Concurso Sílvio Romero de Monografias sobre Folclore e Cultura Popular - 2016
Em 2016, o Concurso Sílvio Romero teve 48 trabalhos monográficos inscritos no campo da cultura popular. Os vencedores receberam, respectivamente, R$13 mil e R$10 mil. Outras três monografias receberam menções honrosas.
1º lugar: Fernanda Epaminondas Soares - Amor, o múltiplo artista: identidade negra, indústria fonográfica e afrorreligiosidades no pós-abolição
Getúlio Marinho da Silva, também conhecido como “Amor”, viveu durante as primeiras décadas do século XX no Rio de Janeiro. Nascido em Salvador, desde criança começou a fazer arte dos folguedos de Momo cariocas e tornou-se excelente bailarino mestre-sala. Na capital da República, Amor também exercia a função de músico; era sempre notícia dos jornais da época e ele próprio dizia ter criado as “macumbas” em disco. Através de sua trajetória, exploramos o contexto histórico, social e cultural da cidade, do final do século XIX às primeiras décadas de XX. Diante de sua história e repertório musical, foi possível analisar suas escolhas políticas frente à abertura propiciada pela indústria fonográfica, o que foi uma rica fonte para problematizarmos questões tais como identidade negra, protagonismo negro e relações raciais no Brasil e no Atlântico Negro.
2º lugar: Andréa Betânia da Silva - Entre Pés-de-parede e festivais: rota(s) poéticas orais na cantoria de improviso
Investiga a trajetória dos festivais de violeiros realizados no Nordeste brasileiro, tendo como fio condutor da pesquisa a poética oral, notadamente a cantoria de improviso. A fim de construir uma cartografia dos festivais, reflete sobre as mudanças sociais que motivaram o surgimento dessa estrutura mais moderna, o festival, com elementos voltados para o espetáculo urbano como transformação de uma prática mais tradicional, o “Pé-de-parede”, que acontecia no âmbito rural. O percurso entre a permanência de uma modalidade e o fortalecimento de outra passa pela produção de encontros e congressos que ocupam os espaços da cantoria improvisada, conhecida como repente. Do mesmo modo, revela a existência de rotas que impulsionam o movimento dos festivais.
1ª menção honrosa: Mesalas Ferreira dos Santos - Temporalidade e narrativa sobre folguedos folclóricos em Laranjeiras nos circuitos da cultura popular
Temporalidades narrativas sobre a cidade de Laranjeiras, localizada no estado de Sergipe, inserida nos circuitos da cultura popular. A ênfase recai na observação de grupos folclóricos como elementos que agenciam a memória local produzindo representações do presente e do passado da cidade, a partir de diferentes narrativas. A hipótese é que os grupos fornecem pontos de referência para a ordenação da memória popular e veiculam valores sociais ligados a elementos de crença religiosa, e por vezes relacionados a imagens de ordem/desordem da sociedade. Empreendo o método etnográfico para entender modos de vida através do encontro do investigador e dos atores investigados. Entre eles, destacou-se José Ronaldo de Menezes, Zé Rolinha, líder de dois folguedos tradicionais de Laranjeiras.
2ª menção honrosa: Rafael Henrique Soares Velloso - Aquarelas musicais das Américas: projetos identitários nas performances radiofônicas de Radamés Gnattali e Alan Lomax (1939-1945)
As trajetórias e as atuações profissionais de Alan Lomax e Radamés Gnattali apresentam-se nesta investigação como elementos centrais para a aproximação entre os projetos político-culturais implementados no âmbito das relações Brasil-EUA no período entre 1939 e 1945. Por meio de exemplos de programas da série Wellspring of music, escrita e produzida por Alan Lomax para o projeto American School of the Air, e da série Aquarelas do Brasil, produzida por Radamés Gnattali, Almirante e José Mauro, busca-se examinar as estratégias utilizadas para a criação dos modelos de performance musical utilizados em programas radiofônicos de conteúdo folclórico, responsáveis pelos processos de comunicação simbólica que teriam contribuído, tanto no Brasil como nos EUA, para a construção de identidades nacionais utilizadas nos contextos regionais e panamericanas.
3ª menção honrosa: Darllan Neves da Rocha - Arte é para todos
A tradição dos artesãos do Alto do Moura, Caruaru/PE, é construída e utilizada para marcar distinções sociais do grupo e entre seus integrantes, sob diferentes aspectos, enquanto elemento instrumental para sua visibilidade externa, a partir da qual é demonstrada como patrimônio. Assim, considero tanto as práticas elaboradas por políticas públicas, como as estratégias que os artesãos elaboram para demonstrar sua tradição. No entanto, essa também demarca distinção nos posicionamentos sociais pelos artesãos, que evidenciam a existência de uma hierarquia social através de categorias próprias. Tradição é o elemento definidor que diferencia os que a mantêm e os que a modificam, distinção interna à comunidade, que se organiza em grupos domésticos, demarcando a identidade, através de sua tradição.
Comissão Especial de Seleção do Concurso Sílvio Romero 2016:
Leticia Costa Rodrigues Vianna, doutora em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação do Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para a inclusão no Ensino Superior e na Pesquisa – INCTI/UnB/CNPq;
Frederico Augusto Garcia Fernandes, doutor em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, professor associado do Departamento de Letras da Universidade Estadual de Londrina;
Wagner Neves Diniz Chaves, doutor em Antropologia Cultural pelo Programa de Pós-Graduação do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, professor adjunto do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro;
Daniel Roberto dos Reis Silva, doutor em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisador do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, professor do Programa de Mestrado Profissional de Preservação e Patrimônio Cultural/Iphan, como representante institucional.