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Quais fatores mais influenciam o comportamento de investimento?
A aplicação das ciências comportamentais no campo da economia tem buscado entender os vieses comportamentais que influenciam a tomada de decisões financeiras. Eles podem ser oriundos de heurísticas, limitações cognitivas ou estratégias de processamento e são considerados por estudiosos como desvios da norma, que agem como filtro de escolha e ajudam a guiar o comportamento financeiro.
Em uma pesquisa publicada em 2011, Kourtidis, Šević e Chatzoglou, a partir de uma revisão da literatura em finanças comportamentais, defenderam a hipótese da existência de quatro principais fatores a influenciar o comportamento dos investidores: confiança excessiva, influência social, automonitoramento[1] e tolerância ao risco. Esse modelo foi então a base para a realização de uma pesquisa com investidores na Grécia, na busca por entender como as características psicológicas pessoais poderiam levar a comportamentos diferentes de investimento.
A partir dos quatro fatores citados acima, os autores solicitaram aos respondentes que definissem qual mais influenciaria suas decisões de investimento. Os resultados encontrados permitiram dividir a amostra da pesquisa em três perfis, de acordo com características psicológicas e de personalidade: high profile (alto perfil, em tradução livre), moderate profile (perfil moderado) e low profile (baixo perfil).
- High profile: perfil composto por jovens (abaixo de 45 anos), alto nível de educação formal e renda maior que os investidores dos outros perfis. Este grupo inclui a maior parte dos investidores profissionais e é característico pela sua alta pontuação nos vieses psicológicos: alto grau de excesso de confiança, de tolerância ao risco, de automonitoramento e influência social.
- Moderate profile: são mais velhos (acima de 45 anos), nível educacional inferior aos de alto perfil e rendimentos, também, mais baixos. Possuem um nível moderado de excesso de confiança, tolerância ao risco, automonitoramento e influência social.
- Low profile: categoria que possui menor porcentagem de homens, quando comparados ao primeiro perfil e sua principal característica é o baixo grau de tolerância ao risco, de automonitoramento, de excesso de confiança e influência social.
Quase metade dos investidores do denominado high profile relatou manter investimentos ou mesmo comprar mais ações mesmo quando elas apresentam desempenho ruim, o que pode ser uma manifestação do viés de aversão à perda. Esse comportamento pode ser visto quase em igual número entre os respondentes de perfil moderado.
Em relação ao low profile, apenas 30% de seus investidores afirmaram insistir em investimentos de baixo desempenho, o que demonstra sua baixa tolerância ao risco. Além disso, outro fator que pode explicar esse comportamento é a pouca experiência de investimento (a menor dentre todos os grupos), o que normalmente se reflete em uma postura mais cautelosa e menos confiante.
Uma perspectiva interessante vem sendo apontada por outras pesquisas que têm concluído que a tolerância ao risco aumenta com a idade – até os 65 anos, faixa a partir da qual passaria a diminuir – e também de forma diretamente proporcional à renda e à educação formal (KOURTIDIS, ŠEVIĆ e CHATZOGLOU, 2011). Esses três fatores corroboram a presença de maior aceitação de riscos no grupo com perfil mais jovem, mais educado formalmente e com renda mais elevada.
E você, leitor? Qual dos quatro principais fatores levantados pelos pesquisadores mais o afeta mais na hora de investir?
Referência
KOURTIDIS, D., ŠEVIĆ, Ž., CHATZOGLOU, P. Investors’ trading activity: a behavioural perspective and empirical results. The Journal of Socio-Economics 40, 548–557. 2011.
[1] Os autores identificam como automonitoramento o ajuste do próprio comportamento de acordo com o ambiente ao redor. Eles acreditam que sua influência no comportamento se dá, pois, pessoas que executam este tipo de monitoramento conseguem dissociar a ação de outros investidores das informações que possuem, adotando uma postura mais estratégica.