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É possível medir a ansiedade financeira?
Quando nos encontramos em cenários de incerteza econômica, hábitos e conhecimentos financeiros são essenciais para tentar contornar a situação de forma eficaz. A ausência dessas competências pode levar a comportamentos financeiros descuidados – como não constituir uma poupança e consumir em excesso.
Pesquisas mostram, no geral, que a falta de conhecimento financeiro é a responsável pelo analfabetismo financeiro e mau gerenciamento do dinheiro. Apesar de ser uma constatação verdadeira, há ainda outra variável responsável por esses comportamentos: a variável psicológica.
Medindo ansiedade financeira
Shapiro e Burchell (2012) estudaram esse fenômeno em uma tentativa de medir a ansiedade financeira. Segundo os autores, ansiedade financeira seria uma síndrome psicológica relativa a comportamentos não saudáveis quanto à administração de finanças, também chamada de fobia financeira .
Os pesquisadores partem do princípio que a ansiedade financeira poderia ser medida, ao mesmo tempo, por métodos inconscientes e através de respostas subjetivas e conscientes, como a ansiedade generalizada. Além disso, estaria também associada a aspectos psicofisiológicos.
Para isso, foram adaptados dois instrumentos reconhecidos: Teste de Stroop Emocional ( Emotional Stroop Test – EST) e o Paradigma de Dot-Probe ( Dot-Probe Paradigm ). Foi também criado um instrumento autodeclaratório, a Escala de Ansiedade Financeira ( Financial Anxiety Scale – FAS).
Nesta publicação, vamos falar mais apenas sobre o primeiro teste. O Teste de Stroop Emocional consiste em exibir uma série de palavras coloridas, e solicitar que seja dita apenas a cor em que a palavra está escrita, ao invés de lê-la.
Isso foi feito para entender como a ansiedade financeira autodeclarada se relaciona com os processos involuntários de ansiedade financeira, em dois estudos.
Estudo 1
O primeiro estudo utilizou o Teste de Stroop Emocional, que é normalmente utilizado para identificar questões de atenção, entre outros distúrbios psicológicos. São utilizadas palavras relevantes no contexto emocional estudado, chamadas de “ameaças”, e devem capturar a atenção do sujeito. A adaptação deste instrumento foi colocar palavras relacionadas a finanças como as palavras ameaçadoras.
Os participantes eram 38 voluntários de idades entre 19 e 22 anos, estudantes universitários em tempo integral. Havia três grupos de palavras, representando: a condição clássica (nomes de cores), condição financeira (palavras relacionadas a finanças), e condição controle (palavras neutras). Os participantes deveriam dizer as cores nas quais as palavras estavam escritas, o mais rápido e corretamente possível, ignorando seu conteúdo escrito.
Os autores concluíram que, em média, as palavras com condições financeiras demandaram respostas um pouco mais lentas, comparadas com as de controle, o que pode indicar maior ansiedade. O tempo de resposta foi também comparado com as respostas autodeclaradas na Escala de Ansiedade Financeira, comprovando a relação entre a ansiedade autodeclarada e as respostas inconscientes do sujeito.
Estudo 2
O segundo estudo foi uma tentativa de verificar se ansiedade financeira pode ser medida de forma diferente de sintomas gerais de ansiedade e depressão – uma vez que a população de jovens estudantes é uma das mais afetadas por essas questões.
Para isso, foram usados instrumentos para medir ansiedade e depressão. O estudo concluiu que a medida da escala de ansiedade financeira é um construto diferente de depressão e ansiedade no geral.
Além disso, foi percebido que, assim como outras ansiedades, a ansiedade financeira é associada com vieses de atenção. Os autores concluem que a ansiedade social se comporta como uma fobia, de forma que os indivíduos por ela acometidos tentam reduzir sua ansiedade ao evitar ter contato com o estímulo, como mecanismo de defesa.
Isso demonstra que a ansiedade financeira, assim como demais fobias, pode desempenhar alterações psicofisiológicas no indivíduo (sudorese, palpitações, mecanismos de evitação, entre outros), podendo comprometer sua saúde, se não tratado.
Ainda são realizadas pesquisas na área, mas segundo Shapiro e Burchell (2012), da mesma forma que auxilia no tratamento de fobias e ansiedade, a terapia individual pode configurar uma boa saída para esta questão, assim como grupos de apoio.
Você, leitor, conhece alguém que também evita o assunto finanças ou está cercado de pessoas que buscam resolver essas situações? Aguardamos seus comentários.
Referência