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Como a idade subjetiva afeta nosso comportamento financeiro?
A idade cronológica é utilizada como medida para o estabelecimento de diversas medidas econômicas em um plano macro e decisões pessoais em um plano micro – como as relacionadas a trabalho, aposentadoria, consumo e poupança. Segundo Lusardi, Mitchell e Oggero (2019), o modelo padrão do ciclo de vida da economia diz que os adultos próximos à aposentadoria deveriam estar no auge do seu acúmulo de riqueza, uma vez que tiveram anos ativos de participação na economia e por se prepararem para uma queda nos ganhos, uma vez que não possuirão mais vínculos trabalhistas.Porém, estudos recentes demonstram que não só a educação financeira e o tempo de trabalho determinam esses comportamentos financeiros, mas também a idade subjetiva, isto é, a idade que as pessoas sentem ter. Pesquisas mostram que apenas a idade cronológica não reflete sua atual posição no processo de envelhecimento: a idade subjetiva afeta as funções fisiológicas, os comportamentos e a longevidade, além de ser também importante para previsões relacionadas a saúde e mortalidade.
Alguns estudos mostraram que manter uma idade subjetiva jovem pode refletir uma negação do envelhecimento e servir como mecanismo de enfrentamento. É comum, porém, que as pessoas, quando mais novas, se sintam mais velhas que sua idade cronológica – mas, depois de certa idade, tenderem a se sentir mais novas do que realmente são. A idade subjetiva decorre de um processo de ancoragem, ajuste e adaptação a modelos internos de desenvolvimento e marcadores simbólicos de idade externos, que podem sofrer variações de acordo com pontos de vista pessoais – como medo do envelhecimento e comparações sociais com colegas da mesma idade (Ye e Post, 2019).
Uma pesquisa realizada por Ye e Post (2019) reuniu uma amostra de residentes do EUA acima de 50 anos, a qual foi composta de 9284 participantes para análise. Como variáveis dependentes foram estabelecidos indicadores de comportamentos de trabalho e poupança.
Para identificar a idade subjetiva dos respondentes, foi perguntada qual idade seria atribuída como típica de certos comportamentos. Depois, perguntou-se como eles se sentiriam pessoalmente se adotassem alguns tipos de comportamento (mais jovens ou mais velhos). Entre os comportamentos, estavam presentes “ter dificuldade de aprender novas tecnologias”, “estar aposentado”, “estar desempregado”, “lidar com finanças pessoas e economias”, “investir no mercado de ações”, “ir às compras”, “seguir a moda”, entre outras. Depois que os respondentes completaram as afirmações, foram solicitados a indicar sua idade subjetiva (através da pergunta: “Muitas pessoas se sentem mais velhas ou mais novas que realmente são. Qual idade você sente ter?”) e ceder algumas informações demográficas.
Os respondentes que se sentiam mais jovens que sua idade cronológica tinham, de forma geral, taxas mais altas de poupança, quando comparados com os que se sentiam da mesma idade ou mais velhos. Porém, sentir-se muito mais novo que a idade cronológica mostrou relacionar-se com um baixo acúmulo de riqueza. Um padrão similar foi encontrado para a escolha de portfólio: indivíduos com uma idade subjetiva mais jovem podem alocar mais ativos financeiros para uma posição mais segura do que para uma posição de risco, já que o gerenciamento financeiro sofisticado pode ser tido como um fator de envelhecimento, oriundo da habilidade adquirida com o tempo.
O fato de trabalhar faz os respondentes se sentirem mais jovens, da mesma forma que estar aposentado os faz se sentirem mais velhos. Gerenciar finanças e poupança, bem como investir no mercado de ações faz os respondentes se sentirem mais velhos, ao passo que consumir os faz se sentirem mais jovens.
Os resultados obtidos pelos pesquisadores fornecem apoio para entender que os aspectos comportamentais exercem grande influência. Como a literatura discutida por eles demonstra, uma razão para evitar comportamentos é associar ou dissociá-los com grupos que o exercem e como a sociedade os vê, se de forma favorável ou não. Os achados da pesquisa também mostram que se sentir mais jovem está relacionado com maior engajamento ao trabalho, planejamentos mais distantes de aposentadoria, podendo predizer decisões tomadas no presente em relação a esses assuntos.
Com esta pesquisa, os autores buscam trazer atenção para aspectos que escapam o comportamento típico de idades cronológicas: os regidos pela idade subjetiva e sua percepção nos indivíduos. Assim, eles pedem maior flexibilidade para indivíduos decidirem questões importantes como tempo de trabalho, contribuição e aposentadoria para alinhar seus objetivos com sua idade subjetiva.
E você, leitor? Concorda que a idade subjetiva pode afetar nossas atitudes ou vê maior influência por parte da idade cronológica?
Esperamos seus comentários.
Referências
LUSARDI, A., MITCHELL, O. S., OGGERO, O. Debt Close to Retirement and Its Implications for Retirement Well-being. TIAA Institute: Trends and Issues. 2019.
YE, Z., POST, T. What age do you feel?–Subjective age identity and economic behaviors. Journal of Economic Behavior & Organization. 2019.