Concurso Sílvio Romero de Monografias sobre Folclore e Cultura Popular - 2017
Em 2017, o Concurso Sílvio Romero teve 20 trabalhos monográficos inscritos no campo da cultura popular. Os vencedores receberam, respectivamente, R$25 mil e R$20 mil. Outras duas monografias receberam menções honrosas.
1º lugar: Lilian Alves Gomes (UFRJ) - A peregrinação das coisas: trajetórias de imagens de santos, ex-votos e outros objetos de devoção
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), orientada por Renata Menezes.
Nesta tese analiso as relações engendradas por imagens de santos, ex-votos e outros objetos de devoção em situações nas quais os mesmos são mobilizados para outros fins que não o culto religioso. Os dados que subsidiam a pesquisa foram produzidos principalmente a partir de questões suscitadas por um conjunto de obras — classificadas, em sua maioria, como “arte popular” — entendidas neste trabalho como emaranhados de relações tecidas no decurso de sua produção, circulação, exposição e mesmo destruição. São esculturas, como os santos e exvotos, passando por exposições e publicações delas decorrentes, tais como livros e catálogos; pensadas como imiscuídas no fluxo da ação social de agentes diversos: fornecedores de material, artistas, marchands, colecionadores, folcloristas, intelectuais, restauradores, curadores, inventariadores, museus, professores universitários, órgãos culturais etc.
2º lugar: Jamie Lee Andreson (UFBA) - Ruth Landes e a Cidade das Mulheres. Antropologia e matriarcado nos candomblés da Bahia
Programa de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos da Universidade Federal da Bahia (UFBA), orientada por Maria Rosário Gonçalves e Carvalho
Por meio de fontes primárias, como cartas pessoais, manuscritos e a coleção de fotos tiradas no campo de pesquisa, essa monografia trata da experiência de campo e os debates relacionados à antropóloga norte-americana, Ruth Landes, no Brasil em 1938-1939. Examina, em detalhes, o relacionamento colaborativo e romântico entre Ruth Landes e o intelectual baiano Edison Carneiro Oferece uma análise comparativa entre a etnografia escrita e as fotos tiradas durante a pesquisa de campo para aproximar a experiência de Landes. Aborda a coleção de fotos como um rico registro histórico de personagens influentes no desenvolvimento do Candomblé, e o campo de estudos nos anos 1930. Coloca como suas interações no campo de pesquisa, principalmente com as mulheres e crianças em bairros negros e pobres, informavam as conclusões apresentadas nas publicações subsequentes. No final, aborda as críticas da tese do matriarcado e homossexualidade e coloca os trabalhos nos âmbitos dos estudos afro-brasileiros, da antropologia feminista e pós-moderna, de modo a considerar seus significados na academia e também a relevância da etnografia para abordar estudos sobre os candomblés atuais na Bahia.
1ª menção honrosa: Edilberto José de Macedo Fonseca (UNIRIO) - O toque do Gã: tipologia preliminar das linhas-guia do candomblé Ketu-Nagô
Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), orientado por Luiz Paulo Sampaio
Este estudo visa estabelecer uma tipologia das linhas-guia dos candomblés Ketu-Nagô praticados hoje na cidade do Rio de Janeiro, já que não foi possível encontrar ainda uma tipificação dessas linhas-guia. Essa pesquisa baseou-se em aulas particulares com os mestres percussionistas, os alabês; em gravações dos ritmos feitas em estúdio; em pesquisa bibliográfica e complementada por entrevistas com membros dos terreiros com os quais estabeleceu-se relacionamento regular. Integrada aos rituais, a música nos candomblés possui caráter sacralizador sendo inalienável à prática religiosa. É por meio da música que será possível estabelecer relações simbólicas entre os homens e as divindades cultuadas, os orixás. Executadas pelo instrumento gã, ou agogô, as linhasguia constituem padrões rítmicos que guiam o conjunto orquestral.
2ª menção honrosa: Rômulo Bulgarelli Labronici (UFF) - Na pata do cavalo: um estudo etnográfico com apostadores do turfe em agências credenciadas do Jockey Club Brasileiro
Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), orientado por Antônio Carlos Rafael Barbosa e coorientado por Lenin dos Santos Pires, ambos da UFF
Esta tese visa a consolidar uma construção etnográfica a partir de um longo trabalho de campo com apostadores de turfe no contexto urbano do Rio de Janeiro. De maneira geral, busco compreender os jogos de apostas como práticas mediadoras de relações sociais. Concebido como produto e produtor de arenas de sociabilidade que envolvem negociações, disputas e valores, de modo que as noções de espaço, tempo e moralidade são estabelecidas à medida que o jogo se desdobra. O foco aqui insere-se nas denominadas “Agências Credenciadas do Jockey Club Brasileiro”, que se constituem enquanto espaços dotados de uma sociabilidade masculina e como parte fundamental da vida de jogadores, que articulam família, trabalho, diversão e onde a presença das mulheres é constantemente coibida.
Deste modo, o entendimento das regras do jogo e seus desdobramentos, se tornaram a base de observação dos limites morais com quais os jogadores absorvem tal prática. Limites que envolvem gastos temporais, energéticos e financeiros. Assim, o entendimento das nuances das apostas foi essencial para compreensão do que está efetivamente sendo posto em jogo. Além do dinheiro: conhecimento, prestígio e sorte são articulados nas distintas formas de apostar. Neste sentido, o turfe enquanto uma competição entre cavalos e homens terá, em sua relação com a natureza, o estabelecimento de suas bases de consolidação das disputas entre jogadores, onde os cavalos correm e os homens jogam.
Comissão Especial de Seleção do Concurso Sílvio Romero 2017:
Letícia Borges Nedel, doutora em História e professora do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina;
Luciana Prass, doutora em Música – Etnomusicologia, professora adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Sul;
Roberta Sampaio Guimarães, doutora em Antropologia, professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro;
Simone da Silva Guerreiro, doutora em Letras, professora adjunta da Universidade Federal da Bahia;
Guacira Waldeck, mestre em Antropologia, pesquisadora do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, como representante institucional.