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Mulheres estão adiando a aposentadoria?
Pesquisas no Estados Unidos mostram que, no país, as mulheres têm procurado se manter no mercado de trabalho por mais tempo. Em 2016, as pesquisadoras Annamaria Lusardi e Olivia Mitchell, analisando amostras de mulheres obtidas de um censo nacional, perceberam que mulheres nas faixas de idade de 51-56 e 57-61 são mais propensas a estarem trabalhando que amostras da mesma idade obtidas em 1992, quando controlados outros fatores.
Ao analisar também as amostras mais recentes de mulheres próximas à aposentadoria, viu-se que estas também têm mais débitos que as amostras anteriores e que isso pode estar associado à intenção de trabalhar por mais tempo. Além do aumento das dívidas, houve uma redução no número de mulheres com dinheiro poupado.
Na referida pesquisa, a amostra foi selecionada a partir do censo Health and Retirement Study (HRS), sendo as mulheres acima de 50 anos divididas em duas faixas (51-56 e 57-61). Foram analisados dados dos seguintes anos: 1992, 1998, 2004 e 2010. As informações coletadas incluíam status de emprego, planos futuros de trabalho, características sociodemográficas e histórico matrimonial e familiar.
Foram controladas as variáveis de idade, raça e etnia, além de anos de educação, ruptura de matrimônio (por separação ou viuvez), estado de saúde, número de filhos, valor da moradia e outros débitos. Este controle de variáveis foi realizado para se certificar que as diferenças encontradas na amostra não se davam a informações socioeconômicas e demográficas, mas sim aos fatores de interesse na pesquisa.
O estudo identificou que os dados dos anos mais recentes apontam para níveis mais altos de endividamento no público-alvo da pesquisa. Há também uma proporção maior de mulheres de maior idade em circunstâncias financeiras frágeis quando comparado com os dados de 1992. A dívida imobiliária é um fator que, particularmente, influencia a probabilidade de mulheres estarem trabalhando com 65 anos. Até 2009, um número maior de mulheres solteiras adquiriu imóveis, comparativamente a homens solteiros, representando um crescimento rápido no mercado imobiliário.
As pesquisadoras concluíram que a maior presença de mulheres mais velhas na força de trabalho pode ser ocasionada pelas dívidas mais altas na vida adulta.
Para explorar ainda mais como estas mulheres estão gerenciando suas dívidas e planejando a aposentadoria, basearam-se também na onda de 2012 do National Financial Capability Study (NFCS). Os resultados foram consistentes com a análise feita a partir dos dados do HRS.
A pesquisa investigou também se as mulheres mais velhas tentaram descobrir quanto precisariam economizar para a aposentadoria, seu nível de endividamento percebido e sua fragilidade financeira. A amostra consistia em mulheres em sua maioria casadas, brancas, participantes do mercado de trabalho e com algum nível de educação superior.
As mulheres da faixa 57-61 anos indicaram que eram mais propensas a planejar a aposentadoria (ou ter planejado, se tivessem se aposentado), mas menos da metade (45%) havia tentado descobrir quanto precisavam reservar para aposentadoria, contra 39% das mulheres de 51 a 56 anos. Além disso, muitas delas indicaram estarem muito endividadas e serem financeiramente frágeis (43% das mais jovens e 39% das mais velhas). Isso é consistente com a evidência do HRS mostrando altos níveis de dívida à beira da aposentadoria.
Os dados do NFCS confirmam que a dívida hipotecária e outras dívidas acabam sendo problemáticas para um subconjunto relativamente grande de mulheres. No que diz respeito à dívida não hipotecária, muitas mulheres disseram não pagar as faturas do cartão de crédito integralmente (se os tivessem) e se envolveram em muitos comportamentos dispendiosos de cartão de crédito, como pagar apenas o mínimo devido, usando o cartão para adiantamentos em dinheiro, sendo cobradas taxas por atraso no pagamento ou excedendo os limites.
As perguntas do NFCS realizadas a respeito de educação financeira mostraram que o nível de letramento financeiro era baixo, com muitas mulheres desconhecendo conceitos financeiros simples. As respondentes com maior letramento financeiro eram menos propensas a reportar altos níveis de débito.
Para ambas as faixas etárias, ter mais filhos dependentes e ter passado por um choque de renda estão positiva e significativamente associados à probabilidade de ser financeiramente frágil. Da mesma forma, aquelas com renda mais alta e mais alfabetizadas financeiramente têm menos probabilidade de serem financeiramente frágeis.
O ensino superior e a renda estão fortemente correlacionados positivamente com o fato de as mulheres terem buscado descobrir quanto economizar para a aposentadoria, nos dois grupos de idade. Para mulheres de 51 a 56 anos, o número de filhos dependentes está negativamente associado à probabilidade de terem tentado fazer planos, mas não para o grupo mais velho, sugerindo algum potencial de ‘recuperação’ depois que os filhos saem de casa.
Desta forma, o estudo demonstrou que cada amostra de mulheres mais velhas trabalhava mais atualmente e pretendia trabalhar mais no futuro do que a base do HRS pesquisada em 1992 pelas autoras. Todas as amostras seguintes exibiram taxas mais altas de trabalho. Quando comparadas as diferenças na probabilidade autodeclarada de mulheres mais velhas a trabalharem em idades mais avançadas, mais uma vez foram encontradas evidências de que amostras mais recentes antecipam trabalhar mais.
Os resultados usando o NFCS são compatíveis com os resultados do HRS, mas o conjunto de perguntas feitas no NFCS acrescenta outras dimensões aos resultados. Por exemplo, foi descoberto que, quando exploradas as explicações para o atraso na aposentadoria entre mulheres, os fatores significativos incluíram educação, separação conjugal, saúde, exposição a choques financeiros e número de filhos dependentes.
A importância de se preparar com antecedência para a aposentadoria se dá pois, segundo as autoras, a qualidade de decisões financeiras decai com a idade em diferentes áreas financeiras, além de pessoas mais velhas pagarem mais caro em algumas taxas e serviços financeiros e de saúde também.
No geral, essas descobertas reforçam a importância de uma gestão financeira pessoal adequada mesmo nas fases mais avançadas da vida, considerando que as decisões financeiras devem ser tomadas em um contexto de ciclo de vida. Os resultados indicam que é necessário apoiar as mulheres que se aproximam da idade de aposentadoria, apontando especificamente para a importância do gerenciamento adequado dos níveis de endividamento.
Referência