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Vítimas de fraude têm mais propensão para seguir a multidão?
O Centro de Estudos Comportamentais e Pesquisas, da Superintendência de Proteção e Orientação aos Investidores (CECOP/SOI) – CVM realizou um estudo sobre ofertas irregulares de investimentos, buscando mapear as causas mais recorrentes de fraudes financeiras. Algumas perguntas buscavam respostas para questões, tais como: vítimas de fraudes têm menos experiência com o mercado financeiro? São mais propensas ao efeito manada?
Os resultados da pesquisa sugerem que os voluntários não vítimas de fraudes financeiras possuem um portfólio mais refinado e diversificado do que as vítimas de fraude. Aquele público investe mais do que este em ações, fundos de investimento, FII, previdência privada, CDB, entre outras opções. Por outro lado, as vítimas costumam investir mais em poupança, criptomoedas e start-ups, sendo que em sua maioria afirmam não possuir investimentos financeiros.
Embora as vítimas possuam menos experiência com o mercado financeiro, quando comparadas com as não vítimas, elas possuem mais experiência do que a população em geral. Do público alvo formado pelas vítimas, apenas 9,6% dos respondentes afirmaram não possuir qualquer tipo de investimento financeiro. Cumpre destacar que esta porcentagem é bem menor do que aquela encontrada na amostra nacional de não investidores – a qual, segundo a 3ª edição do Raio-X do Investidor (ANBIMA, 2020), soma 56% dos brasileiros.
No quesito indicação de investimentos, quando comparadas com as não vítimas, as vítimas tendem a orientar suas escolhas financeiras a partir da recomendação de terceiros. No decorrer da fase quantitativa da pesquisa, observou-se que esse comportamento ocorre, principalmente, quando recebem orientação de amigos e youtubers, enquanto as não vítimas relatam, em sua maioria, nunca terem investido por recomendação de terceiros. Na fase qualitativa, a maioria dos entrevistados afirmou que a oportunidade de investimento fraudulento chegou até eles por meio de amigos, sendo que uma parcela menor relatou procurar por ela ativamente.
Dentre as variáveis psicológicas e comportamentais, levantadas no decorrer da fase quantitativa, a diferença entre os dois grupos foi estatisticamente significativa, indicando que o comportamento relatado pelas vítimas apresenta maior suscetibilidade ao efeito manada. Estas tendem a acreditar que, quando quase todo mundo concorda com algo, não faz sentido se opor, contrariamente ao grupo das não vítimas que não se furtam em dizer às pessoas quando discordam delas.
Escolhas financeiras decididas com base na confiança em amigos ou familiares, que ofertam ou divulgam um produto de investimento, além de expor o investidor a situações potencialmente arriscadas desconsideram as diferenças individuais. Cabe alertar que um investimento bom para um amigo pode não ser adequado para você, pois a diferença de perfil, objetivo ou comportamento em relação a riscos e a perdas têm peso relevante no processo.
A pesquisa com vítimas de fraudes financeiras feita pelo CECOP objetivou entender o que leva as pessoas a se tornarem vítimas de esquemas fraudulentos, numa tentativa de ajudar a criar medidas mais efetivas de prevenção. Os dados obtidos permitiram obter uma visão mais ampla e completa do fenômeno estudado, o que é fundamental para que a CVM elabore projetos educacionais que visem a prevenção desse tipo de fraude.