Projeto que aproveita sementes de açaí é escolhido para receber apoio de R$1 milhão do Serrapilheira
A doutora em bioquímica Ayla Sant’Ana da Silva, pesquisadora do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), foi uma entre os 12 cientistas escolhidos pelo Serrapilheira para desenvolver a segunda fase de seu projeto apoiado na 1ª Chamada Pública de Pesquisa Científica da Organização. O anúncio foi feito no último dia 17 de maio, no auditório do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), pelo diretor-presidente do Serrapilheira, Hugo Aguilaniu. Os trabalhos selecionados, dentre 65 que receberam apoio de R$100 mil para desenvolver a primeira fase da pesquisa, terão agora apoio de mais R$ 1 milhão para o desenvolvimento do seu projeto, em três anos.
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Os representantes do Serrapilheira, Hugo Aguilaniu,Cristina Caldas e Cristina Campos, ao lado de três dospesquisadores escolhidos: Carlos Granade (CPRM), AylaSant’Ana (INT) e Karín Menéndez (UFRJ).
O projeto de Ayla Sant’Ana, “Rotas biotecnológicas para conversão da semente de açaí em energia e produtos com alto valor agregado”, contempla o aproveitamento da semente do açaí, que é descartada na produção da polpa e corresponde a 90% do fruto. Segundo dados do IBGE, a produção anual de açaí equivale a 1,3 milhões de toneladas, o que resulta em cerca de 1 milhão de toneladas de sementes descartadas no meio ambiente.
Desenvolvida no Laboratório de Biocatálise, na área de Catálise e Processos Químicos do INT, a pesquisa da bioquímica constatou que a semente do açaí é riquíssima em manana, um polissacarídio encontrado em outros vegetais em pequenas quantidades, que pode ser aproveitado na produção de gomas espessantes, compostos prebióticos e fármacos. A pesquisadora também desenvolveu o processo para extrair um licor vermelho da semente, onde identificou grande concentração de antioxidantes.
As propriedades desses novos subprodutos eleva as sementes de açaí à condição de matéria-prima para produtos de alto valor para as indústrias de cosméticos e alimentos. Em outra vertente, o trabalho aponta para o uso dessa biomassa residual, acumulada em regiões remotas do Norte do Brasil, como alternativa para produção de energia em pequenas comunidades que não têm acesso a centros de distribuição de eletricidade.
Essa solução envolve um método biológico, que converte a semente de açaí em energia usando bactérias anaeróbias. Esses microrganismos transformam açúcares em hidrogênio e metano, tipos de biogás com alto valor energético. Mesmo com um custo relativamente alto, a produção de energia associada à obtenção de outros produtos de alto valor pode viabilizar economicamente todo o processo.
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A pesquisadora Ayla Sant’Ana exibe o licor extraído da semente do açaí, riquíssimo em antioxidantes.
Um apoio diferenciado
Os projetos apoiados pelo Serrapilheira buscam responder a grandes questões de suas áreas de connhecimento. Privado e sem fins lucrativos, o Instituto apoia pesquisas ousadas de jovens doutores, ainda que envolvam estratégias de risco e procura dar liberdade de investimentos aos cientistas.PROJETO AÇAÍ 2019 05 15 amanda oliveira 1 web
“Buscamos criar uma rede de cientistas de excelência, que se tornem lideranças para a ciência brasileira no futuro” - destacou o diretor-presidente do Serrapilheira Hugo Aguilaniu, durante a divulgação do resultado da etapa final da primeira chamada pública da organização. O princípio do Instituto é concentrar recursos em poucos projetos, mas com forte potencial, em investigações que apostam no desenvolvimento de uma ciência internacionalmente competitiva.
Nesta segunda fase, os trabalhos dos 65 cientistas inicialmente selecionados, entre 1.955 inscritos, foram reavaliados por revisores nacionais e internacionais, além do Conselho Científico do Serrapilheira.
Outra inovação desse edital é o estímulo à diversidade na ciência. Do financiamento de R$ 1 milhão disponibilizado aos grantees, R$ 700 mil são concedidos de forma incondicional e os R$ 300 mil restantes, destinados à estimular a diversidade entre os pesquisadores, estando condicionados à incorporação de grupos subrepresentados em suas equipes de pesquisa, como pessoas de diferentes etnias, gêneros ou com necessidades especiais.