Edição 2014
Nesta edição, foram inscritas 54 monografias. Dessas, dois foram premiadas e três receberam menções honrosas.
1º lugar: Luís Carlos Mendes Santiago (Unimontes) - O mandonismo mágico do sertão – corpo fechado e violência política nos sertões da Bahia e de Minas Gerais (1856-1931)
A presente dissertação analisa a política das pequenas localidades do norte de Minas e do centro-sul da Bahia ao longo do Segundo Império e da Primeira República por meio da crença no carisma do Corpo Fechado (invulnerabilidade mágica a disparos de arma de fogo e golpes de arma branca), atribuído a quatro mandões locais: o padre José Vitório de Souza, o subdelegado Afonso Lopes Moitinho, Antônio Antunes de França (o bandido Antônio Dó, originalmente proprietário de terras) e o coronel Horácio de Matos.
Primeiramente foram estudadas as peculiaridades e as origens da crença no corpo fechado, passando-se, em seguida, a uma análise do contexto geográfico no qual esses mandões estavam inseridos. Passa-se então à análise da situação de violência coletiva endêmica, e mesmo de guerra, nas regiões onde esses mandões atuavam, focalizando preliminarmente as instituições dessa forma de violência para, em seguida, estudar quatro “guerras”, começando com os conflitos de natureza política nas margens mineiras do São Francisco, prosseguindo com a guerra mais bem caracterizada na região da Chapada Diamantina, inclusive a passagem da Coluna Prestes pela região (1926), quando os revolucionários se bateram com os mandões locais; e terminando com a luta entre clãs partidários dos “mocós” e dos “tamanduás”.
2º lugar: Edilson Sandro Pereira (Museu Nacional) - O teatro da religião: a semana santa em Ouro Preto vista através de seus personagens
Este é um estudo etnográfico sobre as formas de preparação e atuação dos personagens das encenações rituais mantidas em Ouro Preto (MG) por ocasião da Semana Santa. Baseado em pesquisa de campo, observou-se que a dramatização da Paixão de Cristo é acompanhada por uma sociabilidade que se enquadra nos termos de uma disputa entre duas paróquias: Antônio Dias e Pilar.
Constatou-se que tal rixa se manifesta através da representação da via-crúcis, que é protagonizada por imagens do Cristo e de Nossa Senhora das Dores, e complementada por diferentes personagens bíblicos, estes representados por moradores. Ao acompanhar os bastidores e as performances desses dois tipos de ‘atores’, foi analisado como são postos em ação uma progressiva pessoalização dessas imagens.
1ª menção honrosa: Bruno Sanches Baronetti (Universidade de São Paulo) - Da oficialização ao sambódromo: um estudo sobre as escolas de samba de São Paulo (1968-1996)
Esta dissertação apresenta as principais transformações institucionais, estéticas e musicais das escolas de samba da cidade de São Paulo entre 1968 e 1996. O corte cronológico inicial se justifica a partir da oficialização do concurso de cordões carnavalescos e das escolas de samba pela prefeitura da cidade, em 1968, que introduziu novas regras que modificaram a estrutura dos desfiles, contribuindo para a extinção dos cordões nos bairros da cidade. Já o corte final é justificado pelas transformações ocorridas na década de 1990, quando os desfiles deixam o espaço público da rua e passam a acontecer em um espaço construído exclusivamente para esse fim, o Sambódromo.
A pesquisa histórica se dá reconstruindo a atuação das duas principais federações carnavalescas da cidade de São Paulo: a União das Escolas de Samba Paulistanas (Uesp), fundada em 1973 com o objetivo de reunir as escolas de samba e blocos carnavalescos e representá-los junto ao poder público, e a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo (Liga), fundada em 1986 a partir de membros descontentes com a atuação da Uesp e que representa as escolas de samba do Grupo Especial e do Grupo de Acesso.
2ª menção honrosa: Luciano Accioli Rodrigues dos Santos (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) - O Santo, o Demônio e a besta-fera: modernidade e imaginário apocalíptico no sertão do Seridó Potiguar (sec. XX)
Este trabalho tem como meta principal desenvolver um estudo sobre o “imaginário apocalíptico” popular no sertão do Seridó norte-rio-grandense por meio da investigação de como este fora agenciado por uma coletividade de sujeitos para compreender o avanço da modernidade e as transformações culturais e tecnológicas fomentadas pelo processo de modernização na região e no município de Cruzeta, em particular entre as décadas de 1950 e 70. Buscando propor uma visão da história a partir da versão da “cultura popular”, a pesquisa se baseia sobre memórias e “tradições orais” que remetem às experiências vividas por “indivíduos comuns”, através da aplicação da metodologia da história oral.
3ª menção honrosa: Karla Leandro Rascke (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) - Divertem-se então à sua maneira: festas e morte na Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito em Florianópolis (SC), 1888 a 1940
Este trabalho apresenta considerações acerca das experiências de irmãos e irmãs atuantes na Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, em Florianópolis/SC, na virada do século XIX para o XX. Foi proposto utilizar, enquanto fontes, memórias registradas em documentos escritos e fotografias que revelam olhares e performances nas quais possamos inferir expressões de seus viveres e traços culturais.
Pretendeu-se compreender o impacto que as mudanças sociais advindas com a Abolição da escravidão, a instalação da República e suas obras/reformas higienizadoras, a romanização clerical e a vinda de padres germânicos para Santa Catarina tiveram nessa Irmandade, interferindo em suas formas de organização, expressão cultural, espaços de sociabilidade e visibilidade social de descendentes de africanos na cidade de Florianópolis.
Comissão julgadora: Coordenação: Daniel Reis; Cornelia Eckert, doutora em Antropologia, professora adjunta da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Gabriela Sampaio, doutora em História, professora adjunta da Universidade Federal da Bahia; Liv Sovik, doutora em Teoria da Comunicação, professora adjunta da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Raquel Dias Teixeira, mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, pesquisadora do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular/Iphan, como representante institucional.