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Há relação entre o conhecimento financeiro e a formação de reserva de emergência?
No mês passado foi comemorado o dia mundial da poupança. A CVM tem como uma de suas atribuições o incentivo à formação de poupança e aplicação em valores mobiliários (de acordo com a Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976, art. 4º, inciso I). A poupança de consumidores pode influenciar tanto o crescimento micro como o macro econômico, uma vez que desempenha um papel fundamental no acúmulo de riquezas, segundo Babiarz e Robb (2013).
As pessoas com menor grau de educação financeira estão mais propensas a cometer erros ao tomar decisões financeiras, o que pode impactar não só o indivíduo, mas também o plano macrossocial. Para investir, ainda mais em casos de pouca experiência, é imprescindível que o investidor esteja munido das informações necessárias e acompanhe o mercado, de forma a fazer um investimento consciente e bem informado, buscando orientação de profissionais e um processo contínuo de educação financeira – instrumento de grande valor para o estímulo da poupança e do planejamento financeiro.
Mas para investir, primeiro é necessário poupar. Poupar dinheiro é essencial, principalmente como uma forma de se prevenir de emergências, não só de incertezas salariais, como custos com saúde, desemprego, choques econômicos, ou mesmo gastos não esperados em casa. Estudos mostram que aqueles que possuem menos educação financeira estão mais propensos a uma fragilidade financeira severa. Sendo assim, uma análise de conhecimento financeiro pode ajudar a entender as causas de uma formação inadequada de fundos de emergência.
Os autores citados acima (Babiarz e Robb, 2013) realizaram uma pesquisa a partir de dados de um questionário americano realizado em 2009 pela Fundação de Educação do Investidor da FINRA (Financial Industry Regulatory Authority, ou Autoridade Regulatória da Indústria Financeira) que contou com uma amostra de 27.765 indivíduos que responderam questões que avaliavam variáveis dependentes e independentes.
A variável dependente foi medida através de uma pergunta sobre a reserva de emergência dos sujeitos: “Você reservou fundos de emergência que cobririam suas despesas por 3 meses, em caso de doença, perda de emprego, crise econômica ou outras emergências?”. As alternativas eram “Sim”, “Não”, “Não sei”, e “Prefiro não dizer”. As variáveis independentes mediram o letramento financeiro através de 5 questões subjetivas e objetivas sobre conceitos fundamentais de finanças.
Os pesquisadores chegaram à conclusão que, o nível de conhecimento financeiro parece ter efeito significante nas reservas de emergência. Aqueles que afirmaram possuírem reservas suficientes para cobrir pelo menos 3 meses de suas despesas pontuaram mais em todas as questões. Apenas 13% dos respondentes que não haviam reservas adequadas responderam todas as perguntas de letramento financeiro de forma correta, enquanto que para os com reserva de emergência de 3 meses a taxa foi de 27%.
Outros fatores que influenciaram a formação de reserva de emergência foram a idade, gênero, cor, salários mais baixos, baixos níveis de educação, ter passado por um choque financeiro recente e o número de filhos. A probabilidade de ter reserva de emergência adequada era mais alta para homens brancos com nível de estudo superior.
Embora não se possa afirmar que ocorra de forma causal, os pesquisadores encontraram que o número de respostas corretas nas perguntas objetivas é maior entre aqueles que possuem reserva de emergência adequada. O mesmo ocorre quando se avaliam as respostas de forma qualitativa: as taxas de acertos de perguntas difíceis são menores entre os que não possuem reserva adequada. Além disso, o conhecimento subjetivo apresenta grande impacto no comportamento reportado.
Um estudo citado pelos autores indica que, devido à falta de reserva de emergência entre a população do Estados Unidos, muitos americanos estão a uma emergência de tornarem-se endividados. Os dados aqui levantados relacionam a formação de reserva de emergência e ajudam a reforçar sua importância para a busca de comportamentos que facilitem o bem-estar e saúde financeira dos indivíduos.
E você, leitor? Já possui sua reserva de emergência? Se não, qual a maior dificuldade que encontra?
Referência:
Babiarz, P.; Robb, C. A. Financial Literacy and Emergency Saving. J Fam Econ Iss (2014) 35:40–50. 2014.
Artigos sugeridos:
Wisniewski, M. L. G. A importância da educação financeira na gestão finanças pessoais: Uma ênfase na popularização do mercado de capitais brasileiro. Revista Intersaberes, Curitiba, v. 6, n. 12, p 155-172, 2011.