Concurso Sílvio Romero de Monografias sobre Folclore e Cultura Popular - 2022
Em 2022, o Concurso Sílvio Romero analisou 37 trabalhos no campo da cultura popular. O 1º colocado é uma dissertação sobre a relação entre artesanato e capitalismo no povoado alagoano de Ilha do Ferro e o 2º lugar reconhece uma tese de doutorado que investigou o legado do Pai de Santo e artista Joãozinho da Gomeia. Os vencedores receberam, respectivamente, R$25 mil e R$20 mil. Foram ainda conferidas três menções honrosas.
1º lugar: Artur André Lins (Unicamp) - O Circuito das Artes Populares no Brasil: o caso do povoado Ilha do Ferro (AL)
A dissertação de mestrado, defendida sob o título original Artesanato e Capitalismo: o caso da Ilha do Ferro (Alagoas), tematiza a requalificação, reclassificação e reposicionamento das artes populares no mundo social contemporâneo. O objetivo é investigar as dinâmicas socioeconômicas e simbólicas de um circuito de bens culturais específico, um circuito de objetos plásticos que são classificados como “Arte Popular” e “artesanato tradicional”. O problema consiste na compreensão do processo de assimilação das artes populares ao sistema de arte-cultura (mundo da arte) e ao sistema de mercado (esfera econômica) contemporâneos. Assim, o pesquisador elegeu a formação de um polo artístico-artesanal no povoado sertanejo Ilha do Ferro (Alagoas) como um estudo de caso para compreender o funcionamento desse circuito das artes populares no Brasil. Nesse sentido, foram observadas a produção dos artistas-artesãos, a função dos intermediários, a legitimação e a circulação dos objetos.
2º lugar: Adriana Batalha dos Santos (UFF) - Entre ausências e presenças, enredamentos com a vida de Joãozinho da Gomeia em Duque de Caxias
A tese de doutorado, defendida sob o título original Pandeiro não quer que eu sambe aqui/ Viola não quer que eu vá embora’: Entre ausências e presenças, enredamentos com a vida de Joãozinho da Gomeia em Duque de Caxias, procurou seguir fluxos culturais que ligam indivíduos, redes sociais, instituições e poder público a legados religioso, artístico e político do pai de santo e artista Joãozinho da Gomeia. A pesquisa procurou limitar a identificação desses fluxos ao município de Duque de Caxias (RJ), para onde o baiano João Alves Torres Filho migrou no final da década de 1940 e comandou, até sua morte em 1971, seu “Terreiro da Gomeia”, criado em Salvador (BA). No entanto, os próprios fluxos transbordaram os limites que a pesquisadora tentou estabelecer. Logo, ela procurou seguir linhas que os pontos identificados de produção desses fluxos desenhavam. Nesse desenho, provisórias alianças e disputas enredam empreendedores da memória de Joãozinho da Gomeia a rastros materiais, simbólicos e encantados da presença de múltiplas “Gomeias” e “Joões”, acionando lutas patrimoniais e processos de reconhecimento social.
1ª menção honrosa: Eduardo Pontin Ferreira de Araújo (Encontro de Cultura Regional do centro-sul do Piauí, da Academia Florestense de Cultura Popular) - LEZÔ, LEZÁ, VAMÔ VADIÁ, NESTA LEZEIRA! - Ancestralidade e simbolismo na dança da Lezeira do sertão do Piauí
A pesquisa, apresentada sob o título original “A importância da Lezeira para a Cultura Popular, trata da Lezeira, um tipo de dança de roda de adultos que possivelmente seja o maior repositório de quadras populares ancestrais conservadas no Brasil atual. Música e dança existentes desde ao menos 1870, é ainda hoje cultivada por lavradores e lavradoras nos mais recônditos rincões do sertão do Piauí. Por essa razão, permanece desconhecida até mesmo dos próprios piauienses que residem fora da região centro-sul, onde é mais fortemente praticada. O trabalho visa descrever o valor simbólico e ancestral que a Lezeira exerce perante os seus participantes, como também documentar o seu ritual, quadro social, dança, cancioneiro e cantadores. A intenção não é retirar a Lezeira de seu lugar de origem, mas jogar luz a esta manifestação cultural para que o maior número de pessoas possa conhecer a sua riqueza escondida no coração do sertão do Piauí.
2ª menção honrosa: Priscila Maria Ribeiro Buzzi (USP) - “Cantar os Reis”: Sistemas de Cantoria e Localidade
Na tese de doutorado, a pesquisadora investiga como a cantoria de Reis da centenária Folia dos Prudêncios, grupo da cidade de Cajuru (SP) e os chamados sistemas de cantoria mostram como espaço, local e localidade são elementos importantes de compreensão para se pensar como tal música é produzida e entendida por todos que dela participam ao considerar as relações estabelecidas. A técnica é um dos elementos importantes dessa construção, embora não possa se furtar a reflexões ontológicas da Geografia. O processo de investigação parte da perspectiva da pesquisadora foliã, que ocupa esses dois papéis, sendo que atua na olia desde a infância. Considerando a autoetnografia como um dos métodos do trabalho, procura, através da análise do repertório transcrito, que totaliza 50 toadas diferentes (melodias cantadas pela Folia), compreender como o repertório da Folia atua como mecanismo de identidade do grupo.
3ª menção honrosa: Amalle Catarina Ribeiro Pereira (UnB) - Luta
A Tese de doutorado, defendida sob o título original “VIDA DE GADO: vaqueiros entre a lida e a palavra em Serrita (PE)”, traça uma etnografia que pretende compreender o processo relacional e prático de elaboração da pessoa do vaqueiro em sua luta. “Luta” é como vaqueiros chamam fazeres em que estão engajados com outros humanos e com animais, a caatinga, instrumentos de couro, lugares, tempos e palavras. Em torno da luta gravitam preceitos de virilidade que valoram vaqueiros, a partir do que são capazes de fazer. Portanto, a análise da luta compreende o estudo de práticas e valores. O exercício etnográfico de aproximação e contraste se deu por meio da linguagem fotográfica; por meio do engajamento da pesquisadora em seus fazeres, como aprendiz; e de uma apreciação das músicas e do aboio – manifestação poética de aboiadores que cantam a vaqueirice. A escrita dos capítulos é contextualizada pelas relações que vaqueiros estabelecem no âmbito de suas vivências, na luta, na pega de boi e na Missa do vaqueiro, em especial na cidade de Serrita (PE).
Departamento/Unidade responsável: Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP).