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Como as experiências durante a infância afetam o comportamento financeiro?
Como já apresentado anteriormente aqui no blog, a educação financeira na primeira infância tem um papel fundamental na constituição de uma sociedade mais saudável e produtiva economicamente¹. Contudo, para além da educação financeira, como as experiências e influências no cotidiano durante a infância se refletem na dimensão comportamental financeira?
Pesquisas científicas nas últimas décadas no campo do desenvolvimento na infância têm evidenciado que a aprendizagem, para além de constituir a base de conhecimento da criança, tem sido determinante para um desenvolvimento eficiente da consciência e habilidades de autorregulação no presente e para o futuro.
Durante o desenvolvimento e aprendizagem humana nos primeiros anos de vida, o engajamento com o nosso ambiente é determinante. No artigo Financial Literacy and Education Research Priorities², pesquisadores ressaltam que as crianças, no processo de aprendizagem socializada, adquirem gradualmente práticas culturais, junto a assimilação de valores, atitudes, padrões, normas, conhecimentos e comportamentos que contribuem para uma melhor habilidade financeira e bem-estar. Como exemplo prático, podemos pensar sobre os hábitos de consumo. Como eram os nossos hábitos e dos nossos cuidadores? Muitos presentes e desejos atendidos? E as nossas idas ao supermercado com os nossos pais? Essas são algumas questões que nos ajudam a entender esse processo.
Aproveitando esse momento de reflexão, leitor, você consegue lembrar que tipo de sensação estava presente ao querer e obter aquele brinquedo popular tão veiculado em propagandas? Sim, outro campo de influência significativa na infância e com reflexos futuros, trata-se da mídia [1].
Estudos clássicos relacionados à Publicidade, apresentados em Habit Formation and Learning in Young Children³, inferiram que as crianças que são expostas a muitos anúncios podem ser educadas com estímulos a determinados estilos de vida, com aprendizagem de atitudes relacionadas ao consumo e à importância ou à função do dinheiro. Pesquisadores4 sobre o tema ressaltaram, ainda, que a publicidade tem um forte papel na formação futura de valores materialistas do indivíduo.
Levando em consideração, ainda, que a nossa constituição humana também se dá em determinado tempo, no qual acontecimentos culturais, políticos e socioeconômicos nos moldam, cada geração tem um tipo de perfil comportamental e modo de aprendizagem determinados por seu tempo geracional. Logo, o comportamento financeiro de cada indivíduo também está relacionado ao seu período geracional.
Estudos desenvolvidos sobre as mudanças de comportamento de cada geração no meio científico, tem classificado as gerações dentro de algumas terminologias específicas. A teoria de gerações mais famosa é a dos americanos William Strauss e Neil Howe5, em que as quatro gerações desse século são classificadas como: (1) os baby boomers, nascidos entre 1943 a 1960; (2) a geração X, nascidos entre 1961 a 1981; (3) A geração Y, ou Millennials, nascidos entre 1982 a 2004; e (4) a geração Z, nascidos de 2005 ao presente.
A fim de ilustrar os reflexos no comportamento financeiro a partir da perspectiva geracional, entende-se que a geração baby boomers, pós-guerra, nasceu em um contexto de crescimento econômico e com acontecimentos que a movimentaram para a formação de indivíduos com perfis idealistas. Em relação à geração X, essa nasceu durante a crise econômica do petróleo e foi a primeira a ser criada em uma cultura de consumo em massa, e em resposta a esse contexto se apresentava mais insatisfeita.
Já os indivíduos da geração Y, Millennials, nasceram no mundo digital das redes sociais e Internet. Essa geração é considerada consumista funcional e os indivíduos estão “habituados a encontrar o que desejam de forma rápida e fácil, e transferem essa situação para vários outros aspectos da vida”6. Por fim, chegamos à geração Z, nascida na tecnologia atual, que é considerada mais adaptativa e altamente dependente dos smartphones e redes sociais, tendo um estilo de consumo mais consciente e sustentável.
E você, leitor? Faz parte de qual geração e como as suas experiências durante a infância afetaram o seu comportamento financeiro hoje? Compartilhe conosco suas reflexões!
Referências
1. Castelli, M. Por que pensar em educação financeira para a primeira infância e quais os impactos para a economia e a sociedade?. Penso, Logo Invisto?, Rio de Janeiro, 27 de outubro de 2021.
2. Schuchardt et al. Financial Literacy and Education Research Priorities. Journal of Financial Counselling and Planning Vol 20, (1). 2009.
3. Whitebread & Bingham. Habit Formation and Learning in Young Children. 2013.
4. Baran, S. J., Mok, J. J., Land, M., and Kang, T. Y. You are what you buy: Mass-mediated judgments of people’s worth. Journal of Communication, 39(2), 46-54. 1989.
5. Strauss W, Howe N. Generations: The history of America's future, 1584 to 2069. 1st ed. New York: Quill; 1991.
6. Artese, F. In the digital world, all roads lead to Rome. But is Rome prepared? Dental Press J Orthod. 2019 Nov-Dec;24(6):7-8.
Nota:
[1] No contexto brasileiro, é importante destacar que, de acordo com o Capítulo II da Seção 11 (Crianças e Jovens) e Artigo 37 do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR), “os esforços de pais, educadores, autoridades e da comunidade devem encontrar na publicidade fator coadjuvante na formação de cidadãos responsáveis e consumidores conscientes. Diante de tal perspectiva, nenhum anúncio dirigirá apelo imperativo de consumo diretamente à criança”.
CONAR. Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária. Ed: 2021/2022. Disponível em: http://www.conar.org.br/pdf/codigo-conar-2021_6pv.pdf