Qualidade dos implantes ortopédicos está no foco da parceria INT - INTO
Aprimorar a qualidade dos implantes ortopédicos produzidos no Brasil ainda é uma necessidade, considerando o grande volume desses produtos em uso na rede pública de Saúde. Por conta do alto nível de resistência e precisão demandado a alguns desses implantes, muitos médicos acabam optando por materiais importados. Isso acontece especialmente no caso de próteses usadas em cirurgias, cujas falhas, fraturas, ineficiência ou incompatibilidade podem acarretar a necessidade de sua substituição ou mesmo a morte de pacientes.
Essa discussão marca a reaproximação entre o Instituto Nacional de Tecnologia (INT/MCTIC) e o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (INTO/MS), que atuam com a avaliação de próteses ortopédicas há pelo menos 30 anos. O tema Dispositivo Médico Implantável: conceitos, impacto biológico e ensaios para avaliação da qualidade atraiu ao auditório do INT, no dia 26 de março, durante o evento Terças Tecnológicas, um público de quase 100 pessoas, entre pesquisadores e estudantes de áreas médicas e tecnológicas. Apresentaram as palestras o chefe da Divisão de Ensino e Pesquisa do INTO, João Matheus Guimarães; a pesquisadora do INTO, Maria Eugênia Leite Duarte; e a coordenadora de Negócios do INT, Iêda Caminha.
Médico ortopedista, João Matheus Guimarães mostrou a variedade de dispositivos médicos implantáveis, como próteses, implantes diversos e materiais de osteossíntese, além de estudos que podem avaliar a qualidade desses produtos e o impacto que podem ter sobre os pacientes. O pesquisador e cirurgião relatou que o INTO usa mais de 70% dos seus implantes de fabricantes nacionais, mas destaca que esse valor corresponde basicamente a materiais de osteossíntese, que são implantes temporários, que podem ser retirados após a consolidação do osso. “Quanto ao uso de próteses definitivas, como as de quadril e joelho, ainda existe uma tendência de os ortopedistas preferirem a especificação da qualidade certificada de materiais importados, sendo que esta parceria visa melhorar a qualidade dos implantes nacionais”, relata o chefe da área de Ensino e Pesquisa do INTO.
O ortopedista João Matheus Guimarães apontou alguns problemas recorrentes apresentados pelos implantes,
destacando a importância da avaliação da sua qualidade.
A necessidade de avaliar e melhorar a qualidade das próteses ortopédicas nacionais é confirmada pela engenheira metalúrgica Iêda Caminha, que mostrou ensaios realizados pelo INT demonstrando parâmetros onde esses produtos e seus materiais apresentam pontos de melhoria no processo produtivo para se equipararem aos importados. No Instituto, os estudos para aprimoramento da tecnologia nacional envolvem as áreas de Engenharia e Ciência dos Materiais, Corrosão, Biocorrosão e Degradação, Engenharia e Design de Produtos.
A médica patologista, Maria Eugênia Leite Duarte, frisou que os laboratórios médicos e tecnológicos devem desenvolver ações complementares voltadas para solucionar os problemas ortopédicos que impactam na qualidade de vida do paciente. No INTO, ela relata que o foco são os projetos de pesquisa translacional, que reproduzem em animais de laboratório as doenças humanas. Nesses modelos animais são associados testes com materiais e células para avaliar a extensão e o tipo da resposta biológica aos implantes, a biocompatibilidade dos materiais implantáveis, dentre outros. Em paralelo com essas pesquisas pré-clínicas, pesquisas clínicas são desenvolvidas continuamente no INTO com o objetivo de atender as demandas do Ministério da Saúde e promover o bem-estar do paciente.
“É neste contexto que a parceria com o INT voltada para a avaliação de explantes [implantes com falhas ou fraturas extraídos dos pacientes e enviados para análise] irá beneficiar diretamente pacientes e gestores, que poderão fundamentar suas decisões para a aquisição de implantes baseadas em critérios de qualidade, assegurados por avaliações científicas criteriosas” – pondera a pesquisadora.
Bases para a parceria
As discussões entre o INTO – hospital de referência do Ministério da Saúde e instituição de ensino e áreas de pesquisa – e o INT – que realiza pesquisa e desenvolvimento e presta serviços como ensaios de produtos médico-hospitalares – continuam com a elaboração das bases para um novo acordo de cooperação na área de avaliação e desenvolvimento tecnológico de implantes.
Entre 2005 e 2010, INTO e INT já haviam atuado em parceria na Rede Multicêntrica de Avaliação de Implantes Ortopédicos (Remato), uma iniciativa conjunta do Ministério da Saúde (MS) e do então Ministério da Ciência e Tecnologia (hoje MCTIC), que teve o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia como coordenador geral e o Instituto Nacional de Tecnologia como coordenador técnico, culminando com a inauguração, em 2008, do Laboratório de Avaliação de Artigos Médico-Hospitalares/Implantes, no INT.
“A ideia agora é participarmos conjuntamente dos fóruns como a Anvisa, Inmetro e Abimo para avançarmos no tema da certificação e favorecer o incremento da qualidade dos produtos nacionais” – avalia a engenheira Iêda Caminha.
O ortopedista João Matheus Guimarães reforça que a parceria deve envolver um roteiro para que as pesquisas e ações possam repercutir efetivamente em políticas públicas com efeito para a saúde da população brasileira.
Visita de pesquisadores do INTO ao Centro de Caracterização em Nanotecnologia do INT, em janeiro de 2019.