Edição 2007
Ao todo, 56 trabalhos foram inscritos na edição 2007 do Concurso Sílvio Romero. Como previa o edital, dois trabalhos foram premiados e três receberam menções honrosas.
1º lugar: Camila Koshiba Gonçalves (Universidade de São Paulo) - Vitrola paulistana: discos a todos os preços na São Paulo dos anos 30 (título adaptado da dissertação Músicas em 78 rotações: discos a todos os preços na São Paulo dos anos)
A presente pesquisa investiga os caminhos trilhados pelas gravadoras de discos 78rpm que atuaram na cidade de São Paulo, desde a inauguração da gravação elétrica até a consolidação do rádio. Analisa-se, especialmente, o processo de incorporação, seleção, ou recriação das empresas fonográficas diante da produção musical brasileira. A tecnologia elétrica conferiu uma densidade sonora inédita à reprodução das músicas e alterou profundamente a experiência auditiva do ouvinte, a forma de conceber a gravação de sons por parte das companhias fonográficas, e a sua relação com as empresas de radiofonia, criando um modelo de atuação que será utilizado ao longo de todo o século XX. Como objeto privilegiado de análise estão as primeiras séries de gravações produzidas na capital paulistana, cujos acordes e vozes registrados - como os tangos, gravados nos anos 20 - foram emudecidos pelo esquecimento ou pelas péssimas condições de conservação dos fonogramas; outros - como a "música caipira", ou os choros e as valsas - foram intensamente reproduzidos pelas rádios e vitrolas, e permanecem vivos até hoje em nossa memória musical.
2º lugar: Luciana Saul - Rituais do Candomblé: uma inspiração para o trabalho criativo do ator
Essa pesquisa tem como objeto de estudo as concepções e princípios do teatro ocidental - desenvolvidos por Stanislavski, Meyerholq, Grotowski e Barba - em dialogo com elementos de urna cultura de tradição afro-brasileira, o Candomblé, visando construir situações que possam contribuir para ativar o estado de criação do ator. A pesquisa bibliográfica e a observação das festas públicas dessa religião afro-brasileira foram subsídios importantes para criar procedimentos que levaram a construção da ponte entre o teatro e o Candomblé. O treinamento constou de um conjunto de exercícios específicos que utilizavam os toques e as danças do Candomblé e a mitologia dos Orixás.
Por meio de um uso extra cotidiano de seus corpos e respeitando os princípios da pré-expressividade, o grupo de quatro atores vivenciou, ao longo de um ano, um processo de modelagem da energia. Durante o processo de treinamento, construiu-se, também, inspirada nos elementos arquetípicos dos Orixás uma dramaturgia de partituras de ações físicas. Esse processo culminou com a montagem de um espetáculo, composto por partituras criadas pelos atores e rearranjadas de forma a adquirirem 'outra dependência' e, consequentemente, novos significados, diferentes daqueles que os originaram.
1ª menção honrosa: Cecília de Mendonça (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) - A coleção Luiz Heitor Corrêa de Azevedo e os estudos de folclore no Brasil
Essa dissertação é uma investigação sobre a Coleção Luiz Heitor Corrêa de Azevedo, a partir de documentos que compõem o acervo do Laboratório de Etnomusicologia da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nos anos 1940, o musicólogo Luiz Heitor Corrêa de Azevedo, na ocasião professor catedrático do Curso de Folclore Nacional da Universidade do Brasil (atual UFRJ), iniciou um trabalho de colecionamento da música popular brasileira. Realizou gravações musicais (discos de 78rpm) em viagens de campo por quatro regiões do Brasil. Essas gravações foram, juntamente, com outros documentos – cartas, relatórios, fotografias, cadernos de campo, revistas, etc. arquivadas no Centro de Pesquisas Folclóricas, criado em 1943 pelo próprio Luiz Heitor e, hoje, encontram-se sob a responsabilidade do Laboratório de Etnomusicologia. Fundamenta-se o trabalho na concepção de arquivo como campo de estudo. Tal compreensão permite o entendimento de aspectos significativos da incorporação dos estudos folclóricos, em especial os de música popular, ao universo acadêmico, entre outras abordagens calcadas nos referenciais teóricos da Memória Social.
2ª menção honrosa: Arthur Coelho Bezerra (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) - Modernizar o passado: Movimento Mangue e a antropofagia revisada
Esse trabalho tem como foco as imbricações entre tradição e modernidade presentes no trabalho desenvolvido pelos artistas Chico Science e Fred 04, respectivamente, nos grupos musicais Chico Science e Nação Zumbi e Mundo Livre S.A, uma cooperativa cultural organizada na cidade do Recife no início dos anos 90.
3ª menção honrosa: Valéria Leite de Aquino (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - Caminhos e ruídos da fé (título adaptado da dissertação de mestrado Peregrinos do Pai Eterno: os carreiros de Damolândia na festa de Trindade)
Esse trabalho é um estudo etnográfico sobre um a romaria de carreiros do interior de Goiás. Com o objetivo de abordar os processos de construção de identidade social no ritual de peregrinação, bem como de apreender os múltiplos significados de que essa experiência ritual se reveste para seus agentes, acompanho a trajetória dos romeiros carreiros do município de Damolândia (GO) em seus carros de boi rumo ao Santuário do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO). Formadas por grupos familiares, as romarias carreiras são fortemente marcadas por relações familiares e de gênero, o que lhes confere um caráter singular de convívio que permite a expressão de valores e conflitos importantes na organização social desses grupos. Enquanto processo ritual, a peregrinação dramatiza as relações sociais dos grupos, colocando-as em destaque, e por isso possibilita aos peregrinos refletir sobre essas relações ao mesmo tempo em que permite experimentar novas possibilidades de relacionamento, como o estado de communitas (Turner, 1974a), por exemplo. O carro de boi, hoje visto como um veículo rústico, destaca-se ao tornar-se símbolo desses romeiros do Divino Pai Eterno, condensando inúmeros significados que dizem respeito aos valores e princípio da organização social bem como da história regional na qual esses grupos de peregrinos estão inseridos.
Comissão julgadora:
Edilene Dias Matos, doutora em Comunicação e Semiótica/Literatura, professora assistente da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Maria Sylvia Porto Alegre, doutora em Antropologia, professora da Universidade Federal do Ceará; Reginaldo Gil Braga, Doutor em Música , professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Robert Wegner, doutor em Sociologia, pesquisador adjunto da Casa de Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Guacira Waldeck, mestre em Ciências Sociais (antropologia social), representante do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular/Iphan.