Notícias
Explorando as Emoções e os Vieses Comportamentais no Contexto Financeiro.
No campo das finanças pessoais e dos investimentos, os vieses comportamentais desempenham um papel crucial nas nossas decisões. Mas o que são esses vieses comportamentais? Vieses comportamentais são padrões sistemáticos nos quais as pessoas se afastam da racionalidade ao tomar decisões, sendo influenciadas por fatores psicológicos emocionais e sociais. Esses vieses psicológicos, frequentemente inconscientes, têm o poder de distorcer significativamente nossas escolhas financeiras, afetando desde a aplicação de recursos até os padrões de consumo. Neste artigo a proposta é de explorar algumas dessas tendências emocionais que impactam investidores, poupadores e consumidores. E seguindo esta ordem, abaixo exemplifico alguns dos vieses que mais influenciam investidores, poupadores e consumidores:
Vieses do Investidor
- Viés da Ancoragem: Faz com que investidores com frequência se fixem em informações iniciais na tomada de decisões. Isso se assemelha à tendência de buscar segurança e estabilidade (medo e ansiedade), ignorando novas informações que poderiam sugerir ajustes necessários. Por exemplo, um investidor pode comprar ações baseado no preço inicial sugerido por um analista, sem considerar as mudanças significativas no mercado de capitais (Tversky & Kahneman, 1974). Isso demonstra como julgamentos podem ser influenciados pelos dados iniciais, mesmo quando os novos dados sugerem ajustes mais prudentes.
- Viés da Aversão à Perda: É quando a aversão à perda, ou o medo de experimentar perdas, é mais forte do que a satisfação com ganhos equivalentes (Kahneman & Tversky, 1979). Por exemplo, um investidor pode manter ações em declínio por medo de vender a um preço inferior ao da compra inicial, resultando em perdas maiores. Esse comportamento mostra como a aversão a perdas pode influenciar decisões de investimento, muitas vezes contrariando uma estratégia racional de minimização de prejuízos. O medo de perder dinheiro influencia decisões de investimento, muitas vezes contra uma estratégia racional.
- Viés de Confirmação: O viés de confirmação descreve a tendência de buscar informações que confirmem crenças prévias. Por exemplo, um investidor pode concentrar sua pesquisa apenas em opiniões que sustentem sua visão otimista, ignorando relatórios críticos. Este fenômeno pode resultar em decisões de investimento fundamentadas em uma análise seletiva de dados, negligenciando informações que possam contradizer nossas perspectivas (Nickerson, 1998). Esse comportamento pode influenciar a avaliação de investimentos, potencialmente obscurecendo uma visão mais completa e imparcial da situação.
- Viés da Autoconfiança Excessiva: A superestimação de habilidades pessoais pode levar a decisões imprudentes, motivadas pela emoção da alegria e pela ilusão de controle (Barber & Odean, 2001). Por exemplo, um investidor pode decidir comprar ações com base em uma intuição forte, negligenciando análises detalhadas de especialistas que indicam um cenário de mercado desafiador. Esse comportamento ilustra como a superconfiança pode influenciar negativamente as decisões de investimento, muitas vezes em detrimento de uma abordagem mais prudente e fundamentada.
- Viés do Efeito de Enquadramento: A maneira como uma informação é apresentada pode ser associada a diferentes emoções, influenciando as decisões. Por exemplo, um investidor pode reagir de maneira diferente à mesma informação se ela for apresentada como uma oportunidade de ganho (alegria) ou como um risco de perda (medo) (Tversky & Kahneman, 1981). Isso mostra como a forma de apresentação e de comunicação dos dados podem influenciar completamente as decisões financeiras.
Vieses do Poupador
- Viés do Status Quo: É a tendência de manter decisões existentes, motivada por conforto emocional e medo da mudança, pode resultar em inércia financeira (Beshears et al., 2015). Por exemplo, um poupador pode escolher manter constante sua taxa de poupança mensal, mesmo após receber um aumento salarial significativo que poderia permitir economias adicionais. Esse comportamento destaca a inércia financeira, onde o tédio da mudança impede a otimização das finanças pessoais.
- Viés do Efeito Avestruz: Evitar problemas financeiros desagradáveis, muitas vezes impulsionado por medo e ansiedade, pode levar a decisões inadequadas ou na falta de preparação para emergências financeiras (Guiso & Sapienza, 2004). Por exemplo, um poupador pode procrastinar na criação de um fundo de emergência, optando por não enfrentar a possibilidade de uma crise financeira pessoal no futuro. Esse comportamento sublinha como a fuga de problemas financeiros iminentes pode comprometer a segurança financeira a longo prazo.
- Viés do Otimismo: Caracterizado pela propensão das pessoas em superestimar os retornos esperados ou subestimar os riscos devido a uma visão excessivamente positiva (alegria) pode comprometer a segurança financeira (Shefrin, 2001). Por exemplo, um poupador pode optar por investir em produtos financeiros de alto risco, erroneamente confiando que esses investimentos são garantidos para gerar altos retornos. Esse comportamento destaca como a visão otimista pode influenciar negativamente a avaliação de riscos financeiros, potencialmente comprometendo a segurança dos investimentos.
- Viés do Presente e Desconto Hiperbólico: São conceitos que lidam com a forma como valorizamos recompensas imediatas em detrimento de recompensas futuras maiores é guiada pela busca de gratificação instantânea (alegria e ansiedade) (Frederick, Loewenstein, & O'Donoghue, 2002). Por exemplo, um poupador pode preferir gastar um bônus de trabalho em uma compra impulsiva ao invés de investir em metas financeiras de longo prazo.
Vieses do Consumidor
- Viés do Efeito Halo: É a tendência de agir ou acreditar em algo porque muitas pessoas também o fazem. Esse viés pode nos levar a tomar decisões sem reflexão, baseadas no comportamento da maioria. Também é conhecido como "comportamento de manada". Consumidores podem ser levados a fazer compras com base apenas em uma única qualidade positiva, ignorando outros aspectos (Chaplin & John, 2010). Por exemplo, um consumidor pode escolher comprar um carro devido ao seu design externo impressionante, sem considerar fatores como economia de combustível ou custos de manutenção. Esse comportamento ressalta como a percepção de uma única característica pode distorcer a avaliação completa de um produto e afetar as decisões de compra.
- Viés da Heurística do Afeto: Onde as decisões de compras são baseadas em emoções e sentimentos associadas a um produto ou marca, em vez de avaliações racionais de custo-benefício(Slovic et al., 2002). Por exemplo, um consumidor pode optar por comprar um perfume caro porque ele relembra uma memória emocional positiva, sem considerar alternativas mais econômicas com outras fragrâncias similares. Este comportamento sublinha como as decisões de compra podem ser influenciadas por aspectos emocionais, muitas vezes em detrimento de uma escolha financeiramente mais prudente.
- Viés da Ilusão de Controle: É a crença equivocada onde consumidores acreditam ter controle sobre eventos determinados pela sorte é impulsionada pela confiança e pela esperança (Cameron & Hogarth, 2015). Por exemplo, um consumidor pode participar frequentemente de loterias, confiando que certos números da sorte ou estratégias pessoais aumentam suas chances de ganhar. Esse comportamento destaca como a percepção equivocada de controle pode influenciar as decisões de consumo.
- Viés do Ponto Cego: Esse viés se refere a tendencia em identificar vieses cognitivos nos outros, mas não em si mesmo. Esse fenômeno pode resultar em decisões de consumo pouco informadas ou na adoção de hábitos prejudiciais sem uma autoavaliação crítica (Pronin et al., 2002). Por exemplo, um consumidor pode criticar outras pessoas por comprarem produtos de luxo, enquanto ele mesmo gasta impulsivamente em itens similares sem considerar adequadamente seu impacto financeiro. Este comportamento destaca como a falta de autoconhecimento pode influenciar negativamente as escolhas financeiras pessoais.
Reconhecer a influência das emoções nas decisões financeiras é importante para amenizar os seus efeitos negativos. A conscientização sobre esses vieses comportamentais, através de educação financeira, pode ajudar a tomar decisões mais conscientes e prudentes. Para se aprofundar ainda mais nos vieses comportamentais discutidos aqui, recomendo a leitura das cartilhas da série CVM Comportamental:
- Volume 01: Vieses do Investidor [Link para o PDF]
- Volume 02: Vieses do Poupador [Link para o PDF]
- Volume 03: Vieses do Consumidor [Link para o PDF]
Esses estudos oferecem uma exploração detalhada dos vieses comportamentais discutidos ao longo deste artigo e fornecem insights valiosos para aprimorar a compreensão e habilidades financeiras, promovendo decisões mais eficazes e sustentáveis a longo prazo.
E você leitor, já conhecia algum desses vieses cognitivos?
Referência:
- TVERSKY, Amos; KAHNEMAN, Daniel. Judgment under Uncertainty: Heuristics and Biases: Biases in judgments reveal some heuristics of thinking under uncertainty. science, v. 185, n. 4157, p. 1124-1131, 1974.
- KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY, Amos. Prospect theory: An analysis of decision under risk. In: Handbook of the fundamentals of financial decision making: Part I. 2013. p. 99-127.
- NICKERSON, Raymond S. Confirmation bias: A ubiquitous phenomenon in many guises. Review of general psychology, v. 2, n. 2, p. 175-220, 1998.
- BARBER, Brad M.; ODEAN, Terrance. Boys will be boys: Gender, overconfidence, and common stock investment. The quarterly journal of economics, v. 116, n. 1, p. 261-292, 2001.
- TVERSKY, Amos; KAHNEMAN, Daniel. The framing of decisions and the psychology of choice. science, v. 211, n. 4481, p. 453-458, 1981.
- FREDERICK, Shane; LOEWENSTEIN, George; O’DONOGHUE, Ted. Time discounting and time preference: A critical review. Journal of economic literature, v. 40, n. 2, p. 351-401, 2002.
- PRONIN, Emily; LIN, Daniel Y.; ROSS, Lee. The bias blind spot: Perceptions of bias in self versus others. Personality and Social Psychology Bulletin, v. 28, n. 3, p. 369-381, 2002.