PROPENO VERDE: Contratado pela Sinochem, INT desenvolve alternativa para gerar produto petroquímico a partir do etanol
Empresa de origem chinesa investe R$ 2 milhões no desenvolvimento de processo que deve substituir o petróleo na obtenção de intermediário químico estratégico, que é base para produzir polipropileno, tecidos sintéticos, adesivos, tintas e plásticos variados.
Com atuação mundial nos setores químico, agrícola, de energia, finanças e imóveis, o conglomerado chinês Sinochem – situado entre as 500 maiores empresas do mundo – atua no Brasil na exploração e produção petrolífera. A Sinochem Petróleo Brasil Ltda. detém 40% do campo de Peregrino, na Bacia de Campos, em parceria com a norueguesa Equinor. Sendo um campo maduro, de alta produção, a empresa entrou na categoria de participação especial, se enquadrando na cláusula da ANP que determina o investimento de 1% da receita bruta da produção em pesquisa, desenvolvimento e inovação no País.
Juntando essa exigência à meta de gerar valor para a empresa, a Sinochem Petróleo Brasil se voltou à origem do seu negócio mundial, apostando em produtos que reúnem em sua cadeia produtiva os setores químico, de energia e agricultura: no caso, biocombustíveis e químicos de fontes renováveis. Desta forma, em 2018, a empresa lançou uma chamada direcionada a instituições que avaliou competentes para realizar P&D relacionado a estes produtos, selecionando duas propostas de projetos do Instituto Nacional de Tecnologia (INT).
Um destes projetos, coordenado pela pesquisadora Lucia Gorenstin Appel, do Laboratório de Catálise, trata da síntese de propeno a partir de etanol, se propondo ao desenvolvimento de catalisadores que promovam a geração do produto em uma única etapa de reação.
“O projeto era interessante e já sabia da força do grupo da professora Lucia Appel em alcoolquímica” – relata o especialista em biocombustíveis e desenvolvedor de novos negócios da Sinochem Petróleo Brasil, João Monnerat. Engenheiro químico e também pesquisador, com doutorado em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Monnerat afirma o interesse da companhia na área de renováveis.
Na Divisão de Catálises e Processos Químicos do INT, o representante da
Sinochem, João Monnerat, e a coordenadora do projeto, Lucia Appel.
“A produção de biocombustíveis no Brasil é grande e interessante, mas o que se prevê como mais relevante para o futuro são químicos de origem renovável e alguns biocombustíveis mais avançados. O Brasil já tem um parque industrial montado para a produção de etanol, inclusive já produzindo alguns químicos dessa fonte, como o eteno verde da Braskem. E esse projeto vem como um complemento a isso” – avalia o especialista.
O propeno
O propeno é a segunda mais importante substância gerada pela Indústria Petroquímica. A partir dele, se produz o polipropileno – plástico resistente usado em embalagens de alimentos e de produtos de limpeza, peças de automóveis, tapetes, tecidos sintéticos e móveis – além de compostos usados em tintas, adesivos, fibras e material absorvente para fraldas, entre outros produtos.
O desenvolvedor de novos negócios da Sinochem descreve o propeno como um monômero utilizado na geração de plásticos e diferentes produtos. Atualmente não estão disponíveis matérias-primas renováveis capazes de sintetizar industrialmente esta importante substância. Isso torna o uso do etanol muito promissor – explica João Monnerat.
O especialista também relata investimentos importantes na área de químicos de origem renovável pela empresa. Um exemplo é a planta industrial implantada na China que transforma o glicerol, obtido de óleos vegetais, para a produção de epicloridrina, usada como solvente de celulose e tintas, na composição de resinas especiais, entre outros produtos.
O projeto
Com um contrato de aproximadamente R$ 2 milhões a serem investidos pela Sinochem ao longo de três anos, o projeto Síntese de propeno a partir de etanol está em curso há quatro meses. O trabalho já se encontra próximo à conclusão da fase de screening (avaliação inicial dos catalisadores) e parte para a otimização do sistema catalítico mais promissor, que será responsável pela primeira etapa desta síntese.
A negociação final entre a empresa e o INT foi concretizada tendo a Fundação de Apoio à Ciência da Computação Científica (FACC-LNCC) como interveniente do acordo de cooperação técnica. Além da coordenadora da pesquisa, Lucia Appel, o projeto conta com a colaboração dos pesquisadores Alexandre Barros Gaspar, Priscila Zonetti, Renata Fonseca e Guilherme Gonzalez, além do apoio dos técnicos da Divisão de Catálise e Processos Químicos do INT. Os contratos com a Sinochem também permitirão ao INT receber o valor referente a custos indiretos, relacionados ao uso da infraestrutura do Instituto.
Lucia Appel explica que a investigação científica voltada ao desenvolvimento do catalisador para obtenção do propeno já havia se iniciado em trabalho de doutorado orientado por ela, mas que neste trabalho diversas outras formulações de catalisadores estão sendo consideradas.
O resultado esperado do projeto seria pelo menos um pedido de patente de uma formulação de catalisador para converter etanol em propeno em uma etapa. O coexecutor técnico pela Sinochem prevê que, alcançado esse objetivo, deverão ocorrer novos trabalhos conjuntos para levar os testes para condições industriais.
Etanol na China
O etanol está presente no planejamento tecnológico da Sinochem como matéria-prima para geração de olefinas como o eteno e o propeno. Além disso, o etanol deverá ser cada vez mais consumido pela China. Em seu planejamento para os próximos cinco anos na área de Energia, o país asiático prevê para 2020 o uso de mistura contendo 10% de etanol na gasolina. Isso pode fazer com que, no próximo ano, a demanda de etanol por parte da China represente metade da produção atual de etanol do Brasil.
A trading Chinesa Cofco (comercializadora de commodities), por sua vez, adquiriu recentemente algumas plantas de produção de etanol em território brasileiro. Embora, atualmente, a China importe a maior parte do etanol dos EUA, o Brasil tem ótimas perspectivas de se tornar também um fornecedor deste biocombustível. Assim, a parceria em nível de negócios pode abrir caminho para mais parcerias entre a China e o Brasil no campo do desenvolvimento tecnológico, relacionadas ao uso do etanol.
No Laboratório de Catálise do INT, a equipe do projeto:
Priscila Zonetti, Lucia Appel, Guilherme Gonzalez, Renata Fonseca e Alexandre Gaspar.