Edição 2004
Ao todo, 26 monografias foram recebidas na edição 2010 do Concurso Sílvio Romero. Desses, duas foram desclassificadas por não atenderem as exigências previstas em edital. Como previa o edital, dois trabalhos foram premiados e três receberam menções honrosas.
1º lugar: Antonio Gilberto Ramos Nogueira (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) - Por um Inventário dos Sentidos - Mário de Andrade e a concepção de inventário
A pesquisa evidencia a atualidade do projeto de Mário de Andrade para o patrimônio cultural, notadamente o chamado "patrimônio imaterial" ou "inatingível", reconhecido pelo IPHAN, com o Decreto 3.551 de 4 de agosto de 2000, que criou o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial. A concepção de patrimônio e inventário e Mário de Andrade, engendrada no Modernismo (décadas de 1920 e 1930), é resultando de suas viagens pelo interior do país, mas principalmente de sua ação no Departamento de Cultura de São Paulo. Aqui Mário desenvolveu um procedimento de registro do patrimônio não tangível: uma proposta de registro multimídia que orientou o estudo sistemático da cultura brasileira, consubstanciando a Discoteca e o Departamento, lugares de memória nacional. Desta forma, essa obra resgata a proposta marioandradina: um novo conceito de patrimônio que contribui social e politicamente para a construção de um acervo de brasilidade - expressão das línguas, festas, rituais, danças, lendas, mitos, músicas e artes gráficas, dos saberes e fazeres diversificados e dos lugares.
2º lugar: Reginaldo Gil Braga (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) - Modernidade religiosa entre tamboreiros de Nação: concepções e práticas musicais em uma tradição percussiva do extremo sul do Brasil
Essa obra discute alguns aspectos concernentes aos processos sociais de aquisição e transmissão da tradição do tambor entre um grupo de 13 tamboreiros de nação, os músicos rituais da religião afro-gaúcha chamada batuque ou nação. O autor considerou a tradição do tambor como sinônimo de uma tradição cantada e percussiva, uma vez que os tamboreiros, tradicionalmente, cantam e se acompanham ao tambor nos rituais. As experiências musicais desses indivíduos, pertencentes a três gerações distintas, espelham os últimos 70 anos, aproximadamente, um período de grandes transformações e reorganizações nos processos tradicionais de ensino e aprendizagem (e obviamente na tradição como um todo). Segundo um programa de ação etnomusicológico, baseado em uma etnografia musical que previu a minha inserção no campo como aprendiz de tamboreiro, complementada por observações de situações de ensino e aprendizagem e performances musicais, procurei revelar situações e contextos informais e não formais da formação de músicos rituais em que a etnomusicologia e a educação musical possam dialogar no futuro.
1ª Menção honrosa: Newton Cardoso Júnior - Sem (Vi) eira nem beira - uma história do Zé Pereira da Chácara (Mariana - MG, 1960-2002)
Esse trabalho tem como objeto de investigação uma brincadeira carnavalesca denominada zé-pereira e, mais especificamente, um destes grupos, natural da cidade de Mariana, Minas Gerais: o Zé Pereira da Chácara. Neste sentido, pretendeu-se investigar o papel das tradições no processo de construção de identidades e as relações entre memória e história, as políticas institucionais de incremento e preservação de bens culturais, bem como estratégias a que manifestações, ditas tradicionais, recorrem, a fim de se manterem prósperas no contexto das sociedades industriais, fortemente influenciadas pelos meios de comunicação de massa.
2ª Menção honrosa: Aline Sapiezinskas (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) - Travessa dos Venezianos: patrimônio histórico e identidade cultural
3ª Menção honrosa: Josivaldo Pires de Oliveira (Universidade Federal da Bahia) - De capadócios das ruas a agentes culturais: um ensaio de História Social sobre os capoeiras na Bahia (título adaptado da dissertação de mestrado Pelas ruas da Bahia: criminalidade e poder no universo dos capoeiras na Salvador republicana (1912-1937)
Esse trabalho teve como objetivo investigar aspectos do cotidiano dos capoeiras na cidade de Salvador, entre 1912 e 1937. Eram esses protagonistas das ruas que viviam expostos às condições de sobrevivência que as mesmas lhes ofereciam, portanto, estavam sujeitos a cometerem delitos das formas mais variadas possíveis, desde as pequenas contendas que ocorriam nas ruas até os grandes conflitos envolvendo interesses políticos e relações de poder. Experimentavam os capoeiras o universo da criminalidade, experiências essas, marcadas por resistências explorando as várias possibilidades de sobrevivência do ser capoeira na Salvador republicana. Considerados desordeiros, capadócios e arruaceiros, perturbadores da ordem pública, foram também, agentes culturais oriundos das camadas populares da sociedade baiana, em grande parte descendentes dos africanos que reelaboraram na capital, culturas e tradições, dando forma ao seu universo que se consolidou a partir da década de 1930.
Comissão julgadora:
Carlos Alberto Steil, doutor em antropologia social, professor adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Flávia Camargo Toni, musicóloga, professora da ECA/Universidade de São Paulo; Isabel Travancas, doutora em Literatura Comparada, pesquisadora; e Márcia de Vasconcelos Contins Gonçalves, doutora em antropologia, professora adjunta da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e Guacira Waldeck, mestre em Ciências Sociais (Antropologia Social) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, representante do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular/Iphan.