Edição 2006
Ao todo, 49 monografias foram recebidas na edição 2006 do Concurso Sílvio Romero. Como previa o edital, dois trabalhos foram premiados e outros dois receberam menções honrosas. São eles:
1° lugar: Wilson Rogério Penteado Junior (Universidade Estadual de Campinas) - Jongueiros do Tamandaré: devoção, memória e identidade social no ritual do jongo em Guaratinguetá - SP
Classificada na categoria genérica de "dança de negros" por alguns estudiosos que a mencionaram em seus escritos, a prática do jongo não mereceu a devida atenção enquanto tema de pesquisa. O estudo de cunho antropológico apresentado pelo trabalho propõe aprofundar o conhecimento dessa prática buscando apreender as interações sociais que se dão numa das localidades onde atualmente é mantida: o bairro Tamandaré, situado no município de Guarantinguetá (SP), região do Vale do Paraíba Paulista. Apresentando-se em quatro capítulos, o estudo busca compreender a prática do jongo articulando domínios do contexto em que é vivida. A partir dos dados coletados em campo, o autor demonstra como o jongo se apresenta enquanto sinal distintivo para os moradores do Tamandaré proporcionando-lhes certa visibilidade e possibilidade de atuação política no contexto vivido.
2° lugar: Anna Paula de Oliveira Mattos Silva - Transformações do popular na cultura contemporânea: tradição e inovação na Recife dos anos 90
O trabalho parte da investigação da polêmica estabelecida na segunda metade da década de 1990 entre o então secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, o escritor Ariano Suassuna, e os artistas envolvidos com a cena pop recifense no período. O conflito se deu em torno dos critérios de legitimação de produções artísticas estabelecidos por um projeto que propunha privilegiar expressões tidas como "genuinamente populares". Tal tensão é tomada no trabalho como mote para a problematização das diferentes propostas de mediação cultural apresentadas pela perspectiva armorial - proposta por Suassuna em sua obra literária e teórica - e pela postura do Manguebit - abordada no estudo principalmente por meio da análise das criações do compositor Chico Science, um dos seus maiores expoentes.
A dissertação privilegia o debate acerca do espaço e das funções atuais da tradição e das culturas populares nas sociedades urbanas periféricas, e das diversas possibilidades de apropriação política e estética das expressões da arte popular por autores externos a seu contexto de produção.
1ª menção honrosa: João Miguel Sautchuk (Universidade de Brasília) - O Brasil em discos; nacionalidade e autenticidade cultural na produção da gravadora Marcus Pereira
A dissertação versa sobre a história da gravadora Discos Marcus Pereira, que produziu e editou, entre 1974 e 1981, cerca de 140 discos. A maior parte desses era dedicada a divulgar estilos musicais considerados brasileiros, incluindo gravações de música "folclórica".
Assim como na tradição dos estudos de folclore e na obra do modernista Mário de Andrade, a produção fonográfica dessa gravadora pautou-se pela busca da identidade na cultura popular como substrato para a construção de uma representação da nação - o que é analisado co m base no conceito de nação como uma "comunidade imaginada", proposto por Benedict Anderson.
2ª menção honrosa: Pedro de Moura Aragão - Luiz Heitor Corrêa de Azevedo e os estudos de folclore no Brasil: uma análise de sua trajetória na Escola Nacional de Música (1932-1947)
O trabalho traz uma análise da trajetória de Luiz Heitor Corrêa de Azevedo como professor de folclore na Escola Nacional de Música entre os anos de 1939 e 1947. Mais conhecido por seu trabalho como musicólogo e autor de livros importantes como "Música e músicos do Brasil" e "150 anos de música no Brasil", Luiz Heitor participou ativamente, nas décadas de 1930 e 1940, como intelectual ligado ao movimento folclórico, aspecto, entretanto, pouco lembrado nos estudos a seu respeito.
Analisando esse período histórico o autor procura identificar as contribuições de Azevedo aos estudos de folclore no Brasil, salientando, entre outros fatores, sua proposta de mapeamento das práticas musicais brasileiras e seu papel fundamental na elaboração didática da primeira cátedra de folclore instituída em uma universidade brasileira. Além disso, o autor procura dimensionar a importância de Luiz Heitor para a etonomusicologia no Brasil, discutindo a relação entre essa disciplina e o estudos de folclore na primeira metade do século XX.
Comissão julgadora:
Astréia Soares Batista, doutora em Sociologia, professora da Fundação Mineira de Educação e Cultura, Luiz Felipe Ferreira, Doutor em Geografia Cultural, professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Antônio Gilberto Ramos Nogueira, doutor em História, professor da Pontifícia Universidade Católica- SP, Lúcia Maria Lippi Oliveira, doutora em Ciência Política, pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas - RJ e Ricardo Gomes Lima, doutor em Antropologia, representante do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular/Iphan.