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Investimentos ASG e Aspectos Comportamentais
A preocupação com temas relacionados a sustentabilidade tem sido cada vez mais recorrente nas últimas décadas. No mundo corporativo, a agenda do desenvolvimento sustentável vem avançando a partir de práticas ASG (ambiental, social e governança) – originado do termo inglês ESG (environmental, social and governance). Em resumo, tais práticas objetivam agregar interesses da sociedade com condutas positivas norteadas pela promoção da sustentabilidade ambiental, respeito da diversidade e defesa dos direitos humanos, aliadas, ainda, à transparência e à postura ética frente às leis¹. Com base nessa perspectiva, observa-se um crescimento significativo em investimentos sustentáveis. Diante deste cenário, algumas questões podem ser levantadas, tais como se essa maior conscientização sobre a importância da sustentabilidade se resume a uma simples relação de risco e retorno ou se existem outros motivos por trás do investimento sustentável? A seguir, apresentaremos possíveis fatores que estão envolvidos no processo decisório de escolha de investimentos ASG a partir da perspectiva de finanças comportamentais.
De acordo com o relatório “O Mercado de Finanças Sustentáveis no Brasil em 2022” produzido pelo projeto Finanças Brasileiras Sustentáveis (FiBraS)², o mercado global de finanças sustentáveis alcançou em 2020 um marco histórico, ao totalizar um valor de 732,1 bilhões de dólares em títulos e empréstimos ambientais e/ou sociais emitidos em apenas um ano. Seguindo a tendência mundial, em 2020, as empresas brasileiras emitiram cerca de 5,7 bilhões de dólares em títulos sustentáveis e, em 2021, houve um aumento recorde de 177%, com valor total de 15,80 bilhões de dólares em emissões. Em levantamento realizado pela consultoria NINT³, os títulos verdes entre 2015 e 2022 corresponderam a 70% das 287 operações e 57% do volume de emissões de títulos sustentáveis. Quando se trata especificamente de fundos ASG, segundo o relatório produzido pelo FiBraS, em 2019 havia no Brasil apenas 6 fundos. Já em 2020 foram criados 85 fundos autodenominados como sustentáveis, com captação total de R$ 6,8 bilhões. Em 2021 as ofertas continuaram crescendo com os lançamentos de novos produtos.
O exponencial crescimento das práticas e investimentos ASG vem despertando a atenção de pesquisadores do campo de finanças comportamentais. Afinal, o que tem motivado os investidores a escolherem investimentos sustentáveis? A partir da perspectiva comportamental, a pesquisa “A Behavioral Perspective on Sustainable Finance: Exploratory Research on the Drivers of Sustainable Investing”4, realizada por Margherita Massazza, investiga quais são os vetores financeiros e não financeiros do investimento sustentável. Em sua dissertação, a pesquisadora divide a análise em dois níveis, nos quais considerações de sustentabilidade são incorporadas aos investimentos, são eles: (i) nível geral, abarcando motivos e atitudes dos investidores em relação ao investimento sustentável e (ii) nível específico, relacionado ao momento específico da escolha do investimento.
No nível específico da escolha de investimento, a pesquisadora constatou que os atributos não financeiros (classificação ASG e objetivo do Fundo) possuem uma importância relativa de 38% para a decisão de investimento, demonstrando que os atributos de sustentabilidade são levados em consideração nas escolhas de investimento por parte dos investidores e possuem um peso significativo para a decisão final de investimento. No nível geral dos motivos de investimento, as constatações da pesquisa são consistentes com estudos de finanças comportamentais sobre a importância de tendências na formação do comportamento dos investidores, aliados com o forte caráter social do investimento sustentável relacionado à pressão regulatória e social. Além disso, a pesquisa evidencia que há também possíveis vieses, tendências irracionais ou incentivos desalinhados, impulsionados por emoções e heurísticas, que levam os investidores a se envolver com investimentos sustentáveis.
Relacionadas ainda ao afeto, as questões ASG também tendem a possuir uma carga emocional. De acordo com o estudo “Skills and sentiment in sustainable investing”5, realizado pelos pesquisadores Brogger e Kronies, sobre o efeito dos investimentos sustentáveis em investidores, encontrou-se evidências da existência de sentimento positivo relacionados à sustentabilidade resultando em retornos anormais em ativos ASG e crescimento do espaço de investimento sustentável. Deste modo, o direcionador do contexto social é um importante fator que influencia os sentimentos e decisões de investimento sustentável, pois destaca que as decisões de investimento sustentável são influenciadas pelas interações dos investidores com seu contexto social e ambiental. Os autores concluem, ainda, que a sustentabilidade tem um retorno positivo com implicações reais para os investidores e economia, uma vez que a demanda de sustentabilidade por parte dos investidores também cria um incentivo para que as empresas se tornem mais sustentáveis.
O debate conceitual e prático sobre o “fazer bem, fazendo o bem” ainda está longe de terminar. Porém, atualmente existe um crescimento da conscientização e implementação generalizada de considerações ASG no mercado financeiro, como vem sendo apontado por pesquisadores do tema. Além disso, como exposto, estudiosos têm encontrado cada vez mais evidências de motivos financeiros e não financeiros, como os aspectos motivacionais, sociais e cognitivos, que influenciam a tomada de decisão para investimentos sustentáveis. Contudo, na prática, como podemos assimilar essas informações durante o processo de escolhas de investimentos e nos beneficiar, assim, dessas escolhas?
Essas informações podem parecer complexas e até distantes de nossa realidade, porém, ao entendermos que as nossas estratégias de investimentos são direcionadas por um ou mais impulsionadores, e que estes são movidos por tendências diversas, podemos ajustá-las e tomar decisões de investimento mais informadas, evitando possíveis comportamentos não racionais. Este ponto é relevante, pois as finanças com lastro comportamental muitas vezes evidenciam que as irracionalidades no mercado são impulsionadas por traders e investidores que cometem erros cognitivos quando investem, o que impacta a eficiência do mercado e influencia na formação de preço. Ao identificar e levar em consideração possíveis fatores que impactam as decisões de investimento sustentável, os investidores podem, assim, autoavaliar suas tendências e garantir que as motivações pessoais ou contextuais não os levem a uma estratégia de investimento enviesada ou falha4.
A partir dos pontos levantados com essa discussão, analise os motivos que o levaram a escolher determinados tipos de investimento, como o ASG, e compartilhe conosco sua experiência e opinião sobre o assunto através de nossas redes sociais.
Referências:
1) Senado, T.V. (2022). O que é ESG ou ASG? Entenda a sigla que identifica boas práticas empresariais. TV Senado. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/tv/programas/cidadania-1/2022/09/o-que-e-esg-ou-asg-entenda-a-sigla-que-identifica-boas-praticas-empresariais
2) Projeto Finanças Brasileiras Sustentáveis. (2022). O Mercado de Finanças Sustentáveis no Brasil em 2022: Produtos, tendências, perspectivas e vozes do mercado. Disponível em: https://labinovacaofinanceira.com/wp-content/uploads/2022/03/FiBraS-Mercado-FinSustentaveis_2022.pdf
3) NINT. (2023). Mercado de emissão de dívida ESG mobilizou R$ 54 bilhões em 2022. Disponível em: https://www.nintgroup.com/mercado-de-emissao-de-divida-esg-mobilizou-r-54-bilhoes-em-2022
4) Massazza, M. (2021). A Behavioral Perspective on Sustainable Finance: Exploratory Research on the Drivers of Sustainable Investing. Master's Thesis. CBS: Copenhagen Business School. Disponível em: https://research-api.cbs.dk/ws/portalfiles/portal/71301389/1328012_CMIBO1000E_Massazza_S139798_Thesis.pdf
5) Brogger, A., & Kronies, A. (2023). Skills and Sentiment in Sustainable Investing. Disponível em: https://andreasbrogger.com/SkillsAndSentimentInSustainableInvesting.pdf