Peças do acervo do Museu Nacional são reconstruídas com materiais dos escombros do incêndio
Os restos e cinzas do acervo destruído no incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, começam a ganhar novo destino. Misturados com uma resina apropriada, eles estão sendo moldados por impressoras 3D, na construção de réplicas das peças que haviam sido digitalizadas. A tecnologia vem sendo usada por pesquisadores do Museu, pertencente à Universidade Federal do Rio de Janeiro, com suporte do Laboratório de Modelos Tridimensionais do Instituto Nacional de Tecnologia (INT), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), e do Núcleo de Experimentação Tridimensional (Next), da PUC-Rio. Museu Nacional cinzas viram peças 2019 04 17 fotojustodavila
Viga retirada dos escombros do incêndio do Museu Nacional.
À frente da atividade de impressão 3D está o designer Jorge Lopes, pesquisador do INT/MCTIC, coordenador do Next/PUC-Rio e colaborador do Museu Nacional desde 2000. Desde aquele ano, quando o paleontólogo Sergio Alex – então diretor do MN/UFRJ – procurou Lopes no Laboratório de Modelos Tridimensionais do INT, iniciava-se a digitalização 3D de peças.
Museu Nacional cinzas viram peças 2019 04 17 fotojustodavila 2O pesquisador Jorge Lopes despeja naimpressora 3D a resina com as cinzas.
Usando escaneamento 3D ou tomografia computadorizada, a atividade culminou com a instalação no Museu Nacional do Laboratório de Processamento de Imagem Digital (Lapid). Ao todo mais de 300 peças dos acervos de paleontologia e arqueologia foram detalhadamente digitalizadas. Embora as instalações físicas do Lapid tenham sido também destruídas pelo incêndio, essa memória foi mantida por meio de backups externos. Museu Nacional marajoara 2019 06 26 fotoamanda oliveira 0
Réplica de cerâmica marajoara produzida originalmente entre os séculos V e XV para uso como urna funerária.
Após a tragédia, os parceiros INT e PUC-Rio passaram a receber os pesquisadores do Museu Nacional e a iniciar imediatamente a impressão tridimensional desses arquivos. A partir do final de 2018, veio a ideia de agregar os restos das próprias peças à resina, que é consolidada por um feixe de laser, formando as camadas da réplica, no interior da impressora 3D.
“Inicialmente usamos as próprias cinzas desses objetos, que têm um sentido afetivo muito forte para os pesquisadores envolvidos, mas estamos investigando agora a possibilidade de reproduzir cores e texturas mais próximas dos originais. Por exemplo, a tonalidade e porosidade dos ossos, para a reconstituição de um fóssil de animal pré-histórico” – relata Jorge Lopes.
À frente da seção de Paleontologia de Vertebrados do Museu, o paleontólogo Sérgio Alex revela que o trabalho, que traz a expectativa de continuidade nas pesquisas dando forma às informações sobre o acervo, deu um passo à diante. “O uso dos materiais alternativos, mais próximos do material original da peça, pode aproximar ainda mais a cópia tridimensional do que era o objeto original” – afirma o pesquisador.
Algumas destas réplicas impressas em 3D serão mostradas ao público no estande do INT na ExpoT&C, exposição paralela à 71ª REUNIÃO ANUAL DA SBPC. O evento acontece de 21 a 27 de julho, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em Campo Grande, MS, com entrada gratuita.
Museu Nacional crânio Luzia 2019 06 26 fotoamanda oliveira
Crânio de “Luzia”, fóssilCrânio de “Luzia”, fóssilhumano mais antigo do Brasil,impresso em 3D no Lamot/INT.