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O Efeito do Novo Começo no Planejamento e Resolução de Novas Metas.
O início do ano é considerado um marco temporal significativo para as pessoas que querem realizar mudanças em suas vidas e, entre os aspectos que passam por resoluções neste período, encontramos àquelas relacionadas às finanças como já foi tema de análise em nossa publicação A importância do planejamento financeiro. Entretanto, por que temos essa tendência em tentar aprimorar nossas vidas a partir de marcos temporais como o Ano Novo? E, como a compreensão desse fenômeno e dos mecanismos envolvidos podem aumentar as chances de cumprir as novas metas estabelecidas? Pesquisas científicas no campo da Psicologia indicam alguns motivos interessantes e que iremos apresentar neste texto e meios que poderão tornar o cumprimento de novas resoluções mais eficazes.
Como já brevemente sinalizado anteriormente, é consenso geral que as resoluções de Ano Novo são um fenômeno popular. Contudo, essa popularidade não ocorre de modo aleatório e nem despropositadamente, uma vez que se tem observado que marcos temporais, como uma nova semana, ano, mês ou semestre; um aniversário; ou até mesmo um feriado, influenciam e podem aumentar significativamente comportamentos aspiracionais.
Em estudo de campo discutido em The Fresh Start Effect: Temporal Landmarks Motivate Aspirational Behavior¹, os pesquisadores Hengchen Dai, Katherine Milkman e Jason Riis, investigaram possíveis evidências vinculadas ao que denominaram de “efeito do novo começo”. De acordo com os autores, existe uma crença compartilhada e endossada culturalmente que novos começos são possíveis e com diversas oportunidades ao longo de nossas vidas para começar do zero, o que motiva os indivíduos a tentar melhorar a si mesmos.
O efeito do novo começo quando relacionado ao tempo, pode ser explicado a partir das percepções que levam as pessoas a se distanciarem das imperfeições passadas e a suspensão da atenção nos pormenores do dia-a-dia, proporcionando uma visão panorâmica da vida. Os pesquisadores postulam que os processos desencadeados por momentos de recomeço estimulam as pessoas a perseguir suas aspirações, uma vez que marcos temporais desconectam psicologicamente o eu inferior e passado, estimulando uma motivação para um comportamento superior no futuro, o que os leva a se esforçar com mais força à realização de novas aspirações. Acrescido a este tipo de comportamento, ao criar a descontinuidade dos erros passados em nossas percepções de tempo, experiências e atividades, os marcos temporais podem promover uma visão mais ampla das decisões e das situações e, dentro deste funcionamento, os indivíduos fazem escolhas mais orientadas para realização dos objetivos.
Complementar a este fenômeno, quando se trata do processo de formulação de novas resoluções com metas a serem atingidas, a pesquisa que gerou o artigo A large-scale experiment on New Year’s resolutions: Approach-oriented goals are more successful than avoidance-oriented goals², examinou a importância da orientação para o objetivo. De acordo com os pesquisadores Martin Oscarsson, Per CarlbringI, Gerhard Andersson e Alexander Rozental, vários estudos têm evidenciado que os objetivos orientados para a abordagem, como adotar novo hábito, são mais favoráveis do que os objetivos orientados para a evitação – por exemplo, abandonar algo como doces. Deste modo, ao se estabelecer novas resoluções financeiras, em marcos temporais específicos, é importante avaliar a forma como se formula os objetivos a serem alcançados. A título de exemplo, suponha que ao invés de focar em fazer cortes orçamentários de forma brusca, o que pode gerar faltas e causar um possível revés futuro, é interessante reavaliar em como otimizar o salário com os gastos a fim de abarcar o essencial com a criação de novos hábitos que possibilite a criação de reservas e poupança.
Os autores chamam atenção, ainda, de que estudos sugerem que objetivos pouco claros, abstratos, distantes ou imperativos podem aumentar a probabilidade de comportamentos associados a invenção de desculpas que gera à não execução de ações direcionadas ao cumprimento das metas estabelecidas, sendo este um fenômeno frequentemente associado à procrastinação. Para os pesquisadores, metas intermediárias temporalmente mais próximas mobilizam com maior intensidade nossos esforços. Contudo, quando o objetivo se encontra no longo prazo, é importante associá-lo com recompensas mais imediatas. A fim de manter a motivação para realização, é importante haver recompensas durante o processo de uma longa busca e não apenas após a sua conclusão.
Resumidamente, os estudos têm demonstrado que os processos que envolvem resoluções, definição de novas metas e planejamento devem ser investigados como potenciais modos estratégicos para a mudança de comportamentos quando necessária e desejada.
A partir dessa exposição, em uma rápida análise, você lembra de ter feito alguma resolução sobre suas finanças em janeiro do ano passado? Se sim, como foi feita? Você atingiu os seus objetivos? E esse ano, você já fez suas novas resoluções? Apesar de os dias que antecedem e também aqueles que precedem o novo ano sejam, frequentemente, gastos refletindo sobre o ano que passou e o futuro, esses dias também precisam ser utilizados para pensar como manter e administrar este processo de execução para o alcance das metas estabelecidas, revisando o estado financeiro, mas também com a busca de formas de aperfeiçoamento do nosso comportamento. Não esqueça, quando compreendemos os processos subjacentes que norteiam as nossas ações temos a possibilidade de aumentar as chances de êxito com as nossas metas.
Referências
1. Hengchen D, Milkman, K. L. & Riis, J. 2013.The Fresh Start Effect: Temporal Landmarks Motivate Aspirational Behavior. In NA - Advances in Consumer Research. Volume 41, eds. Simona Botti & Aparna Labroo, Duluth, M. N: Association for Consumer Research. 2013.
2. Oscarsson M, Carlbring P, Andersson G, Rozental A. 2020. A large-scale experiment onNew Year’s resolutions: Approach-oriented goalsare more successful than avoidance-oriented goals. PLOS ONE 15(12): e0234097. doi: 10.1371/journal.pone.0234097. PMID: 33296385; PMCID: PMC7725288.