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Como alguns vieses cognitivos podem se relacionar com golpes financeiros
Os golpes financeiros representam uma ameaça constante para investidores, instituições e a economia em geral. Por trás de esquemas engenhosos, muitas vezes, estão aspectos psicológicos que tornam os indivíduos suscetíveis a se tornarem vítimas de atividades fraudulentas. Neste artigo, exploraremos alguns vieses cognitivos que podem se relacionar com golpes financeiros, destacando como a mente humana pode se enganar frente ao desejo de ganho ou resoluções financeiras.
Ao tomarmos decisões, nosso cérebro muitas vezes utiliza alguns padrões mentais chamados vieses cognitivos. Esses vieses são padrões de pensamento que simplificam o processo de tomada de decisão, permitindo-nos lidar com a sobrecarga de informações que enfrentamos diariamente de forma rápida e com menos gasto de energia mental. No entanto, esses atalhos mentais (heurísticas) podem nos levar a tomar decisões equivocadas, com erros de percepção, avaliação e julgamento, especialmente quando se trata de assuntos financeiros. Além disso, os vieses cognitivos são produtos de nossas experiências, crenças e emoções, e podem afetar negativamente a forma como tomamos decisões financeiras. Deste modo, ao compreendemos melhor alguns dos principais vieses cognitivos, podemos nos tornar mais conscientes de nossas próprias tendências e estar alertas para possíveis golpes. A seguir apresentaremos 5 vieses cognitivos, a partir dos trabalhos desenvolvidos pelo psicólogo Daniel Kahneman¹, e demonstraremos como podem se relacionar com golpes financeiros:
1) Viés de confirmação: Esse viés descreve a tendência de as pessoas buscarem informações que confirmem suas crenças existentes, ignorando ou descartando evidências contrárias. Em golpes financeiros, os golpistas exploram esse viés apresentando informações que parecem confirmar os desejos ou expectativas das vítimas, aumentando sua confiança e tornando-as mais suscetíveis a cair no golpe.
2) Viés de aversão à perda: Esse viés refere-se à tendência das pessoas em atribuir maior importância às perdas do que aos ganhos, induzindo os indivíduos a correrem mais riscos no intuito de tentar reparar eventuais prejuízos. Os golpistas exploram esse viés apresentando o golpe como uma oportunidade única e imperdível de investimento ou como forma de recuperar perdas passadas, despertando o medo e a aversão à perda nas vítimas.
3) Viés de ancoragem: Esse viés ocorre quando nos baseamos excessivamente em uma informação inicial, chamada de âncora, ao fazer uma avaliação ou tomar uma decisão. Os golpistas podem utilizar esse viés estabelecendo uma âncora inicialmente atraente, como um investimento com altos retornos, fazendo com que as vítimas superestimem os benefícios e minimizem os riscos envolvidos.
4) Viés da disponibilidade (ou heurística da disponibilidade): Esse viés ocorre quando tendemos a basear nossas decisões em informações prontamente disponíveis e recentes em nossa memória conforme experiência pessoal, ao invés de buscar uma análise mais abrangente. Golpistas podem explorar esse viés fornecendo informações seletivas e convincentes com base em acontecimentos e emoções relacionadas à vida da vítima, destacando casos de sucesso ou recompensas “possíveis”, enquanto ocultam os riscos ou as informações contraditórias.
5) Viés Lacunas de Empatia Quente-Frio: Esse viés está relacionado à influência do nosso estado emocional na interpretação dos acontecimentos. Isso significa que, quando estamos experimentando um estado emocional intenso, como alegria ou excitação, temos dificuldade em lembrar ou entender os sentimentos de pessoas em estados emocionais opostos, como tristeza ou desespero. Os golpistas se aproveitam desse viés ao explorar o estado emocional das pessoas para influenciar suas decisões financeiras. Ao criar uma narrativa que desperta emoções intensas, como a promessa de ganhos financeiros significativos, os golpistas podem aproveitar a dificuldade das pessoas em considerar racionalmente os riscos envolvidos. Em um estado emocional quente, por exemplo, as pessoas podem ser mais propensas a tomar decisões financeiras precipitadas, sem avaliar adequadamente as consequências.
No contexto dos golpes financeiros, observamos que os vieses cognitivos desempenham um papel crucial. Contudo, aliada aos vieses também é importante mencionar a chamada engenharia social. De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN)², a engenharia social é uma estratégia de manipulação psicológica utilizada por criminosos, principalmente por meios virtuais, para induzir os indivíduos ao erro e enganar suas vítimas por meio de narrativas convincentes. Essa forma de manipulação psicológica, muitas vezes com promessas de ganhos extraordinários, negócios vantajosos e oportunidades únicas, visa explorar as vulnerabilidades das pessoas, que se identificam com as histórias contadas e acionam o senso de urgência ativando respostas psicológicas, como o medo de perder uma grande oportunidade. A Federação ainda sinaliza que esse risco é ainda maior para pessoas mais vulneráveis, como idosos, e para aqueles que enfrentam dificuldades com a tecnologia ou estão endividados, inadimplentes e com problemas financeiros graves.
É importante ressaltar que esses são apenas alguns exemplos de vieses cognitivos que podem influenciar nossas decisões financeiras, como também nos deixar suscetíveis a golpes. A conscientização sobre esses vieses e a busca minuciosa por informações bem fundamentas e imparciais são medidas essenciais para evitar os golpes financeiros. Para proteger-se de golpes, é fundamental desenvolver um pensamento crítico, questionar informações suspeitas e buscar orientações de fontes confiáveis. Além disso, estar atento aos sinais de alerta, como promessas exageradas de retorno financeiro, pressão para tomar decisões rápidas e falta de transparência, também é crucial. Em última análise, compreender os vieses cognitivos, bem como a sua relação com os golpes financeiros, nos capacita a tomar decisões mais informadas e seguras. Ao estarmos conscientes de nossas próprias tendências cognitivas e da forma como elas podem ser exploradas por golpistas, podemos nos proteger e evitar cair em armadilhas financeiras.
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Referências:
1) Kahneman, D. Rápido e devagar: duas formas de pensar. tradução Cássio de Arantes Leite. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
2) FEBRABAN. Por que tantas pessoas caem em golpes financeiros? - Meu Bolso em Dia. 2022. Disponível em: https://meubolsoemdia.com.br/Materias/porque-cair-em-golpe