Tecnologias digitais aumentam possibilidades para inovações
Hoje presentes no cotidiano das pessoas e das empresas, as tecnologias digitais trouxeram mudanças importantes na forma de realizar pesquisas tecnológicas. Dados de diversas áreas do conhecimento podem ser quantificados em bases digitais, que permitem sua análise por ferramentas de aprendizado de máquina ou inteligência artificial e ainda mobilizam recursos como a internet das coisas e a impressão 3D. Por essa razão, as Tecnologias Digitais foram o tema da terceira e última edição do Seminário Novos Futuros, realizada pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT), em parceria com o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), em 10 de novembro de 2021.
Em seu Painel Estratégico o evento reuniu lideranças do setor público e privado com foco em iniciativas e políticas para consolidar o uso das tecnologias digitais em inovações no País. A moderação do encontro foi feita pelo professor titular da PUC-Rio, Fernando Rizzo, ex-diretor do INT e do CGEE, que viria a ser empossado, em 1º de março de 2022, como presidente do CGEE.
A coordenadora-geral de Transformação Digital do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, Eliane Emediato, que coordena as atividades da Estratégia Brasileira para a Transformação Digital (E-Digital), relacionou as políticas públicas lideradas pelo MCTI em conjunto com outros Ministérios afins com os temas específicos. Lançada em 2018, com apoio do Ministério da Economia, a E-Digital passou por um grande processo de discussão com a sociedade em consulta pública. Além da Estratégia, há o trabalho das câmaras temáticas, que discutem um plano de Internet das Coisas (IoT) com os ambientes onde ocorreu essa transformação de maneira mais efetiva: como Cidades 4.0; Saúde 4.0, Indústria 4.0, Agro 4.0 e Turismo 4.0.
A economista Rosilda Prates, presidente executiva da P&D Brasil, associação que congrega empresas de base tecnológica, apresentou as oportunidades que acompanham a transformação digital. Ela destacou o valor de desenvolver essas tecnologias nacionalmente: nesse caso 85% das riquezas são agregadas para o País, contra 30% quando a tecnologia é importada, e 52% quando é importada, mas montada no Brasil (dados do BNDES). O setor de empresas de base tecnológica nacional responde hoje por um faturamento anual de R$ 27 bilhões e por quase 50 mil empregos diretos. A P&D Brasil também integra fóruns, como o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, Comitê da Área de Tecnologia da Informação (CATI), Conselho Consultivo da Rede Embrapii/MCTI em Inteligência Artificial e em Transformação Digital, Conselho de Política Industrial e Desenvolvimento Tecnológico (COPIN) da CNI, Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) e Coalizão Empresarial Brasileira (CEB), além das câmaras temáticas do MCTI, entre outros.
“Esse é um formato onde o setor acompanha e colabora com os atores de definição de política industrial sobre esse arcabouço legal. Estreitar esse relacionamento do ambiente de produção, do ambiente de desenvolvimento tecnológico, com quem orienta a condução das políticas públicas é a forma com que as entidades procuram orquestrar essa participação e aproveitar todo esse conhecimento do mercado” – observa Rosilda Prates.
O engenheiro elétrico Norberto Alves Ferreira, gestor de Soluções Sistêmicas de IoT e Inteligência Artificial (IA) do CPQD, apresentou a experiência de um dos principais centros de inovação em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) do Brasil. Criado em 1976 como Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Telebras, o CPQD tornou-se uma organização privada em 1998, ampliando a geração de soluções em TICs a outros setores. Atualmente, seu programa de pesquisa e desenvolvimento é o maior da América Latina nesta área. Além de transferir tecnologia para empresas, o Centro de P&D busca por fundos de fomento que ajudam a consolidar projetos de inovação. O CPQD integra ainda a Rede Embrapii de Inovação em Inteligência Artificial, que conta com 19 unidades, e já tem R$ 210 milhões investidos e 193 apoiados.
Segundo o engenheiro, esse novo mercado pode ser ainda mais desenvolvido com a expansão da tecnologia 5G. “A chegada do 5G pode acelerar a transformação digital, cidades inteligentes. Aplicações que já eram possíveis antes, agora podem ser massificadas” – afirma Norberto Ferreira.
O Painel Estratégico do Seminário Novos Futuros pode ser assistido na íntegra no YouTube, no link https://bit.ly/NovosFuturosDigitaisManha.
PAINEL CIENTÍFICO-TECNOLÓGICO
À tarde, a partir das 15h, o Painel Científico-Tecnológico trouxe as experiências de cientistas com pesquisas inovadoras, que tiveram importante impulso com as tecnologias digitais. A moderação das discussões foi conduzida pela tecnologista do INT, Andréa Carvalho, chefe do Laboratório de Simulação e Otimização de Sistemas Produtivos, que conduz projetos baseados em simulação, otimização sob incerteza e aprendizado de máquina.
O professor emérito do Departamento de Ciência da Computação da UFMG, Nivio Ziviani, falou sobre os Institutos de Ciência e Tecnologia do futuro. Fundador de quatro empresas na área de transformação digital e autor de livro e mais de 180 artigos científicos nas áreas de algoritmos, recuperação de informação e inteligência artificial, ele destaca esses conhecimentos como decisivos na configuração desses Institutos. Entre as características que marcariam o futuro dos centros de pesquisa, na avaliação do professor, estão: a multidisciplinaridade, a obtenção de resultados práticos em curto prazo e a estratégia de aceleração de projetos a partir do uso de dados acumulados de projetos anteriores.
“Cuidem muito bem dos dados, coloquem rótulos neles e guardem muito bem, pois o aprendizado de máquina pode fazer milagres, acelerar o processo de todo o mundo” – recomenda o professor.
Em seguida, o professor titular do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP, André Carvalho, fez uma apresentação sobre o uso da inteligência artificial em diferentes tecnologias. Autor de mais de 300 publicações em ciência de dados, aprendizado de máquina e mineração de dados, incluindo 10 prêmios de melhores artigos em conferências internacionais, o professor apresentou soluções que já desenvolveu. A primeira delas, ainda no ano de 2000, foi uma língua eletrônica capaz de identificar padrões de paladar em substâncias líquidas, mesmo em níveis menores que os percebidos por humanos, para uso em indústrias de alimentos e bebidas ou mesmo detecção de contaminantes em efluentes.
Posturas de idosas escaneadas em 3D são avaliadas por softwares específicos, no Laboratório de Ergonomia do INT.
Entre os projetos mais recentes, o Prof. André Carvalho desenvolveu uma ferramenta que orienta a combinação de elementos para a fabricação de vidros com diferentes propriedades específicas, e um aplicativo que usa um modelo preditivo para diagnóstico rápido de Covid-19 e, no futuro, para outras doenças. O seu grupo da USP coordena ainda uma Rede de Inteligência Artificial em Cidades Inteligentes, Rede IARA, envolvendo Ambientes inteligentes. O objetivo do trabalho vem sendo transformar ambientes, em diferentes patamares tecnológicos e sociais, por meio de serviços à sua população. Por fim, o pesquisador vem usando a IA para automatizar o próprio processo do aprendizado de máquina, aprimorando o mecanismo para uso nas diversas outras áreas de conhecimento.
O aprendizado de máquina é usado em diversas áreas de conhecimento.
Coordenadora do Laboratório de Inteligência Computacional e Robótica (LIRA) na PUC-Rio e vice-coordenadora do Centro de IA do Estado do Rio de Janeiro (CIA-Rio) e professora do Instituto de Matemática e Estatística da UERJ, Karla Figueiredo apresentou algumas das áreas onde lidera projetos. No LIRA, ela já desenvolveu pesquisas de inteligência computacional e robótica aplicadas em mais de 40 empresas, com trabalhos nos setores de Petróleo e Gás, elétrico e governo, relacionados a automação nas áreas de Fazenda, Saúde e Segurança Pública. O Laboratório também desenvolveu um sistema para detectar fadiga e distração de motoristas em equipamentos agrícolas, um andador robótico e robôs autônomos para inspeção de plantações de soja e algodão e para avaliação da qualidade ambiental em rios e lagos.
No CIA-Rio, também são desenvolvidos projetos na área de exploração e produção de petróleo, Gás Natural e temas transversais, como logística, segurança, meio ambiente e controle de qualidade. Na área de saúde, pesquisas orientadas pela professora Karla culminaram com o desenvolvimento de um modelo matemático para otimização de filas para procedimentos não eletivos, que leva em conta o estado clínico e idade do paciente, processos, complexidade, especialidade e recursos humanos e materiais disponíveis. O resultado projetado com base na realidade de hospitais públicos apontou para uma redução de 16,25% e mais de mil horas de fila, e a tecnologia será utilizada em uma unidade do SUS. Mais recentemente, a pesquisadora desenvolve um aplicativo para otimizar a ocupação de leitos, a ser utilizado pelo Hospital Universitário Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro.
As palestras do Painel Científico-Tecnológico sobre Tecnologias digitais estão disponíveis no link: https://bit.ly/NovosFuturosDigitaisTarde.