão do trabalho, eu pude voltar e ajudar a comunidade na preservação dos recursos”, conta Priscila, que agora consegue pescar tucunaré utilizando anzol . “Após as proibições, aumentou a concentração de peixes que antes estavam sob risco de extinção.”
Novas regras, saberes ancestrais
A equipe dos 19 pesquisadores indígenas do Museu Indígena Kuahí e a etnoecóloga Pauline Laval (do Museu de História Natural de Paris) realizaram a pesquisa de campo nas terras indígenas Juminã, Uaçá e Galibi, além de registro, transcrição e sistematização dos dados da pesquisa “Peixes e Pesca”. Também foram parceiros na ação o Programa de Documentação de Acervos Culturais Indígenas do Museu do Índio (RJ), Unesco e Funai.
Segundo Pauline Laval, as oficinas permitiram sensibilizar sobre o fato de que essa riqueza precisa ser conservada frente às ameaças modernas. “A pesquisa mostrou que os povos indígenas do Oiapoque conseguem adotar regras novas de manejo dos peixes e permanecer com sua sabedoria ancestral imaterial (histórias, cosmologia, técnicas) e material (fabricação dos instrumentos tradicionais de pesca), o que garante até hoje uma alta concentração de peixes”, avalia a etnoecóloga.
O levantamento revelou ainda que, para conseguir perpetuar a pesca, os indígenas detêm de um conhecimento muito detalhado sobre espécies e ecossistemas, das constelações e da meteorologia. Também sabem manipular vários tipos de instrumentos de pesca, graças a uma prática regular que começa desde a infância. O trabalho resultou na publicação do livro “Peixes, Pesca e Conhecimentos entre os Povos Indígenas do Baixo Oiapoque”, lançado em 2019
A obra relata o relacionamento vital com o mundo aquático que caracteriza a região, uma paisagem formada por rios, lagos, lagoas e campos alagados. “A colaboração entre os saberes e práticas indígenas formou um banco de dados que preserva e disponibiliza estes conhecimentos”, explica a antropóloga do Iepé, Lux Vidal.
Conheça mais sobre a ação com os pesquisadores participantes:
Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade
A ação "Peixes e Pesca: conhecimentos e práticas entre os povos indígenas do Baixo Oiapoque, Amapá" foi vencedora do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade 2020, na categoria “Patrimônio Imaterial”, segmento “Cooperativas, associações formalizadas ou redes e coletivos não formalizados”. Realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Prêmio Rodrigo tem como objetivo valorizar e promover ações que atuam na preservação dos bens culturais do Brasil. Este ano, foram escolhidos 12 projetos vencedores. Cada iniciativa recebe uma premiação de R$ 20 mil.
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