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A importância de um conceito comum de bem-estar financeiro
O bem-estar financeiro está entre as prioridades da presidência do G20 em 2024 para a Parceria Global pela Inclusão Financeira (Global Partnership for Financial Inclusion - GPFI).
Várias organizações identificaram o bem-estar financeiro (BEF) como uma meta para a formulação de políticas. As discussões sobre o tema têm progredido de forma constante, por isso o desenvolvimento de uma definição comum é crucial para criar uma abordagem coesa e eficaz, facilitando o diálogo entre organizações e países. Há um papel fundamental dos reguladores financeiros na promoção do BEF, avaliando, analisando o impacto dos serviços financeiros, impulsionando e catalisando o setor para ser mais orientado a resultados positivos para os clientes.
Ao dar prioridade ao bem-estar financeiro, a GPFI reconhece que fatores sistêmicos, como as práticas da indústria e a disponibilidade de soluções financeiras inovadoras, inclusivas e transparentes desempenham um importante papel na definição dos resultados financeiros dos indivíduos, para além dos fatores como políticas sociais, recursos econômicos, circunstâncias pessoais e outros fatores sociais. Ela enfatiza a necessidade de as instituições financeiras, os decisores políticos e os reguladores contribuírem ativamente para a criação de um ambiente que promova o BEF.
Há um reconhecimento geral na literatura acadêmica de que o bem-estar financeiro tem aspectos objetivos e subjetivos. Como aspectos subjetivos, temos aqueles relacionados aos sentimentos e percepções individuais, como sentir-se seguro, sentir-se no controle e ter confiança sobre as finanças pessoais.
Já os aspectos objetivos são aqueles relacionados com os recursos financeiros e questões da vida financeira de um indivíduo, como deter um determinado montante de poupanças, ou ter acesso a produtos e serviços financeiros que podem ajudar as pessoas a satisfazerem as suas necessidades básicas ou lidar com choques negativos. Um aspecto amplo que se reflete em muitas definições é a capacidade de satisfazer necessidades e obrigações financeiras e de gerir as finanças sem problemas a curto prazo.
Outro de seus componentes está relacionado com a resiliência financeira, que pode ser pensada como a capacidade de mobilizar recursos para enfrentar e se recuperar de um choque financeiro negativo e desenvolver estratégias de sobrevivência que possam facilitar respostas eficazes a reveses financeiros. Em particular, é fundamental reconhecer as complexidades da resiliência financeira entre as pessoas de baixos rendimentos, uma vez que o progresso para sair da pobreza é frágil e constantemente ameaçado por uma série de choques.
Além de cobrir as despesas básicas do cotidiano e lidar com possíveis choques financeiros, o BEF tem a ver com a capacidade de perseguir aspirações financeiras e cumprir metas futuras. Este elemento tem a ver, ainda, com os recursos para satisfazer “desejos” de vez em quando, e com aproveitar a vida e sentir-se confiante para cumprir objetivos e gerir finanças futuras.
A definição da OCDE de 2019 destacou que os fatores associados ou que apoiam o bem-estar financeiro podem incluir: conhecimentos e competências; saúde física e mental; apoio de amigos, familiares e da comunidade em geral; e estabilidade econômica e crescimento.
Fatores psicológicos como confiança, atitudes em relação a gastos, poupança e empréstimo, orientação em relação ao tempo, impulsividade, orientação para ação e autocontrole podem estar associados diretamente aos aspectos subjetivos do BEF ou podem influenciá-lo indiretamente através de certos comportamentos financeiros (como poupar, gastar, contrair empréstimos ou contratar um seguro).
Fatores contextuais econômicos, sociais e culturais mais amplos também podem criar condições que podem apoiar ou restringir o BEF. Controlando estas variáveis, é provável que um contexto macroeconômico estável favoreça o bem-estar financeiro, pois facilitaria a tomada de decisões financeiras individuais e não exporia as pessoas a variações frequentes da inflação, das taxas de juro, das taxas de câmbio etc.
O texto acima é uma tradução resumida da Nota Política sobre Definição e Medição do Bem-Estar Financeiro (Policy Note on Defining and Measuring Financial Well-being) desenvolvida pela OCDE/INFE com contribuições da Força-Tarefa do G20/OCDE sobre Proteção ao Consumidor Financeiro.