Edição 2007
A primeira edição do prêmio, lançada em 2007, recebeu 138 projetos de todas as unidades da federação. Após análise, a comissão julgadora escolheu 12 propostas que priorizavam a inter-relação entre as artes visuais contemporâneas e os patrimônios brasileiros escolhidos. Nesse sentido, foram selecionados dois projetos que propõem uma leitura histórica das artes visuais e outros dez que difundem a temática da interação entre as artes visuais e o Patrimônio Cultural Brasileiro.
Categoria interações:
Dois vazios
Apresentado por André Severo e Marcelo Coutinho, através da Associação de Arte e Cultura (Arena), o projeto realizou quatro filmes experimentais concebidos e produzidos a partir da experiência de seus criadores, cuja premissa era colocar-se em situação de deslocamento contextual e confrontação cultural direta. Além de promover o encontro de duas linguagens artísticas (cinema e artes plásticas), as obras propuseram o embate entre duas vastas paisagens brasileiras: os pampas da região Sul e o sertão da região Nordeste.
Apagador
A instalação de Carlito Carvalhosa visou proporcionar um intercâmbio cultural entre o Rio de Janeiro e a Capela de Nossa Senhora da Conceição no Solar do Unhão. A obra abre, pela neutralização de sua arquitetura interna, outras possibilidades de percepção sensível e de renovação simbólica desse espaço ainda marcado por sua antiga função religiosa. Panos de TNT, pendentes dos tetos até uns 40 cm do chão e afastados em igual distância das paredes internas dos principais espaços do velho templo, criam frágeis salas dentro das naves, torres e demais espaços, que separam suas áreas daquelas criadas pelo artista, repetindo, em escala um pouco menor, os volumes originais.
Circuitos compartilhados
Resultado de uma pesquisa-ação e estratégia de circulação, o projeto Circuitos Compartilhados: registros de ações artísticas em circuitos auto independentes visou o compartilhamento do mais completo acervo de filmes e vídeos sobre os coletivos de artistas no Brasil, abrangendo a produção dos grupos recentes e também a de importantes iniciativas ocorridas nos anos 70, 80 e 90. Com ideia de disseminação da cultura, a proposta consistiu em atualizar o acervo e fazer 150 cópias da coleção, em DVD, para serem distribuídas entre os participantes, pesquisadores, museus e instituições culturais públicas do Brasil (e algumas do exterior), além de confeccionar um material editorial específico.
Em busca da imagem perdida
A edição desse filme reúne imagens do patrimônio cultural do estado Maranhão e depoimentos orais de pessoas de São Luís, Alcântara e Cururupu com o objetivo depreservar valores e memória. O projeto mostra um retorno à memória do Maranhão onde os registros dos relatos orais das experiências ali vividas, dos seus lugares e tempo, reorganizam fragmentos perdidos de um imaginário que, aos poucos, descobre-se como coletivo e particular. De São Luis a Alcântara e Cururupu, incluindo as ilhas do Livramento e de Lençóis, o filme é um olhar na direção dessas lembranças, mitos, crenças e perguntas que nos refletem.
Jaz
A obra, de João Loureiro, é uma instalação permanente localizada em São Miguel das Missões, no noroeste do Rio Grande do Sul, que estabelece uma relação entre arte e patrimônio histórico, propondo interrogar, de maneira crítica, os modos como são construídos e veiculados os discursos sobre a história. Trata-se da representação de um personagem histórico do século XVII, um bandeirante em rústicas vestes sertanistas. A construção assemelha-se a um jazigo, imerso no silêncio de um entorno rarefeito, mais ainda a um mausoléu, em seu afastamento e em sua frontalidade. Sugere ainda uma escavação arqueológica em processo, talvez no estágio em que os vestígios são esquadrinhados.
Morro da Conceição
Com a curadoria de Rafael Cardoso, o Morro da Conceição - sítio histórico de reconhecida importância na cidade do Rio de Janeiro – recebeu, nos dias 12 e 13 de abril de 2008, um grupo de 18 artistas que realizaram suas interações com o patrimônio urbano, além de oficinas que aproximaram a comunidade e visitantes. A intenção foi de promover a integração entre arte, patrimônio e comunidade, baseando-se em dois princípios elucidados por Aloísio Magalhães: primeiramente, que o uso é a melhor maneira de preservar o antigo e, paralelamente, que a comunidade é o melhor guardião de seu patrimônio.
O sonho e a ruína
A exposição de Luiz Carlos Felizardo propõe uma leitura em diversos momentos da missão de São Miguel Arcanjo, mostrando através de seus detalhes uma visão contemporânea da arte de fotografar. O artista reuniu imagens antigas, inclusive feitas por ele em várias viagens à região. Obedecendo ao padrão felizardiano, as fotografias são em preto e branco e a maioria foi feita com equipamento de grande formato. Os enquadramentos enfatizam não somente a precisão característica do fotógrafo, mas o rigor arquitetônico do templo, com sua rústica mas elegante alvenaria de silhar, tendo a pedra grés como base.
Passarela
A obra do artista Eduardo Coimbra integra o Espaço de Instalações Permanentes do Museu do Açude, que relaciona arte contemporânea, patrimônio e natureza. A criação de um circuito expositivo no bosque busca montar uma rede de sentidos e revelar aos olhos mais que o impacto plástico da imagem da Mata Atlântica; investe na multiplicidade de relações que ela pode gerar, construindo um vocabulário capaz de, para além do olhar, articular uma outra sintaxe de arte na floresta.
Respiração – pergunte ao...
O projeto, de Nuno Ramos, propõe uma reflexão sobre a história da arte e sobre a ideia de patrimônio, através da arte consagrada do passado e de elementos plásticos e escultóricos contemporâneos, fazendo com que as obras de arte voltem-se para si próprias. A maneira como ele realiza essa operação é radical e destemida, já que ele pretende estimular uma nova forma de ver a arte. Ao unir, arte e filosofia, Nuno Ramos as utiliza como instrumentos que vasculham a realidade e nos devolvem uma percepção que nos aproxima de algo que nos identifica com a verdade de nosso tempo.
Sentinelas
Essa é uma obra in situ que se realiza a partir de uma apropriação visual e sonora de um dos principais icones da arquitetura moderna brasileira – O Palácio Gustavo Capanema no Rio de Janeiro. A obra consiste em uma instalação sonoro-visual no espaço público, o pilotis do edifício. Pares de alto-falantes graves e agudos, fios e luzes são dispostos ao longo das colunas de modo a fundirem-se com sua arquitetura. A distância entre as colunas serve de base para a composição sonora emitida pelos diversos falantes, tornando perceptível através dos sons a harmonia de medidas e os volumes do espaço. Dessa forma se estabelece uma relação viva e inusitada entre os transeuntes que por lá passam e a magnitude da obra arquitetônica.
Categoria Leitura histórica:
Arte Brasileira no acervo MAC/USP
A exposição foi escolhida pela leitura histórica e a circulação de acervo que produz, levando a coleção paulistana para o conhecimento e a visitação do público baiano, no Palacete das Artes Rodin Bahia. Com obras de Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti, Luiz Sacilotto, Cildo Meireles, entre outros, a mostra permitiu aos visitantes o conhecimento da trajetória de nossa arte, preservando e valorizando a memória do povo brasileiro, cumprindo a privilegiada tarefa de difundir o patrimônio nacional brasileiro.
Sagrado Coração/Missão de São Miguel – Carlos Vergara
A exposição, realizada em quatro salas do Centro Cultural Paço Imperial, no Rio de Janeiro, estabeleceu um diálogo entre a obra contemporânea do artista e as ruínas de São Miguel das Missões, sítio arqueológico localizado no Rio Grande do Sul. As obras foram iniciadas quando o artista visitou a região e concluídas no retorno ao ateliê. Foram exibidas pinturas de grande escala, monotipias em tela, monotipias em pequenos lenços e fotografias ampliadas em 3D lenticular, além de um vídeo produzido em parceria com o cineasta Gustavo Moura.