Projeto do INT com o CTDUT terá planta para testar dutos em escala real
Com as redes de transporte dutoviário em expansão no Brasil, é cada vez mais importante manter os dutos seguros, visto que qualquer vazamento pode representar sérios riscos ambientais e à população. Sendo a corrosão a principal ameaça à integridade destas tubulações por onde circula parte importante da produção de petróleo, gás e derivados, esta tem sido uma área de pesquisa bastante desenvolvida no país.
Uma das soluções mais efetivas para combater a corrosão externa dos dutos é a proteção catódica, que consiste em uma alteração eletroquímica controlada que protege o duto dos efeitos da oxidação. A proteção interna das tubulações por meio desta técnica, no entanto, ainda necessita de mais investigação, especialmente nas áreas das juntas soldadas dos dutos e locais onde há falha do revestimento.
Nesse sentido, as pesquisas sobre a proteção catódica no Brasil ainda deparavam com a falta de plantas específicas para a realização de testes em escala real. Esta limitação deixará de existir com a nova planta de testes que está sendo construída no Centro de Tecnologia de Dutos (CTDUT), em Duque de Caxias, RJ, em projeto realizado pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT). A finalização da montagem da estrutura – uma malha com 864 metros de dutos, dispostos em área de 8,5 mil m2 – e início dos ensaios é prevista ainda para setembro deste ano.
Com uma competência reconhecida em Corrosão e Degradação, o INT já atua há mais de dez anos em parceria com o CTDUT, em projetos que avançaram no desenvolvimento das técnicas nacionais de proteção catódica. A instalação da nova planta em escala real permitirá uma precisão ainda maior no resultado de novas pesquisas. Esse avanço deverá trazer maior efetividade para a proteção dos dutos e economia na manutenção dessas redes, pois todas as melhorias no processo poderão ser feitas ainda nessa construção específica para testes.
– Esta planta terá um impacto importante no resultado das pesquisas, pois realizar testes em escala real é diferente de fazer em laboratório, oferecendo maior confiabilidade. Além disso, a técnica de proteção catódica que estamos utilizando é nova e, portanto, ainda não possui dados de campo, que poderão ser adiantados com o uso dessa nova estrutura de ensaios – comemora a engenheira química Denise Souza de Freitas, chefe da Divisão de Corrosão e Degradação do INT e coordenadora do projeto que culminou com a construção da planta de testes em escala real.
Três projetos em curso
A nova planta de testes é apenas parte do projeto Avaliação em escala real da eficiência de revestimentos aplicados por aspersão térmica para proteção catódica interna de juntas soldadas, que é um dos projetos coordenados pelo INT no âmbito da parceria com o CTDUT. Os três projetos em andamento mobilizam cerca de R$ 17 milhões, com apoio do Cenpes/Petrobras.
O objetivo maior deste primeiro estudo, que também tem parceria com a Escola de Química da UFRJ, é a avaliação em escala real da utilização de novos revestimentos internos para proteção catódica de juntas soldadas em dutos de transporte de fluidos corrosivos, como águas do mar e de origem industrial. Estas juntas são especialmente suscetíveis à corrosão interna, pois não recebem o revestimento original da tubulação. Produzidos em ligas metálicas e pulverizados a quente sobre esses locais, os revestimentos desenvolvidos pelo INT atuam como anodos – eletrodos de polo negativo – que oxidam, ou seja, perdem elétronso para o restante da tubulação. Assim, mantêm o duto com a polaridade positiva (catodo), livrando-o da oxidação.
Detalhe da nova planta de testes em escala real, que agrega dois conjuntos de seis tubulações, totalizando 864 metros de dutos.
Esta tecnologia já teve resultados satisfatórios em ensaios laboratoriais, com análises em bancada. O estudo em escala real, no entanto, oferecerá a oportunidade de adequar este e outros métodos anticorrosivos às operações de campo. Além do teste com uma superfície bem maior, esses estudos vão poder avaliar, por exemplo, o impacto da passagem de “pigs”, que são equipamentos que correm os dutos fazendo sua limpeza interna, e do acúmulo de resíduos conhecidos como “pó preto”, no final da linha.
Os outros dois projetos do INT em parceria com o CTDUT são: Minimização do Impacto Operacional de Partículas Sólidas em Dutos e Estudo de metodologias e técnicas de avaliação dos mecanismos e cinética do descolamento de revestimentos em dutos enterrados.
O primeiro deles visa desenvolver uma metodologia em escala piloto, representativa das condições de campo, para avaliação dos parâmetros e das técnicas de remoção e filtragem de resíduos provenientes da oxidação da parede dos dutos. Com base nesse estudo, poderão ser programadas estratégias e velocidades de remoção de acordo com o produto da corrosão.
O segundo desenvolve procedimentos para avaliação da corrosão e proteção catódica, considerando aspectos como falhas em revestimentos de dutos com proteção catódica intermitente; alcance da proteção catódica em falhas e cinética de descolamento catódico.