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Como investidores se comportam em cenários de queda do mercado?
Vieses comportamentais são erros de percepção, avaliação ou julgamento, que escapam à racionalidade, e ocorrem de forma sistemática e previsível, em determinadas circunstâncias, no processo decisório. Ocorrem devido às heurísticas, ou atalhos mentais, que funcionam como regras de bolso que agilizam e simplificam a percepção e a avaliação das informações que recebemos. Embora simplifiquem as decisões, podem trazer riscos.
Aversão à perda é um viés comportamental que nos faz atribuir, na tomada de decisões, um peso maior às perdas do que aos ganhos, porque normalmente a dor da perda é sentida com muito mais intensidade (em média duas vezes mais) do que o prazer do ganho. Esse comportamento pode nos induzir a correr mais riscos na tentativa de reparar eventuais prejuízos.
Uma pesquisa realizada em 2018 pela FINRA[i], regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos, ilustrou como esse viés age. Em uma pergunta, buscaram avaliar a reação dos investidores à queda no mercado de ações que ocorreu no início de 2018. Apenas 7% dos cerca de 2 mil entrevistados disseram que venderam seus investimentos em ações como resposta à queda. A maioria (68%) relatou nenhuma ação tomada, e 22% informaram que compraram ações após a queda.
Como se pode observar, a maioria dos investidores optou por manter seus investimentos. Boa parte deles pode ter tomado essa decisão apenas para não realizar prejuízos, e evitar a dor da perda, com a esperança de o mercado se recuperar enquanto viam o preço de suas ações caírem. Esse exemplo pode representar uma manifestação da aversão à perda, quando o investidor mantém uma posição em um ativo apenas para não sentir a dor psicológica gerada pela realização do prejuízo[ii].
O mesmo estudo revelou que os homens são mais propensos que as mulheres a relatar que compraram ações em resposta à queda do mercado, embora ambos os sexos tenham a mesma probabilidade de ter vendido. Os entrevistados com 55 anos ou mais têm menos probabilidade que os mais jovens de ter feito alterações em seu portfólio em resposta à queda. Outras pesquisas já demonstraram que homens e pessoas mais jovens tendem a correr mais risco.
De forma prospectiva, apenas 9% dos entrevistados na pesquisa da FINRA disseram que venderiam ações se o mercado caísse 20% repentinamente. Muitos deles (44%) não mudariam seus investimentos e quase um terço dos participantes (31%) compraria ações. Quinze por cento não sabem o que fariam.
Os investidores que se sentem confortáveis em assumir riscos acima da média ou mais têm mais probabilidade do que os que se sentem menos confortáveis com o risco em dizer que comprariam (46% contra 23%) e venderiam (15% contra 5%) no caso de uma queda do mercado de ações.
Projetar comportamentos futuros nem sempre é fácil ou confiável. Na hora da decisão, pensar nas possibilidades nos momentos “quentes”, ou seja, quando estamos sob forte emoção (euforia, medo, pânico) pode nos levar a más decisões. O ideal é se planejar. Uma alternativa é definir estratégias para limitar perdas, como as ordens Stop-Loss, por exemplo. Dessa forma, define-se o prejuízo máximo aceitável, de forma a evitar perder mais dinheiro.
Todo investimento traz riscos, por menor que seja. O importante é que os riscos assumidos sejam calculados e refletidos, de forma a corresponder a estratégias definidas previamente pelos investidores, evitando, assim, ações guiadas por vieses. E você, leitor, já passou por uma situação semelhante? O que fez na ocasião?
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[i] Referência
FINRA Investor Education Foundation. Investors in the United States: A Report of the National Financial Capability Study. December 2019. Disponível em < https://www.finrafoundation.org/files/investors-united-states-report-2019>. Acesso em 16 de julho de 2021.
[ii] Esse comportamento também se relaciona com outro viés, chamado “falácia dos custos irrecuperáveis”, sobre o qual você pode ler mais aqui.